Depois de uma espetacular aventura pelo continente australiano, Forza Horizon 4 leva-nos de viagem até à Grã-Bretanha, que serve de pano de fundo para o festival mais louco que se possa imaginar.
O festival Horizon é uma celebração que mistura música com a paixão pelos carros, uma espécie de Woodstock que se faz acompanhar de um evento moto-desportivo como a famosa corrida Gumball 3000, cheia de carros exóticos. Quando surgiu em 2012 com um jogo exclusivo para a Xbox 360, Forza Horizon apresentava este “simples” conceito que parece ser possível apenas num videojogo, mas que, ainda assim, era bastante ambicioso, pois tinha como objetivo transformar o simulador Forza Motorsport num jogo de mundo aberto.
Na altura, o estúdio responsável, Playground Games, não só conseguiu a proeza de fazer um jogo sólido e marcante para os fãs do género, como achincalhou os jogos rivais, tornando-se uma espécie de modelo a seguir.
As inovações não pararam e o festival foi continuando com diferentes edições em diferentes partes do mundo. A cada novo jogo foram incluídas melhorias a nível de jogabilidade, novos modos de jogo e muitas funcionalidades, sempre com uma determinada consistência e uma adição de conteúdo medida consoante o tema de cada jogo.
No jogo de estreia, passado nos EUA, havia uma maior atenção para os carros americanos; Forza Horizon 2, que se passava na costa mediterrânica, apostava nos exóticos europeus; Forza Horizon 3, na Austrália, apostou em carros icónicos da região e no offroad ao introduzir um ambiente muito mais variado; e agora temos Forza Horizon 4 que conta, obviamente, com uma seleção de carros mais europeia e britânica.
Não quer dizer com isto que a série Forza Horizon se coíba de explorar todo o tipo de veículos, mas há um enorme cuidado da produtora inglesa em escolher muito bem as estrelas do seu jogo que, em Forza Horizon 4, são cerca de metade dos 700 carros presentes em Forza Motorsport 7. Sacrifícios de parte, a seleção de veículos continua a ser excelente e o que não faltam são clássicos, ícones e até novidades da indústria automóvel.
Longe vão os tempos em que as estradas tinham limites, em que não se sentia se quer humidade no asfalto e em que os carros nem ligavam os faróis. Com o progresso da série, essas barreiras foram sendo quebradas e, agora, temos um jogo quase sem limites, onde podemos ir onde basicamente os nosso olhos caiem, onde a areia à beira mar e a lama à beira dos rios se deformam de modo realista, ou onde podemos destruir muros e propriedade alheia para ir de ponto A a ponto B.
Forza Horizon 4 conta também com um ciclo dia noite e condições atmosféricas aleatórias. Isto faz com que o jogo pareça ter uma vida própria. É como sair à rua sem saber o que nos espera – se está sol ou chuva, frio ou calor. Mas em Forza Horizon 4, a Playground Games foi mais longe e introduziu as estações do ano de uma forma que muda não só a forma de jogar, como o modo como voltamos ao jogo e criamos uma rotina com as nossas sessões de jogo.
Com uma aposta em jogos enquanto um serviço, Forza Horizon 4 é, provavelmente, o jogo de corridas mais orgânico e vivo alguma vez lançado.
Após as primeiras horas de jogo que nos introduzem às quatro estações do ano, ficamos “condenados” ao relógio do jogo da Playground Games, onde todas as semanas teremos eventos e objetivos dedicados a cada estação, alguns até exclusivos.
Se isto parece muito inovador, é porque de facto é, mas não existe inovação sem sacrifício, sacrifício esse que nos impede de trocar a estação do ano manualmente, mesmo se a ideia for jogar a solo e offline, pelo menos nesta versão atual do jogo.
Tal acontece porque Forza Horizon 4 foi desenhado para ser jogado “ao vivo,” online, com ou sem amigos. Foi desenhado com a componente social em mente, com a troca de experiências entre jogadores, mesmo quando pensamos que estamos sozinhos. A natureza do jogo, os desafios, os eventos e a própria experiência de jogo dependem de um ecossistema em rede. E nas condições perfeitas, é incrível e funciona excepcionalmente bem.
O ciclo dia-noite, a troca de condições atmosféricas, os eventos ao vivo e a própria troca de estação semanal acontecem em tempo real para todos os jogadores, mas, em particular, surge com maior impacto quando temos 72 jogadores em simultâneo num mapa que podem assistir juntos e comentar todas estas mudanças, como se estivessem mesmo lá. Descobrir esta componente social de Forza Horizon 4 é como descobrir a Internet pela primeira vez ou o potencial de uma rede social.
A linha entre o modo a solo e o modo multijogador é basicamente inexistente. Em quase todos os eventos podemos convidar outros jogadores para nos ajudarem ou até para competirem contra nós com toda a liberdade de entrarem ou recusarem sem colocarem em causa a nossa experiência.
Tudo é orgânico e natural e, por vezes, esquecemo-nos que estamos a jogar com outras pessoas, mas a Playground Games fez o melhor para que os jogadores estraguem os jogos uns dos outros. Tirando sessões multijogador com corridas competitivas a sério, a colisão em eventos de mundo aberto está desligada e, quando vamos ao menu ou ao modo fotografia, ficamos em modo fantasma enquanto o mundo continua a trabalhar ao seu ritmo.
Estar numa destas sessões tem um sentimento semelhante ao de ir a um festival a sério, onde encontramos outras pessoas a fazerem diferentes atividades, sozinhas ou com amigos. Podemos juntar-nos ou ignorá-los. E é incrível.
Mesmo quem opte por jogar na versão Xbox sem subscrição Live Gold (onde é requerida para explorar a componente online), é possível receber desafios semanais que permitem a aquisição de créditos e experiência de jogo para a progressão do jogador. Acima de tudo, é possível sentir esta experiência partilhada.
No que toca ao conteúdo do jogo, nota-se que a produtora fez o melhor possível para tornar algumas experiências ainda melhores. Jogos anteriores contavam com diferentes tipos de eventos, os showcases, que nos levavam a situações tão fantásticas como absurdas, como por exemplo correr contra um hovercraft, contra um comboio ou um avião, nos carros mais exóticos e caros do mundo, havendo ainda pequenos eventos espalhados pelo mapa onde podíamos testar a velocidade dos nossos carros ou pôr à prova as nossas habilidades de drift.
Em Forza Horizon 4, este tipo de eventos e desafios foram drasticamente melhorados. Se havia frustração quando numa secção de velocidade ou de drift se perdia tudo com um embate num carro em trânsito, agora é possível passar por eles sem penalizações. E se os eventos de showcases eram poucos, neste jogo, para além dos habituais eventos loucos (onde se destaca um excelente crossover com um evento dedicado a Halo), há um conjunto de mini-histórias, onde recriamos cenas de filmes, treinamos o drift ou fazemos homenagens muito interessantes a outros jogos de carros.
Tudo isto é feito em alguns dos cenários mais diversos e bem desenhados da série. Existe uma enorme diversidade de terrenos que afetam a nossa condução e que são influenciados pelas próprias estações, fazendo com que as estradas e os percursos nunca se tornam aborrecidos. Temos desertos, planaltos, montanhas, rios, vilas, uma cidade e, até, uma praia. E em cima de tudo temos até fauna, com animais que reagem às nossa ações.
Voltamos a contar também com uma excelente seleção de carros escondidos em armazéns e uma panóplia de segredos e colecionáveis para descobrir. Todas estas atividades, eventos e experiências partilhadas são suportadas por uma apresentação audiovisual fantástica.
As inovações também se fazem sentir nos gráficos de Forza Horizon 4, que apresenta o melhor sistema de iluminação da série, provavelmente melhor do que o motor de jogo da Turn 10 utilizado em Forza Motorsport 7. Forza Horizon 4 é uma delícia para os nossos olhos. Os carros apresentam-se extremamente bem detalhados e o ambiente é diverso, colorido e cheio de pormenores, sendo preciso parar o carro várias vezes para apreciar a direção de arte do jogo.
Em movimento é igualmente espetacular. Temos uma excelente sensação de velocidade e de controlo inigualável, com efeitos de blur que tornam a experiência quase cinemática e os materiais dos carros a reagirem em tempo real ao ambiente em seu redor.
A paleta de cores é muito bem aplicada e, ao longo de uma sessão de jogo, é possível sentir a atmosfera de todas as regiões do mapa em qualquer tipo de condição atmosférica de forma bastante realista.
A nível de desempenho, Forza Horizon 4 volta a correr a 30fps na Xbox One original e na Xbox One S, mas é o primeiro jogo da série Horizon que recebe a possibilidade de correr a 60fps na Xbox One X.
No entanto, é no PC onde o jogo brilha, com a possibilidade de manter a fluidez alta a resoluções igualmente altas, bem acima do tradicional 1080p. E as boas notícias para os jogadores de PC não se ficam por estes extras, uma vez qiue Forza Horizon 4 está extremamente bem otimizado para a plataforma Windows. Joga-se bem sem grandes compromissos numa máquina modesta e, ao contrário dos outros Forza no PC, não há sinais de má otimização ou de má gestão de recursos da máquina.
O áudio é igualmente excelente, com uma reprodução sonora dos sons dos carros bastante bem conseguida e uma acústica de ambiente dinâmica e variada. Correr numa zona deserta é bastante diferente de estar numa floresta e, dentro do festival, a sensação de estar no meio de um evento faz-se sentir só pelo som.
Com o quarto jogo em apenas seis anos e com a série Motorsport a somar à lista de jogos Forza que vai agora para 11º jogo, seria de esperar algum tipo de saturação e fadiga. Mas é precisamente contra essas expetativas que Forza Horizon 4 consegue ser muito melhor do que qualquer outro jogo da série. É um culminar de experiências passadas e uma afirmação da maturidade. Forza Horizon 4 conta com quase tudo o que a sub-série introduziu desde o início e melhorou em praticamente todos os aspetos onde já era boa, ao mesmo tempo que fez alguns sacrifícios e injetou grandes ambições com excelentes resultados.
Forza Horizon 4 é um dos fortes candidatos a jogo do ano, é o melhor jogo de corridas do ano e, sem dúvida, o melhor que a Xbox One tem para oferecer.
Forza Horizon 4 chega à Xbox One e aos PCs Windows 10 no dia 2 de outubro com acesso antecipado para quem fizer pré-reserva da versão Ultimate.
Forza Horizon 4
Nota: 10/10
Este jogo foi cedido para análise pela Microsoft Portugal.