Se a maioria das campanhas de Call of Duty (mesmo as piorzinhas), se podem comparar a uma montanha-russa num parque temático, a de Call of Duty: Modern Warfare 3 não passa de um simples passeio de TukTuk.
Ao contrário da maioria dos jogadores de Call of Duty, as minhas atenções em relação ao jogo gravitam em torno do seu modo de história. Um modo que tem vindo a ser cada vez mais uma fração do grande pacote anual da série, que este ano surge ainda mais reduzida e com menos história. Não vos vou mentir e dizer que é um ótimo modo ou um modo obrigatório. Se há vários anos que a sua campanha apenas não justifica a compra do jogo, Call of Duty: Modern Warfare 3 é, desde há muito, o que menos faz por isso.
Chamar modo de história à campanha de Call of Duty: Modern Warfare 3 não reflete a sua verdadeira natureza. Há, de facto, um fio narrativo, um conjunto de cinemáticas de altíssima produção, onde as personagens dialogam com intensidade, cheios de jargões técnicos e militares, que pouco fazem para tornar os riscos e as ameaças presentes no ecrã interessantes. Há personagens de nomes familiares para quem jogou os Modern Warfare originais e há, até, uma missão geral que serve de pilar para os nossos objetivos. Mas nada disto importa quando a sua narrativa é fragmentada e desinteressante.
Makarov está de regresso e à solta. E cabe aos jogadores, num conjunto sucessivo de missões, cumprir objetivos lineares que desbloqueiam mais uma cinemática de diálogos incompreensíveis e mais pistas sobre a localização do terrorista russo, que simplesmente não se deixa apanhar. Terminando esta aventura com um cliffhanger tão anti-climático que nos faz questionar “Porquê? Porquê isto tudo?”
Se a maioria das campanhas de Call of Duty (mesmo as piorzinhas), se podem comparar a uma montanha-russa num parque temático, a de Call of Duty: Modern Warfare 3 não passa de um simples passeio de TukTuk. Mas não quero dizer com isto que seja um mau passeio de TukTuk, até porque esta campanha ainda conta com alguns aspetos positivos, mas nunca redentores.
Como já é tradição, este modo é um show-off técnico e mecânico. Por um lado, a Activision mostra as forças do motor de jogo atualizado e da sua flexibilidade para ambientes mais abertos e o potencial para criar cenários cinemáticos imersivos, como as sequências de assalto coreografadas, onde os nossos colegas e NPCs apresentam animações realistas, fazendo-nos sentir dentro de um thriller de ação. Por outro lado, temos a introdução à jogabilidade base do que vamos encontrar nos modos multi-jogador, o tipo de armas, gadgets e habilidades. No fundo, um tutorial glorificado.
Não posso falar muito sobre como é que a jogabilidade se traduz nos modos multi-jogador, até porque não jogo competitivamente nem tenho a sensibilidade para jogar sobre o stress de trabalhar para o melhor desempenho individual ou de equipa, mas posso dizer que Call of Duty: Modern Warfare 3 joga-se bem. Usar o seu arsenal de armas é divertido e experimentar com as diferentes armas é uma descoberta incentivante, porque todas elas operam e reagem de formas diferentes, algo que se faz sentir ainda mais na PlayStation 5 graças ao DualSense (ou até no PlayStation Portal onde joguei uma grande porção desta campanha).
Visualmente, Call of Duty: Modern Warfare 3 também é fantástico, com materiais e iluminação realistas, e cenários bem apetrechados e ricos, com toda esta estética militar e foto realista muito bem trabalhada. De gabar também são os “novos” mapas abertos. Ao longo da campanha, cerca de metade das nossas missões são mais abertas, uma novidade para este ano que, apesar de muito interessante, na execução deixam muito a desejar.
Basicamente, estas missões são baseadas em cenários que poderiam ser mapas de multi-jogador, com uma progressão muito semelhante ao que Halo introduziu em 2001 e com objetivos ao estilo de jogos modernos baseados em ação furtiva. São, no fundo, missões de infiltração, com inimigos bem posicionados e diferentes pontos de interesse, que nos dão a ilusão de podermos passar a missão “como queremos”. É um ritmo completamente diferente do que a série sempre fez, mas reminiscente de algumas das melhores missões do seu legado.
Há uma atmosfera mais tensa, uma ausência de banda sonora e uma legítima vontade de explorar estes cenários que dão até a Call of Duty: Modern Warfare 3 alguma qualidade de roguelike, pelas caixas espalhadas que escondem armas melhoradas que, uma vez desbloqueadas, permitem criar loadouts para avançar ou até repetir as missões com um arsenal melhorado.
Talvez esteja na minoria, mas gostei bastante destas missões. Conhecer os mapas e tentar andar nas sombras para não ser descoberto deu-me gozo e, acima de tudo, fez com que a campanha durasse bem mais do que estava à espera. Ao contrário do que a Internet apregoou, Call of Duty: Modern Warfare 3 não me durou apenas 4 horas, durou bem mais, dando-me a mesma sensação de longevidade de qualquer outra campanha da série.
Mas nem tudo são rosas. Apesar de ter encontrado diversão, também encontrei frustração na forma como o jogo trabalha a inteligência artificial dos inimigos e todos os elementos de ação furtiva. Resumidamente, a ação furtiva deste jogo é tão má, como é quase inexistente. O que é um pouco contranatura aos objetivos propostos pelo jogo e, até, ao tom das missões.
Os cenários não estão propriamente desenhados para que o jogador opere nas sombras e fora do campo de visão dos inimigos. E estes, assim que nos apanham, muitas das vezes (não sempre) comunicam telepaticamente aos restantes elementos. Poucas são as oportunidades de fazer takedowns de forma silenciosa e o arsenal proposto ao nosso dispor, tirando os silenciadores, é inútil para este propósito. A cereja no topo do bolo é que esta dificuldade de nos escondermos contrasta com a facilidade com que os inimigos se alinham à nossa frente como alvos prontos a serem abatidos. Mal o menos, assim o jogo faz-nos sentir super-poderosos.
Ainda assim, como já referi, diverti-me. Até porque estas missões não são uma constante. Ao contrário do que temia, não é uma campanha composta por apenas 3 ou 4 missões abertas. Há, de facto, uma seleção de 14 missões, de longevidade variável, com uma boa diversidade de localizações e de objetivos distintos, tal como qualquer jogo deste género.
Claro que todos estes elogios caem por terra facilmente graças à lineariedade do jogo e à sua narrativa desinteressante, bem como uma desconcertante falta de sequências verdadeiramente emocionantes. Longe vão os tempos dos níveis operáticos onde jogabilidade, narrativa e setpieces davam as mãos, como Modern Warfare 2 (2009) tão bem conseguiu de missão para missão.
A campanha de Call of Duty: Modern Warfare 3 não é tão terrivelmente má como esperava. Mas se calhar são apenas as minhas baixas expectativas baixas a falar mais alto. Há, no entanto, problemas factuais e desinteressantes que comprovam o quão “produto” e conteúdo é esta porção da experiência. E é pena, porque as bases e o potencial de criar um excelente blockbuster narrativo dentro deste universo é gigante.
Cópia para análise (PlayStation 5) cedida pela PlayStation Portugal.