Análise – Gravel – Corridas à antiga

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O progresso dos videojogos acarreta certas expetativas. Com o realismo visual, pede-se realismo no modo como manipulamos os jogos. E pede-se imersão. No caso dos jogos de corridas, temos assistido, ano após ano, a tentativas de diferentes franquias em tornar os seus jogos frescos e divertidos, e outras que apostam na simulação pura.

Gravel é um jogo de rally totalmente novo, livre da bagagem de títulos anteriores, e com a oportunidade de provar algo. Esse algo é aquele espaço que os jogos de corridas divertidos e despreocupados ainda têm no mercado, mesmo que se sintam um pouco fora do seu tempo.

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A minha primeira reação com este jogo da Milestone (responsável por uma panóplia de jogos de corridas de motas como a série MXGP ou WRC) foi de nostalgia pura. Colocar este jogo na PlayStation 4 foi o equivalente a meter o primeiro Sega Rally na Sega Saturn. Desde a sua apresentação ao modo como se joga, Gravel causou-me uma estranha, mas positiva, impressão.

Esta primeira impressão deve-se à jogabilidade. Gravel é muito divertido e faz mesmo lembrar esses jogos que marcaram a nossa juventude. De fora fica o realismo de um Dirt Rally, mas existe a leveza e desafio em controlar os carros nas curvas de um Dirt 1.

É no balanço em manter o carro na sua velocidade máxima sem perder o controlo ou no deslize perfeito nas curvas mais acentuadas que Gravel brilha, graças ao excelente controlo dos carros e à sensação de velocidade.

Neste jogo, há outros elementos que podem apimentar o desafio e o desempenho dos carros. É possível alterarmos os tempos das caixas de velocidades, as suspensões, entre outros, e até jogar em modo manual. Os diferentes tipos de carros apresentam comportamentos distintos e os terrenos das provas influenciam o modo como controlamos os veículos. Com tudo isto misturado, o jogo acaba por tornar-se um pouco mais denso do que se apresenta inicialmente, mas sem nunca chegar ao ponto de parecer um simulador.

Gravel introduz ainda mecânicas contemporâneas como replays dinâmicos, indicador de percurso, modo rewind para refazer porções das corridas em caso de acidente e, até, um modesto modo de fotografia.

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Visualmente, Gravel não vai ganhar nenhum prémio, mas a sua apresentação é bastante consistente e agradável. O jogo tira partido do Unreal Engine 4, uma das ferramentas mais populares para dar vida aos jogos desta geração, e que aqui é usada de forma eficaz para manter o jogo com um aspeto atual.

Ao longo do jogo vamos poder correr entre diferentes ambientes, desde selvas, florestas e desertos, todos com uma apresentação credível e desenhados de modo a parecer que há um mundo maior à volta dos limites das provas.

Ainda que nenhum desses locais se apresente com um aspeto fotorealista, tudo é desenhado de forma cuidada e agradável, com recurso a efeitos de luz e condições climatéricas para tornar os ambientes vivos e dinâmicos. O grande destaque vai para os circuitos em arenas onde o espetáculo de luzes e o reflexo nos carros tornam o jogo bastante agradável.

O mesmo aplica-se aos carros que, embora sejam todos licenciados, não primam por um realismo encontrado noutros jogos. São modelos simples e, por vezes, até bastante genéricos, mas contam com todos os elementos familiares que os definem, como as pinturas do Toyota Celica dos anos 90 ou o icónico Subaru Impreza 555.

Em suma, Gravel poderia facilmente ser confundido com uma remasterização ou remake de um jogo de corridas da década de 2000.

Ainda na sua apresentação temos o áudio. No que toca aos carros, é possível distinguirmos um Subaru de um Mini ou um carro de rally de uma carrinha, mas raramente é possível sentir a agressividade deste tipo de carros. É satisfatório e nada de que se possa gabar.

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Neste aspeto, fica a nota negativa para os sons de impacto nas corridas entre carros ou contra o ambiente, que pouco fazem sentirmos o estrago ou a quebra de velocidade. Jogar Gravel com ou sem som pouco muda a experiência.

Um aspeto que pode ser positivo ou negativo para os jogadores, dependendo da sua afinidade com musica eletrónica dos anos 2000 e rock com guitarras, é a banda sonora. Também aqui existe um elemento nostálgico com o uso de músicas nos menus que nos fazem lembrar da época em que o Templo do Jogos passava na televisão. Foram vários os temas que me fizeram coçar a cabeça ao tentar lembrar-me de onde eram, ao ponto da memória me recair sempre em jogos como Sega Rally ou Colin McRae.

Contrastado com isto, temos então as músicas rock que surgem em replays ou finais de corrida em conjunção com uns horríveis, mas hilariantes, comentadores de serviço.

A campanha de Gravel é também ela bastante oldschool, ou seja, bastante linear. Neste jogo, vamos completando diferentes percursos que fazem parte de vários campeonatos, onde vamos viajando pelo mundo com carros de diferentes classes.

Quanto melhor for o nosso desempenho, mais carros e novos eventos vamos desbloqueando, até ao culminar de finais com “bosses”.

Há aqui um aspeto que lembra também jogos como o Need For Speed Most Wanted, com a apresentação de figuras com filmes de imagem real, onde conhecemos os nossos rivais e com os quais teremos que competir. É estranho, e até arcaico, nos dias de hoje termos estes elementos e progressão, mas acabam por acentuar o registo deste jogo.

No fundo, não há muito a fazer em Gravel, a não ser correr até ao fim da linha.

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Ainda temos o multijogador que só é possível aceder online e que, infelizmente, tem uma população muito reduzida, havendo dificuldade em arranjar jogadores com quem jogar. Algo que me deixou com pena, tendo em conta o tipo de jogo que é, é não haver multijogador local com ecrã dividido.

Gravel é um jogo competente e com um foco bem definido. É eficaz no género em que se insere e, para primeira entrada numa série, é uma feliz surpresa.

Não está livre de falhas, bugs ou de decisões duvidosas e, no fim do dia, acaba por parecer um jogo que existe fora do seu tempo, com uma campanha linear e com pouca oferta. No entanto, não deixa de ser um jogo interessante a espreitar, até para quem procura um jogo de corridas à antiga com o brilho de um jogo contemporâneo.

Gravel já se encontra disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.

Gravel
Nota: 6/10

Este jogo foi cedido para análise pela Bandai Namco.

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