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American Star é um estudo de personagem guiado por uma auto-reflexão digna de muitos elogios.

Na minha contínua aventura pelas novas estreias de 2024 com pouco ou nenhum conhecimento prévio, deparei-me com American Star. A sempre magnética presença de Ian McShane (John Wick: Chapter 4) no papel principal e a intrigante premissa de um assassino impiedoso a passar por uma jornada introspetiva involuntária capturaram a minha atenção. Estudos de personagens desta natureza, se executados com habilidade, têm o potencial não apenas de envolver o público de forma intensa, mas também de criar alguma ressonância com as audiências a um nível profundamente pessoal. Apesar de alguns problemas, espero sinceramente que este não se torne um daqueles filmes despercebidos de janeiro…

Todos os trabalhos de personagem dependem inerentemente da relação entre o ator e o protagonista. A interpretação de Ian McShane como Wilson é uma extraordinária exibição de subtileza que faz American Star destacar-se das restantes estreias do mês. Cada nuance é cuidadosamente calibrada para permitir que a complexidade moral do personagem se desenrole gradualmente. Quanto mais Wilson aguarda pacientemente pelo seu próximo alvo, mais McShane se sente à vontade com o papel, criando uma aura genuinamente contemplativa que permeia todo o filme.

O que distingue a prestação de McShane é a sua deliberada contenção em mostrar emoções explícitas. Wilson é enigmático, mas estranhamente identificável. American Star atira ao protagonista diversos momentos em que os aspetos mais puros da humanidade se intersetam com o seu caminho. É nestas instâncias que McShane permite que a máscara do seu personagem se quebre, revelando um homem envolvido numa profunda auto-reflexão. A pequena ilha de Fuerteventura torna-se mais do que apenas uma bela paisagem; torna-se um palco metafórico para a viagem transformadora de Wilson. Um encontro casual com uma estranha num bar ou a inocência e ingenuidade de uma criança são colocados contra o passado sombrio de Wilson, servindo como um lembrete importante da natureza multifacetada da humanidade. Os deslumbrantes cenários naturais, capturados com detalhes meticulosos, não só oferecem visuais impressionantes, mas também atuam como testemunhas silenciosas da evolução interna de Wilson.

American Star navega com sucesso pelo caminho já bem trilhado de temas associados a este tipo de estudo de personagem, embora não atravesse realmente novos caminhos. Ainda assim, destaca-se pela exploração subtil do envelhecimento, da contemplação das escolhas de vida e da inevitabilidade da mudança. A trajetória de Wilson reflete a experiência humana universal de aceitar a passagem do tempo, à medida que o título do filme estabelece paralelos entre o seu crescimento e o destino de um antigo e enferrujado navio de guerra encalhado na costa da ilha.

Nora Arnezeder (Le Musk) complementa a performance de McShane com a sua representação de Gloria, uma habitante da ilha cheia de vida e energia. Como uma personagem de espírito livre e extrovertida, Gloria serve como contraponto emocional para Wilson. À medida que as camadas de ambas as personagens são reveladas, as suas dinâmicas acrescentam mais profundidade à narrativa, oferecendo aos espetadores um vislumbre tocante da complexidade destas pessoas bem reais.

O realizador Gonzalo López-Gallego (The Hollow Point) e o diretor de fotografia José David Montero (Apollo 18) oferecem o espaço necessário para o argumento de Nacho Faerna florescer como deveria, criando uma experiência visualmente apelativa e emocionalmente rica. O ritmo propositadamente lento de American Star, acompanhado por takes longos que seguem de perto Wilson através de cada sequência, estabelece o ambiente contemplativo mencionado anteriormente. A banda sonora de Remate (Néboa) aumenta ainda mais o nível de envolvimento do público.

Infelizmente, há alguns problemas significativos. American Star segue uma narrativa bastante previsível, prejudicando as sequências prolongadas de Wilson simplesmente a viver as suas ‘férias’ como qualquer outro ser humano, fazendo com que sejam repetitivas e, acima de tudo, tematicamente redundantes. A duração, lamentavelmente, não justifica todos os seus minutos, resultando numa experiência cativante mas inconsistente.

Outro problema crítico surge na forma de um personagem desnecessário intimamente ligado a Wilson, que acaba por arruinar o potencial de um terceiro ato mais impactante e tematicamente coeso. A conclusão, em vez de culminar numa decisão tensa e impossível refletindo o crescimento moral de Wilson, opta por um atalho em direção a um final por valor de choque, sacrificando um clímax mais pessoal em prol do sensacionalismo. Ainda funciona, mas existe uma conclusão bem mais memorável algures enterrada por este personagem extra que apenas adiciona informações secundárias e muito menos relevantes sobre o nosso protagonista.

VEREDITO

American Star é um estudo de personagem guiado por uma auto-reflexão digna de muitos elogios. Impulsionado pela prestação brilhantemente contida de Ian McShane, uma narrativa tematicamente rica e uma localização verdadeiramente deslumbrante, a história contemplativa contribui para uma experiência envolvente sobre aceitar as nossas ações na vida. Apesar de alguns problemas previsíveis e um personagem desnecessário que rouba ao filme um final mais adequado e emocionalmente impactante, a equipa técnica e o elenco respetivo conseguem, em última instância, provocar a introspeção das complexidades morais da natureza humana e da inevitabilidade da mudança.

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