Uma aventura a três que irá encantar os mais pacientes.
Existem momentos em que Greak: Memories of Azur parece ser um jogo perdido da década de 1990. Esta sensação nostálgica não é despoletada apenas pela arte, que nos transporta para animações de Ralph Bakshi e Don Bluth e para as tardes recheadas de VHS, ou pela sua estrutura clássica motivada pela utilização de três protagonistas com as suas próprias habilidades e valências – como o clássico Lost Vikings –, mas é pelo seu ambiente banhado em fantasia negra e pela sua aposta numa dificuldade inesperada. O novo título da Navegante Entertainment é um pacote completo para os fãs de ação, aventura e puzzles, mas peca pela falta de equilíbrio e na utilização direta dos seus protagonistas dentro e fora dos combates.
A campanha de Greak: Memories of Azur não é extensa, mas apresenta um mundo vivo repleto de atalhos, zonas distintas e uma enorme sensação de escala e aventura que dão alguma personalidade a este reino à beira do fim. O design das zonas é desafiante e até labiríntico, onde o equilíbrio entre ação e resolução de puzzles está no centro da experiência. No entanto, os atalhos entre zonas não conseguem cortar alguma da deslocação aborrecida e a desorientação entre layouts, e é comum sentirmo-nos perdidos até nos níveis mais curtos, faltando-lhe uma melhor direção e monumentos que guiem o jogador ao longo da campanha. A arte consegue suavizar esta ausência de um mundo coeso com cenários pintados à mão e uma animação muito fluída e repleta de vida que dá aos nossos protagonistas uma maior personalidade – ainda que se resumam aos clichés do género de fantasia –, mas não o suficiente para salvar a experiência como um todo.
A Navegante Entertainment quis construir a relação entre os três irmãos através da jogabilidade, dando ao jogador a missão de comandar os seus protagonistas à medida que combina as suas habilidades em combate e durante a resolução de puzzles simples. Só podemos controlar uma personagem de cada vez, mas existe a possibilidade de guiarmos a equipa através do L2, com a equipa a deslocar-se como uma unidade: uma decisão que nem sempre resulta devido à falta de controlo satisfatório do grupo. No entanto, a experiência mantém-se num ritmo ponderado, onde temos constantemente de trocar de personagem para usar as habilidade dos jovens para saltar mais longe, ativar alavancas ou criar plataformas que permitem aos três irmãos continuarem a sua viagem. Os puzzles não são difíceis e a troca de personagens está demasiado presente na ação ao ponto de criar um ritmo que nem sempre apreciei. O facto de não existir um melhor controlo enquanto temos a equipa selecionada significa que nos momentos mais intensos de plataformas, onde temos vários perigos à nossa volta, somos obrigados a completar a mesma secção três vezes para continuarmos em frente.
O grande problema desta estrutura em três partes encontra-se no sistema de combate. Os confrontos não são muito exigentes ou criativos, com a maioria dos encontros a resumirem-se a uma personagem a atacar desenfreadamente até eliminar uma das criaturas inimigas. As habilidades únicas de cada personagem injetam alguma variedade no combate, ainda que pouca, e existe uma tentativa de criar confrontos indicados para cada um dos seus heróis, mas se cairmos numa luta com os três heróis rapidamente descobrimos dois problemas: os heróis, mesmo atacando, não se desviam automaticamente dos ataques inimigos sem a ajuda do jogador e se um dos irmãos falecer, mesmo que não o estejamos a controlar, a partida chega ao fim. Isto significa que temos de controlar regularmente os três irmãos e trocar entre si para os conseguirmos proteger, mas as mecânicas não são fluídas e rápidas o suficiente para complementarem esta gestão exigente: ou escondem as personagens antes de cada confronto ou vão ter uma enorme dor de cabeça.
Se entrarem no seu ritmo lento e se apreciarem a sua aposta na exploração e resolução de puzzles, Greak: Memories of Azur é um jogo de ação e aventura que merece o vosso tempo. Infelizmente, a falta de um sistema de combate profundo e um certo desequilíbrio entre personagens, aliado à troca constante de heróis e ao design pouco satisfatório de certas zonas, afastaram-me progressivamente deste mundo desenhado à mão.
O jogo atinge o ponto certo com o desbloqueio da terceira personagem e existem várias missões secundárias que vos convidam a explorar melhor as cavernas e florestas misteriosas deste reino fantasioso, mas as primeiras horas podem ser desmotivantes devido à dificuldade e falta de profundidade dentro e fora de combate.
Disponível para: PC, Xbox Series X|S, Playstation 5 e Nintendo Switch
Jogado na Xbox Series X
Cópia para análise cedida pela Team 17