Baseado no best-seller de banda desenhada do mesmo nome, Vin Diesel protagoniza Bloodshot na pele de Ray Garrison, um soldado recentemente morto em combate e ressuscitado como o super-humano Bloodshot da empresa RST. Com um exército de nanotecnologia nas suas veias, Ray é uma força imparável – mais forte do que nunca e capaz de se curar instantaneamente. Mas, ao controlar o seu corpo, a empresa controla também a sua mente e as suas memórias. Agora, Ray não sabe o que é real e o que não é, mas está decidido a descobrir a verdade.
Em primeiro lugar, não. Nunca li a banda desenhada, logo não possuía qualquer conhecimento sobre o super-herói Bloodshot. O que sabia era que Jeff Wadlow é o principal responsável pelo argumento e, como bem se sabe, os seus últimos filmes são inacreditavelmente horríveis (Truth or Dare, Fantasy Island). Adicionando Vin Diesel como protagonista e um realizador estreante (David S. F. Wilson), é impossível ter expetativas elevadas para tal filme, não importa o quão bom seja o material de origem. Talvez até me pudesse surpreender e acabar por ser um filme decente…
Não surpreendeu. Pelo menos não pela positiva. Bloodshot é ainda pior do que já antecipava. Acreditava que a ação iria salvar o filme. Não assisti a nenhum trailer, como de costume, mas vi uma imagem aqui e ali do fumo vermelho, bem como um olhar no CGI regenerador. Honestamente, é o aspeto mais desapontante de todo o filme. Simplesmente porque era o único componente que esperava ser, pelo menos, razoável. A “batalha final” tem do pior CGI do século e dura demasiado tempo. Existe uma abundância de shaky-cam, a edição é verdadeiramente terrível por vezes, muitas sequências de ação são quase incompreensíveis e até o slow-motion é usado em excesso.
No entanto, a razão pela qual o filme acaba por falhar redondamente é, mais uma vez, devido ao argumento de Wadlow (que co-escreveu com Eric Heisserer, mas Wadlow é o principal). Como sempre, a sua narrativa é uma trapalhada absoluta. Confusa, com falta de criatividade, cria imensas perguntas lógicas sem resposta e o passado real de Ray Garrison encontra-se vazio de qualquer explicação. O final não só é previsível e formulaico, mas também gera ainda mais perguntas, deixando uma frustração no ar com tantos pontos de enredo sem resposta. David Leitch e Chad Stahelski (ambos têm Deadpool e John Wick nas suas filmografias) deixaram o projeto logo após serem contratados como realizadores… Porque terá sido?!
Os primeiros minutos são provavelmente os melhores de todo o tempo de execução. Quer dizer, excluindo uma cena nada sexy com Vin Diesel e Talulah Riley (Gina Garrison). Absolutamente cringe-worthy. No entanto, o conceito da história é realmente cativante, no mínimo (ou a banda desenhada não teria o sucesso que teve). É um daqueles filmes de ação que poderia facilmente transformar-se numa franchise de sucesso, caso as pessoas envolvidas no projeto fossem mais talentosas. Com isto, faço a transição para outro dos meus problemas principais: Vin Diesel.
Muito raramente critico negativamente o desempenho de um ator. Admito que sou facilmente convencido por qualquer elenco. Se me perguntarem “quem é um ator/atriz que não gostas?”, provavelmente ficaria calado à procura de uma resposta. Dito isto, a prestação de Diesel é tão vazia de emoção que até alguém como eu conseguiu ser afetado pela mesma. Para além de ser uma autêntica pedra durante todo o filme, Diesel tem um hábito estranho de FALAR MUITO ALTO só para diminuir instantaneamente o seu volume de tal forma que se encontra quase a sussurrar. Faz isto consecutivamente e repetidamente em praticamente todos os diálogos.
Não há qualquer cuidado ou preocupação em desenvolver uma única personagem, nem mesmo o próprio protagonista. Todos elas são apenas um estereótipo de outra personagem secundária de filmes de ação genéricos: o programador engraçado, a rapariga bonita que ganha sentimentos pelo herói, o colega de equipa masculino que fica com ciúmes por ver o seu território alfa invadido e, finalmente, o “vilão sem motivações claras que parece um dos bons no início, mas que se sabe quem ele realmente é”… Literalmente, os dois atores mais talentosos (Toby Kebbell e Talulah Riley) são os que têm menos tempo de ecrã.
No final, Bloodshot é ainda pior do que esperava. O argumento confuso, formulaico e logicamente questionável de Jeff Wadlow e Eric Heisserer é o pior aspeto do filme, mas a ação é, sem dúvida, a parte mais dececionante. A “luta final” é uma das piores sequências CGI do século e a ação ao longo do tempo de execução é preenchida com shaky-cam incontrolável, um excesso de slow-motion e edição terrível, tornando a maioria destas cenas incrivelmente difíceis de se seguir.
Vin Diesel mostra tanta emoção como uma pedra e, apesar do resto do elenco ser razoável, as personagens seguem todos os estereótipos alguma vez escritos para um filme de ação. Também não ajuda colocar um realizador estreante no comando, mas David S. F. Wilson está longe de ser o culpado principal. Infelizmente, os poucos bons momentos de ação e um conceito cativante mal conseguem manter o filme a respirar. É uma das piores obras do ano.
Bloodshot pode ser assistido via streaming em serviços como Rakuten ou Google Play.