Um mundo de papel.
O verão viu a chegada de mais um jogo de Super Mario à Nintendo Switch. Neste caso, o spin-off Paper Mario, uma série passada numa versão alternativa ao mundo que conhecemos de Mario, onde tudo é feito de papel.
Paper Mario: The Origami King é o sexto jogo da saga Paper Mario, mas, tal como outros jogos de peso da plataforma híbrida da Nintendo, esta foi a minha porta de entrada, ainda que conheça e reconheça a riqueza do mundo e os paralelos à série original.
Para quem não conhece a série, quando disse que tudo era feito de papel, queria mesmo dizer tudo! Ou quase tudo, vá. De fora fica apenas o que não for feito em papel, como tesouras, elásticos, agrafos, lápis e canetas, etc, que, de alguma forma, estão ligados às artes de papel e que tornam este mundo tão interessante, coeso e extremamente criativo.
Mais uma vez, a Nintendo traz-nos um mundo mágico até ao ecrã das nossas consolas, onde o impossível e absurdo é adorável e faz todo o sentido dentro das suas próprias regras, com quase todos os ingredientes que tornam um jogo Mario tão icónico.
Tal como em episódios anteriores, Mario, a nossa personagem controlável, coloca-se no papel de herói com uma missão de salvar o Mushroom Kingdom. Depois de Mario e Luigi serem convidados para uma festa por parte da Princesa Peach, é quando chegam ao seu castelo que descobrem que algo está errado. King Olly, o Rei Origami, raptou tudo e todos e promete transformar e dobrar todos os seus habitantes 2D em origamis e, depois disso, todo o mundo.
Para salvar tudo e todos, Mario junta-se à irmã de Olly, a pequena Olivia, numa viagem pelo mundo de papel, dividido em várias zonas conectadas, para desdobrar os seus habitantes, lutar contra bosses e fazer novas amizades.
É impossível não ficar logo apaixonado com Paper Mario: The Origami King. Desenvolvido pela Intelligent Systems, que trabalhou em jogos da série no passado, The Origami King é um deleito visual, com cores fortes, uma direção artística no ponto e uma apresentação composta por fantásticos efeitos e uma fluidez de jogo impecável, onde se destaca o efeito quase stop-motion das animações.
Tudo isto é muito bem traduzido para as mecânicas de jogo que são dinâmicas ao longo da nossa jornada, com ações que despoletam todo o tipo de animações deliciosas, seja no controlo de Mario, nos combates ou na simples interação com o mundo e as suas personagens.
Temos aqui mais um título simples de jogar, mas que requer alguma atenção e aprendizagem, especialmente na luta e na leitura dos cenários, que escondem mil e um segredos em todos os cantos. Para os descobrir, temos que estar atentos a cores e movimentos suspeitos.
Paper Mario: The Origami King tem uma forte componente RPG, ainda que não seja um jogo totalmente desse género. Temos armas para descobrir, poderes para desbloquear, itens chave para apanhar e avançar, muita conversa com NPCs e um sistema de combate por turno divertido e criativo.
Os combates são despoletados enquanto navegamos pelos níveis no jogo, batendo em inimigos origami ou sendo apanhados por eles, e são pequenos puzzles, onde começamos por agrupar grupos de inimigos rodando a mesa de combate e usando as armas apropriadas para os eliminar. São simples de entender, mas podem ser uns quebra cabeças quando a resolução não é totalmente clara e quanto temos o tempo a contar para aquele desafio extra. Quando tudo falha, podemos pagar moedas aos Toads que vamos salvando de modo a reposicionar os inimigos e receber vida extra, caso seja necessário. Temos ainda as batalhas de bosses, que são um pouco diferentes, onde temos que ajustar a mesa de forma a encontrar o caminho certo para bater no inimigo.
São combates interessantes e divertidos até que começam a ser demasiado repetitivos. A dificuldade, ao longo do jogo, é crescente, obrigando a racionar as armas e a perceber como podemos atacar os inimigos, sendo a grande força motivadora de avançar pelo jogo.
Fora dos combates, há também alguns puzzles ambientais por resolver que tiram partido de mecânicas únicas, como o 1000 Fold Arms, que ajuda a abrir zonas do cenário em locais específicos.
Contudo, Paper Mario: The Origami King perde o efeito de novidade rapidamente e apenas a exploração e a história conseguem agarrar-nos ao longo da aventura. E se não gostam de pausas constantes, então The Origami King pode ser mesmo muito aborrecido.
As primeiras horas de jogo não ajudaram nada a meu favor, com Olivia a falar constantemente com Mario, expondo a premissa do jogo, mas pior do que isso, a detalhar todas as mecânicas de jogabilidade. A certa altura, tudo parece um tutorial, com falas que não dão para avançar, o que retira a magia do que é um jogo Mario – aprendizagem, experimentação e exploração. O excesso de falas e texto é, também, um pouco irónico, principalmente quando, por vezes, o jogo deixa de dar informações sobre o passo seguinte, com Olivia a dar-nos mensagens vagas quando as solicitamos.
O facto de não podermos avançar as falas mais rapidamente torna-se frustrante ao longo da história, pois há muita personagem para interagir e conhecer, quebrando um ritmo de jogo que podia ser melhor. Juntamente com um sistema de checkpoints mal distribuído, torna-se difícil jogar Paper Mario: The Origami King em pequenas porções na máquina da Nintendo, isto se a certa altura quisermos jogar outra coisa sem perder progresso.
Para um jogo tão adorável e simples, é também uma pena não encontrarmos suporte para a Língua Portuguesa, um pormenor já recorrente nos títulos da Nintendo, mas que, aqui, teria sido uma mais valia de peso.
Mas apesar das suas “chatices”, Paper Mario: The Origami King é um jogo cheio de magia e criatividade, com um aspeto adorável e algumas técnicas visuais extremamente impressionantes que passam despercebidas aos olhos da maioria. É um jogo longo para quem procura muitas horas de diversão com humor, momentos surpreendentes, música brilhante e uma direção artística fantástica.
Paper Mario: The Origami King já está disponivel na Nintendo Switch.
Plataformas: Nintendo Switch
Este jogo foi cedido para análise pela Nintendo Portugal.