Quando se perdem vidas, quando tantos tiveram de recomeçar as suas, é fácil esquecermo-nos das centenas de milhares de animais – números do Ministério da Agricultura – que se perderam nos incêndios que assolaram o país em 2017. No entanto, eles são essenciais para a biodiversidade e para, que no fundo, a vida possa renascer das cinzas.
Num ano “normal”, o CERAS – Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens da Quercus – Núcleo de Castelo Branco recebe à volta de 200 animais. No ano passado, chegaram-lhe 370. Este foi o motivo pelo qual o Boom Karuna Project – projeto de responsabilidade social do Boom Festival, lançado no rescaldo da edição de 2014 – decidiu apoiar financeiramente o CERAS.
Quando há dois anos foram divulgadas as instituições apoiadas com base no projeto, Artur Mendes, da organização do festival bienal realizado na margem direita da Albufeira de Idanha-a-Nova, afirmava que o Boom Karuna (“compaixão” em sânscrito) Project era “mais um passo em frente na construção de um mundo menos díspar socialmente e um projeto para manter [na edição de 2016 e] em edições futuras”. O objetivo é apoiar entidades ou projetos locais que, por estarem no interior do país, têm menos facilidade em se financiarem.
Para o CERAS, o hospital de fauna selvagem da Quercus, em Castelo Branco, a doação do Boom Festival, em conjunto com outras recebidas no final do verão do ano passado, permitiram a aquisição de equipamentos de terapêutica veterinária com vista a melhorar o desempenho da enfermaria e algumas obras de ampliação nas instalações exteriores, nomeadamente construção de mais túneis de voo e mudas.
“Estas intervenções permitiram-nos aumentar e melhorar a capacidade de resposta do centro, o que era prioritário, tendo em conta o aumento do fluxo de animais feridos e debilitados, como consequência dos incêndios e da seca do verão passado. Apoios como este permitem que continuemos a melhorar o nosso trabalho e um dos indicadores disso mesmo é a taxa de recuperação que temos atualmente de cerca de 60% de animais recuperados e devolvidos à natureza”, explica Samuel Infante, da Quercus.
O CERAS recebe anualmente animais de mais de 70 espécies diferentes, na sua maioria aves como cegonhas, águias, abutres, corujas, mas também mamíferos como lontras, texugos, morcegos e, em menor número, répteis e anfíbios. A sua principal missão é recuperar animais selvagens debilitados e devolvê-los ao meio natural. É a segunda vez que é apoiado no âmbito do Boom Karuna Project.