Quem conhece a marca Razer, sabe que é responsável por criar periféricos gaming que fazem as delícias dos jogadores. Desde ratos a teclados, passando por auscultadores, comandos para consolas e portáteis, a Razer vem deixando a sua marca no mercado.
Com os videojogos a ganharem terreno nos bolsos dos jogadores, e uma vez que a Razer é uma marca dedicada a este tipo de utilizadores, porque não criar um smartphone focado aos jogos móveis que, ao mesmo tempo, se destaca dos restantes dispositivos do mercado?
Foi certamente esta a resposta lançada pelos responsáveis da empresa, culminando no lançamento do Razer Phone, o primeiro smartphone da empresa.
Anunciado em novembro de 2017 com pompa e circunstância após vários meses de rumores e especulações, o equipamento chegou até nós no passado mês de maio para três semanas de uso intensivo. E afinal, como é que se comporta esta besta do gaming mobile?
Um design imponente e sólido
Antes de falar no design em si, quero deixar umas breves palavras para o unboxing. O Razer Phone vem numa caixa lindíssima, trazendo lá dentro uma carta que fala um pouco sobre o smartphone e as ambições da empresa. Depois de tirarmos o equipamento da caixa, reparamos que, no compartimento inferior, existem cinco caixas diferentes, cada uma com um acessório específico do smartphone. Não pensem que a caixa do Razer Phone é simples como as outras. É grande e vem em formato quadrado. A Razer esmerou-se na apresentação.
No que toca ao smartphone em si, nota-se que é um equipamento com uma qualidade de construção acima da média. É todo feito em metal, não é dos mais leves que me passaram pela mão e assemelha-se a um bloco monolítico, fazendo-me lembrar o aspecto de antigos Sony Xperia, sendo algo que, devido a estes motivos, transparece segurança e confiança ao utilizador. E como as molduras são consideráveis, aqui não há espaço para os ecrãs modernos de cantos redondos ou formatos estranhos. É um ecrã puramente 16:9. Assim aproveita o espaço em volta para nos presentear com colunas na parte frontal, em cima e em baixo, o que lhe confere um som poderosíssimo. Mas já lá chego.
Ao ter este formato quasi-industrial, há a desvantagem de (também no seu corpo) não ostentar cantos arredondados, tornando mais difícil colocá-lo em alguns locais que não foram desenhados para smartphones com este formato; por outro lado, ao não ter o formato de dispositivos mais atuais, acaba por não ter a traseira escorregadia, o que pode ser especialmente útil para aqueles jogadores “mãos de manteiga”. Apesar de dar a ideia de ser muito resistente a quedas, não é recomendado que o deixem cair de propósito.
Outro ponto interessante é que aqui não temos sensor de impressões digitais nem na traseira, nem na base do smartphone, nem tão pouco no ecrã. O sensor está localizado num botão da lateral direita e, ainda que já nos pareça estranho esta localização do sensor, a verdade é que acaba por tornar o smartphone em si mais suave, sem relevos que se destaquem na frente ou traseira do dispositivo. E funciona muito bem, sem falhas, sendo muito rápido a desbloquear.
E porque estamos a falar da Razer, há um ponto que é necessário realçar. Ao contrário da sua impressão digital de colocar efeitos visuais nos seus dispositivos, o Razer Phone não inclui nenhum. Assim, temos o seu logótipo na traseira, mas sem efeitos visuais.
A janela do entretenimento
O ecrã é, sem dúvida alguma, o ponto forte deste equipamento. Desenvolvido pela Sharp, temos aqui um painel IGZO IPS LCD de 5,7 polegadas. Sim, aqui vamos mesmo encontrar um ecrã de tecnologia LCD, o que significa que o brilho não será igual a um Samsung S9, a um LG V30 ou a um Huawei P20 Pro. Confesso que em situações de forte incidência solar pode ser algo complicado usar o Razer Phone, mas, com algum cuidado, não deverão ter problemas.
De resto, a resolução de 2560×1440 mostra bons detalhes no ecrã, com cores vivas e saturantes, não dando a sensação de que parece algo artificial. Claro, a experiência não é igual a um ecrã OLED, até porque os pretos não são verdadeiros, mas, em termos gerais, não deixa a desejar.
Mas se há algo onde o Razer Phone é rei e senhor é na taxa de atualização de 120Hz, sendo o primeiro smartphone a possuir esta refresh rate e a tecnologia Ultramotion. Na prática, isto significa que o ecrã é capaz de arranjar uma fluidez de imagens sem precedentes, não só nos jogos, para onde este equipamento é talhado, mas na própria utilização do sistema em si.
Sim, é fácil ficar impressionado com a fluidez de todo o sistema, pois nunca ninguém viu nada assim num smartphone. O efeito visual dado pelos 120Hz dá a impressão de que tudo se move rápido no Android, mas sem parecer mal, pelo que dei por mim a passar por vários menus e a querer experimentar diversas aplicações para ver como tudo funcionava.
A ajudar nesta taxa de atualização de 120Hz está a tecnologia Ultramotion, que lembra o G-Sync ou o Freesync, mas adaptados a um dispositivo móvel, e que faz com que não existem quebras de desempenho. Tudo funciona sem quaisquer problemas e como é suposto, exceto de uma ou outra aplicação, se bem que isso depende mais de uma otimização de software do que de limitação de hardware.
Contudo, fica o alerta de que o efeito dos 120Hz é clamoroso e deixa qualquer um apaixonado, mas consome imensa bateria, pelo que existe sempre a possibilidade de reduzir essa taxa para ganhar autonomia. Basta irem às definições e mudarem o valor. É muito fácil.
Uma verdadeira consola de bolso
Por ser um equipamento de novembro do ano passado, o Razer Phone sofre por não se manter atualizado na mais recente versão do processador da Snapdragon, o 845, mas sim o topo de gama do ano passado, o 835. Ainda assim, isto pouca diferença faria em termos de desempenho, uma vez que nunca senti nenhum arrasto no Razer provocado pelo hardware. Mas seria interessante ver uma versão do Razer Phone com este novo processador, principalmente porque poderia ajudar na gestão de bateria.
Apesar deste pequeno atraso, o smartphone tem outro trunfo, 8GB de RAM, que garantem um sistema sem quaisquer quebras. Mesmo que este seja um smartphone para jogos, os 8GB de RAM acabam por estar acima de qualquer necessidade corrente. Ou seja, o Razer Phone pode ser não só uma compra indicada para um nicho específico de utilizadores, como para quem quer um dispositivo que provavelmente irá durar muito tempo.
É nos jogos onde o Razer Phone realmente brilha? O dispositivo não só está equipado para o melhor desempenho em aplicações pesadas, como o ecrã permite uma fluidez não encontrada em mais nenhum dispositivo móvel.
Jogos como o Injustice 2, Tekken Mobile, Final Fantasy XV, PUBG Mobile, Asphalt 8 ou até o novo Dragon Ball Legends, correm todos sem compromissos. O desempenho no geral, de jogo para jogo, é tão bom qu,e se for encontrado algum solavanco num jogo, é mais fácil questionar a optimização do mesmo do que do dispositivo. Ainda assim, os jogos mantém-se na sua maioria a 60-40fps, sendo o ingrediente secreto os 120Hz com o Ultramotion que suavizam eventuais flutuações, sem entraves.
O Razer Phone também se mostra muito competente com multitasking pesado. Mesmo com aplicações de fundo e um jogo ou outro a correr, o Razer Phone não aquece, uma vez que tem um sistema de arrefecimento que usa dissipadores de calor para que não fique desconfortável ao usar mesmo que aqueça alguns graus.
Vai uma fotografia? Talvez não
Fica já dito: se pretendem utilizar o Razer Phone para fotografias, então talvez devam pensar em adquirir outro smartphone. Não é o pior dispositivo para fotos que já experimentei, longe disso, mas é apenas razoável, não estando ao nível dos topos de gama atuais e acabando por se destacar pela negativa.
Na traseira, o Razer Phone conta com uma câmara dupla de 12MP – um sensor de 12MP com abertura de f/1.75 e outro sensor de 12MP com abertura de f/2.6, sendo que o primeiro serve para fotos mais normais e o segundo para quando necessitamos de usar o zoom ótico.
Em termos de resultados, os mesmos não são dignos do equipamento em si. As fotos não são tão formidáveis como podíamos esperar. São apenas razoáveis. O disparo é lento, os detalhes não são muito visíveis e, regra geral, há bastante grão nas fotos, pelo que o resultado final é desapontante.
Claro, servirá para uma foto ocasional, principalmente em ambientes com muita luz, porque de noite os resultados vão ficar sempre aquém do esperado, ainda que tenhamos aqui um sensor duplo.
Mas o que é ainda mais criticável é, sem dúvida, a aplicação da câmara que vem integrada neste Android. Desenhada pela Razer, a aplicação é limitadíssima e simples, não dando quaisquer opções de personalização da foto. Só dá para tirar a foto e ver o resultado.
Claro, esta questão pode ser resolvida recorrendo a aplicações de terceiros, mas é caricato encontrarmos soluções nativas bem mais completas e interessantes mesmo em dispositivos de média-baixa gama quando comparados com a aplicação do Razer Phone.
Durante a minha experiência, o Razer Phone chegou a receber a atualização para o Android 8.0 Oreo, mas isso não foi suficiente para melhorar a qualidade das fotos.
Para vídeos, podemos gravar a 4k 30fps, mas também não trás estabilizador ótico de imagem, pelo que as gravações não ficarão famosas.
Já a câmara frontal é de 8MP com abertura de f/2.0, limitada à captação de imagens e vídeos em Full HD. Nem desilude para o que se pode esperar de uma câmara de selfies, conseguindo resultados satisfatórios.
Surround de bolso? Sim, é possível
Lembram-se de ter falado de o sensor de impressões digitais estar colocado na lateral direita do dispositivo? Ora, isto deu espaço para que os engenheiros da Razer fossem criativos, optando, neste caso, por apresentar um smartphone com colunas estéreo Dolby Atmos em cima e em baixo. E o que é que me lembrei logo? Usar Netflix em 4K e HDR – a única aplicação que suporta esta tecnologia (funcionalidades também altamente promovidas pela Razer).
A experiência é soberba. O som é encorpado, envolvente e muito detalhado. Escutar o som poderoso debitado pelas colunas ao mesmo tempo que vemos um vídeo em altíssima qualidade e com HDR ativo é verdadeiramente incrível.
Claro, não convém meter o volume em níveis absurdos, até porque se começa a notar alguma distorção, pelo que é recomendável deixar o volume em nível médio. Ouve-se perfeitamente e a qualidade é clara como a água, embora não seja, lá está, à prova de água.
O Razer Phone é também o primeiro dispositivo móvel do mercado com certificação da THX, o que faz com o som saia ainda mais claro e com boa intensidade. Infelizmente, há aqui um ponto negativo: não existe entrada jack 3.5mm para auscultadores, pelo que teremos de ligar os nossos auscultadores/auriculares no mesmo local onde ligamos o carregador. Não fiquei muito agradado com isto, confesso, mas pelo menos a Razer teve a discernidade de incluir um adaptador para os nossos auriculares/auscultadores.
No que toca à autonomia, o Razer Phone vem equipado com uma bateria de 4000mAh, grande o suficiente para um dia de uso intensivo. Bem, para isto não podemos ser demasiado exigentes, ou seja, se passarmos o dia a jogar, a ver vídeos e nas redes sociais, é bem provável que a bateria fique descarregada em cerca de cinco horas. Para um utilizador que usa o smartphone de forma moderada, a bateria irá chegar para um dia de uso normal.
Não são valores impressionantes e bem distantes de alguns equipamentos que já testei, mas a “culpa” disto também está no ecrã com taxa de atualização de 120Hz, que exige mais esforço da bateria.
Felizmente o Razer Phone suporta Quick Charge 4, pelo que em cerca de hora e meia ficará totalmente carregado. Novamente, não é dos mais rápidos que testei nesta área.
Observações adicionais
Umas breves palavras em relação à ligação à Internet e ao próprio Android em si. Tive alguns problemas em ligar-me a algumas redes Wi-Fi aquando da utilização do Razer Phone. Já a ligação via dados móveis deixava algo a desejar na velocidade, havendo vezes em que a ligação demorava bastante tempo a carregar um conteúdo, ou chegando a não carregar, de todo.
Quanto ao sistema Android, quem optar por adquirir o Razer Phone irá reparar que o mesmo vem com uma máscara feita pela própria Razer e com o Nova Launcher, que permite personalizar a apresentação do SO.
De resto, a versão apresentada é bastante semelhante à stock Android, o que é ótimo para quem não gosta de um sistema com funcionalidades que não vai utilizar ou bloatware desnecessário. Destaque ainda para a função “Game Booster”, que ajusta o desempenho consoante a necessidade do momento.
No final de tudo, percebe-se que o Razer Phone é uma boa estreia da marca neste segmento. É o smartphone ideal para jogar, sem dúvida, sendo este o seu principal foco. Também é recomendado para ouvir músicas ou ver aquelas séries da Netflix com um bom par de auscultadores, mas infelizmente requer um investimento demasiado alto para o efeito (749€).
O Razer Phone conta com um design pouco ergonómico, uma bateria que não é fantástica e uma câmara que deixa muito a desejar, pelo que apenas será indicado para aquele jogador mais hardcore e que ter o melhor dispositivo do mercado para gaming.