Call of Duty: Black Ops 6 (Campanha)

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Após uma das campanhas mais insignificantes da saga no ano passado, Call of Duty regressa em grande com Black Ops 6, oferecendo uma campanha surpreendente, diversificada e completa, que reacende o entusiasmo pela série.

Sem espreitar a Wikipédia, não sei quantos jogos Call of Duty já somámos. Sei que já são mais de 20 e que, na saga principal, só não joguei uma das campanhas – e conto pelos dedos das mãos aqueles que nos trouxeram campanhas excecionais ou terríveis.

A campanha do ano passado, Call of Duty: Modern Warfare III, caiu nesse segundo grupo, provavelmente a mais vazia, incompleta, insignificante e pequena de que tenho memória. Meia dúzia de horas de nada, vazia de emoções, com personagens de cartão e falta de visão, num pedaço de jogo que se fazia sentir como uma expansão mal-amanhada para o jogo anterior, Modern Warfare II. Foi a receita perfeita para mostrar o estado da franquia no que toca a campanhas, que volta e meia conta com uma enquanto plataforma de treino para aquilo para o qual os jogadores realmente compram os jogos da franquia: o multijogador.

Modern Warfare III foi mau até para os padrões e expectativas mais baixas, razão pela qual entrei em Call of Duty: Black Ops 6 sem grande vontade, dessensibilizado e sem grandes expectativas. E ainda bem, pois a Raven Software não só conseguiu surpreender-me, como entregou uma das mais diversas e divertidas campanhas da saga, reminiscente dos pontos altos de Modern Warfare 2 (o original) e de um dos meus outros favoritos, Infinite Warfare.

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Call of Duty: Black Ops 6 (Activision/Raven Software)

A campanha de Call of Duty: Black Ops 6 é fantástica e, apesar do “6” no seu nome, não necessita de grande conhecimento prévio do passado (ou futuro) da sub-saga. Há caras familiares de outros títulos e personagens introduzidas em Cold War, jogo ao qual Black Ops 6 dá seguimento direto, ainda que, canonicamente, haja elementos de Black Ops 2 pelo meio. Mais uma vez, é confuso, mas não importa. Tudo o que precisam de saber é introduzido logo no início do jogo: estamos nos anos 90, Bill Clinton está prestes a ser presidente e Sadam Hussein é a grande ameaça ao status quo global após o término da Guerra Fria. Estes detalhes são, no entanto, uma decoração e fachada para um thriller político de espionagem e de corridas contra o tempo para travar um “apocalipse”. Cenários fictícios, distantes do tom de “simulador de guerra” e de documentário histórico com que outras apostas da saga tão aborrecidamente tentam extrair espetáculo e emoções.

Com uma longevidade sólida e surpreendentemente longa para uma campanha moderna de Call of Duty – com cerca de 15-16 horas de duração dependendo do nível de colecionismo e de dificuldade -, Black Ops 6 parece ter a duração certa. Não se arrasta, nem nos deixa insatisfeitos, muito graças a uma narrativa de reviravoltas (relativamente previsíveis), personagens interessantes de conhecer e de interagir e pela variedade de missões, com algumas delas a oferecerem objetivos de jogo e de progressão únicas, como minijogos num “best of” da saga.

Para além das tradicionais missões quase on-rails ou de corridor-shooter, em que perseguimos vilões e participamos em sequências emocionantes com quick-time events pelo meio, há muito mais para fazer, ao ponto de dar a estes momentos mais genéricos aquele peso e substância emocional suficientes para nos envolver com o que está a acontecer no ecrã.

Bons exemplos disso são, por exemplo, a exploração da mansão na Bulgária, onde temos instalado o nosso quartel-general e que podemos explorar entre missões. É uma área em constante evolução visual e também narrativa, contendo trechos de história e de construção do mundo, espalhados em diferentes divisões sob a forma de textos e gravações. É, também, um espaço onde podemos interagir com os restantes personagens – Woods, Adler, Sev, Felix e Troy –, conhecendo o seu passado e as motivações que os juntaram, continuando o que Cold War já tinha introduzido. De destacar também a existência de pequenos puzzles ambientais escondidos na mansão que ocupam o nosso tempo entre as pausas de cada missão.

A variedade também se encontra de missão para missão, como a exploração de um deserto no Iraque, onde Black Ops 6 abraça o modelo de mundo aberto, dando-nos a opção de limpar o mapa de acampamentos de inimigos e explorar recursos antes de destruirmos os três lança-mísseis, necessários para avançar na história. Ou uma missão num complexo científico, onde o jogo se transforma numa experiência de horror com puzzles ambientais e até boss-fights, que vão colocar à prova a ansiedade dos jogadores. E até uma operação de assalto a um casino, onde jogamos com praticamente todo o elenco de personagens, cada uma com objetivos e modos de jogo diferentes. É fenomenal.

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Call of Duty: Black Ops 6 (Activision/Raven Software)

Esta variedade não só dá a Black Ops 6 um ritmo satisfatório na progressão, como torna o nosso envolvimento na história muito mais interessante e emocionante. Vanguard e WWII, dois jogos que tentaram recuperar a magia da saga ao voltar à Segunda Grande Guerra, parecem, em comparação, meras montanhas-russas de um parque temático despidas de qualquer emoção, algo que não deviam ser tendo em conta os temas e o teor narrativo das suas propostas. Apesar do espetáculo fictício, Black Ops 6 consegue ser mais “real”.

A história não vai ganhar nenhum prémio digno de mencionar e, provavelmente, nem será a melhor já apresentada num Call of Duty, mas, pelas razões já mencionadas, acaba por ser bem-apresentada e utilizada. Para além disso, Black Ops 6 não comete o pecado capital de nos deixar pendurados com um falso final ou um convite para continuar a história nos modos multijogador. Não. Tem um início, um meio e um fim, como qualquer boa história deve ter.

Mecânica e visualmente, não há muito a apontar a Black Ops 6. A receita já foi mais do que aprimorada e quem costuma jogar, ou já jogou qualquer outro jogo da franquia nesta geração, vai sentir-se em casa e reconhecer que está, de facto, a jogar um Call of Duty. Mas não quer dizer que não haja novidades, particularmente a nível mecânico, onde contamos com uma mobilidade mais ágil, com destaque para a possibilidade de nos lançarmos de um abrigo para outro pelo ar, como se fôssemos o Max Payne ou um protagonista de um filme de ação de John Woo, ao mesmo tempo que disparamos nos inimigos. Esta ação é altamente satisfatória e emocionante, mas também limitada às oportunidades em que a podemos usar, dada a diversidade de cenários e tipos de combate que enfrentamos. Por exemplo, entradas destas não serão solução em momentos de ação furtiva, frente a inimigos com escudo ou em fugas com hordas de inimigos a perseguirem-nos. Pequenos exemplos da constante transformação rítmica do jogo, que nos obrigam a abordagens constantemente diferentes.

A campanha de Call of Duty: Black Ops 6 acabou por surpreender-me, mesmo sem grandes expectativas. É um sinal de que a popular franquia ainda tem espaço para crescer e oferecer bom entretenimento variado, sem necessidade de fazer propaganda militar ou de cair no campo sério e pesado que, por exemplo, o reboot de Modern Warfare trouxe para cima da mesa. Um pouco de loucura pode ser mais divertido e, a julgar por esta experiência, criativo. Resta-nos agora esperar que esta energia se mantenha nas futuras campanhas de uma saga que certamente nunca terminará.

Recomendado - Echo Boomer

Acesso ao jogo via Xbox Game Pass Ultimate fornecido pela Xbox Portugal.

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