Arcade Fire: Eles deram tudo em duas horas de concerto

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Foi em 2005, no festival Paredes de Coura, que Portugal acolheu pela primeira vez aquela que viria a ser uma das maiores bandas do mundo. Na altura, muito se escreveu sobre os Arcade Fire, numa atuação que perdura na memória dos festivaleiros do festival minhoto. Fazia-se história.

Desde esse ano até à passada segunda-feira, dia 23 de abril, muita coisa mudou. Os canadianos lançaram, além de Funeral, mais quatro álbuns – Neon Bible, The Suburbs, Reflektor e Everything Now -, amadureceram e mudaram o seu estilo. Maiores do que nunca, esta foi a estreia da banda em nome próprio no nosso país após várias presenças em festivais de verão. Até custa a acreditar.

O mote desta passagem por Portugal está, claro, relacionada com o mais recente trabalho de estúdio, Everything Now, álbum pouco consensual entre fãs e crítica especializada e que muitos consideram o pior trabalho da banda canadiana até à data.

Embora não seja um álbum coeso no seu todo, foi precisamente com a faixa-título que o concerto iniciou. Antes da entrada triunfal, a banda surgiu por uma das entradas do Campo Pequeno – que se revelou bem pequeno para tanta euforia, diga-se – e foi anunciada tal como se se tratasse de um combate de boxe. Sem derrotas e sendo campeões de pesos-pesados, subiram ao ringue e começaram a dar espetáculo.

Era um concerto ganho à partida. Afinal, os bilhetes esgotaram seis meses antes, embora a organização tivesse colocado à venda uns quantos na semana anterior para a plateia. E se “Everything Now” deu início à festa, “Rebellion (Lies)” foi uma autêntica loucura.

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João Pedro Padinha / @joaopadinha (instagram) // Sony Music Portugal / @sonymusicpt (instagram)

Sou daqueles que foi a quase todos os concertos dos canadianos cá em Portugal, tendo apenas falhado o tal mítico concerto em Paredes de Coura. A última vez que passaram por Portugal, na edição de 2016 do NOS Alive, os Arcade Fire trouxeram o mesmo Reflektor que levaram em 2014 ao Rock in Rio Lisboa e o seu tom mais virado para o discosound, o que transformou esses concertos em autênticas festas. Esta noite, apesar de não existirem os cabeçudos desse álbum e essa aura tão dançavel, a noite foi deles, e só deles, numa comunhão como poucas vezes vi em tantos concertos que já presenciei.

Apesar do lançamento de Everything Now, o concerto não foi baseado no álbum – e ainda bem – tendo resultado mais como uma espécie de best of da carreira dos Arcade Fire. A banda, aliás, sabe-lo, e parece não ter ficado muito satisfeita pela incompreensão dos fãs e crítica especializada em relação ao último álbum. Terá sido uma brincadeira da banda em lançar um álbum de qualidade questionável devido ao estatuto que alcançaram? Não sabemos, mas, em caso afirmativo, foi uma manobra muito arriscada, e muitos asseguraram que seria o fim de uma carreira de mais de 15 anos. Em Portugal, felizmente, não foi o caso, e o Campo Pequeno revelou-se pequeno, passo a redundância, para tantos fãs sedentos de música.

Depois dos dois temas iniciais, depressa percebeu-se que andaríamos a passear de álbum de álbum. Seguia-se “Here Comes the Night Time” – bem menos efusiva que num concerto anterior -, “Haiti”, que daria a Régine Chassagne – que mais parece uma eterna jovem numa performance altamente teatral – o primeiro momento para brilhar, e um incrível “No Cars Go”, um dos temas mais fortes do álbum Neon Bible, cantado a plenos pulmões.

Após cinco temas fortíssimos, os ânimos acalmaram com “Electric Blue” e “Put Your Money on Me”, que, apesar de já serem sobejamente conhecidos do público, são faixas dispensáveis, tanto ao vivo como em álbum.

Ouvimos “It’s Never Over (Oh Orpheus)” com Régine num palco improvisado e montado junto às bancadas, deliciámo-nos com “Neighborhood #2 (Laika)” e ficámos quase roucos com “The Suburbs” e a mais rockeira “Ready to Start”. O público ajudava, cantava e continuava a cantar após terminadas as músicas.

Já falamos de Régine, mas o que dizer do seu marido Win Butler? O vocalista dos Arcade Fire continua com a voz no ponto e nota-se que fica cada vez mais desinibido em palco. Já o seu irmão, Will Butler, continua um completo doido, no bom sentido da palavra, em palco: ele salta, dança, canta, anda de um lado para o outro. Não para quieto.

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João Pedro Padinha / @joaopadinha (instagram) // Sony Music Portugal / @sonymusicpt (instagram)

Não só estas três figuras, mas todos os elementos da banda pareciam estar a ter o momento das suas vidas, ali, naquele palco em 360 graus que foi rodando por todo o Campo Pequeno. A alegria era genuína e foi retribuída com paixão por parte do público português. Afinal, não são todos que “têm a sorte de ter os seus amigos ali consigo”, como referiu às tantas Win Butler.

“Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, incrível tema de The Suburbs, deu mais um momento de destaque a Régine e “Reflektor” e “Afterlife” deram-nos o melhor do quarto álbum de estúdio dos Arcade Fire.

Pouco depois seria um breve adeus para um curto encore. Ninguém queria sair dali, mas quando chega a baladona “Wake Up”, que mete todos a cantar uns “ooohs” quase infinitos, já sabemos que o concerto vai acabar por ali. Mas a festa? Nem por isso.

Assim que saíram do palco, e num momento de improviso – pelo menos aos olhos dos presentes – a banda saiu por onde entrou e, no caminho por entre a plateia, foi improvisando uma versão de “Rebel Rebel”, do malogrado David Bowie. Se lá dentro começava a debandada, cá fora várias centenas deram de caras com a banda a tocar em plena rua, num momento eufórico e de simplicidade que é raro assistirmos.

Os Arcade Fire podem já não ser aquela banda simples que outrora conhecemos. Eles evoluíram, também no próprio conceito de espetáculo, e deram aqui um dos melhores concertos que o Campo Pequeno já recebeu. E foi, seguramente, o melhor concerto que já deram em Portugal.


 

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