Death Stranding Director’s Cut é, essencialmente, o mesmo jogo de 2019, mas com muitas novidades e otimizações para a PlayStation 5 que tornam a jornada de Sam Porter Bridges mais divertida e variada.
Houve um antes e um depois com o lançamento de Death Stranding para a PlayStation 4 no final de 2019. Um antes e depois que refletiu anos de antecipação que culminaram com uma autêntica obra prima, e um antes e depois em contexto temático que, por ironia do destino, muita da sua ficção se tornou real devido à pandemia global.
Regressar a Death Stranding (mesmo com uma versão para PC no caminho) é uma experiência interessante, da qual estava muito entusiasmado em fazer parte com os novos conteúdos da Death Stranding Director’s Cut. Se leram a minha análise original ao jogo, vão perceber que me rendi à ideia e execução divisiva de Hideo Kojima. Consegui colocar de parte clichés e aspetos menos conseguidos e abraçá-lo não apenas como um simples bom jogo, mas como uma das melhores experiências que já tive, algo que foi apenas uma extensão de anos de teorias e antecipações.
Dito isto, este regresso não foi feito com a mesma emoção, ou com o mesmo conhecimento sobre a sua história e conceitos, pois já sabia tudo. Ainda assim, conseguiu ser bastante agradável, como rever um filme que adorámos, mas um filme que dura dezenas de horas, agora com mecanismos que permitem “atalhar”.
Admito que não o rejoguei todo. Neste período experimental, recomecei a sua história e gastei algumas horas para poder experienciar algumas das melhores cenas agora na PlayStation 5, onde o jogo suporta um incrível modo widescreen cinemático de 21:9, com a perspetiva de jogo e cinemáticas adaptadas ao formato anamórfico; e explorei muitas das novidades num saved game após a épica epopeia de Sam Porter Bridges na sua missão de ligar a América e salvar o mundo do verdadeiro Apocalipse.
Death Stranding Director’s Cut, ao contrário de Ghost of Tsushima Director’s Cut, faz um pouco mais de sentido na sua nomenclatura. Não sou o maior fã deste golpe de marketing da Sony em tentar legitimar os videojogos como uma arte cinemática (porque arte já são), mas neste caso em específico, não só tem o seu quê de verdade, como encaixa que nem uma luva na personagem que todos construímos do diretor do jogo, Hideo Kojima.
Esta é uma versão definitiva do jogo outrora lançada para PlayStation 4 e PC, que inclui tudo o que foi lançado para trás, incluído os pequenos crossovers da versão PC a Half-Life: Alyx e Cyberpunk 2077. Mas é uma versão cujas inclusões não só adicionam mais jogo e novas formas de o experienciar, como equilibram o progresso da aventura. E em pequenos detalhes é mesmo um literal “cut”: exemplo disso é remoção completa das bebidas Monster Energy.
Os novos conteúdos chegam para todos os gostos. Apesar de Death Stranding dançar à volta do shooting, conseguimos ver Metal Gear Solid (em particular Phantom Pain) como fundação da jogabilidade do jogo. E este Director’s Cut explora mais esta vertente, com novas armas e um Firing Range reminiscente das VR Missions, também da saga Metal Gear Solid. É uma dose bastante considerável de desafios e exercícios que vão pôr à prova as habilidades dos jogadores à luz de novos desafios que durante a jornada são raros e, por vezes, inexistentes, já que muito encontros com outros NPCs humanos aconteciam em missões de resgate de itens e equipamentos, dos quais podíamos evitar qualquer combate.
Juntamente com estes desafios, a Director’s Cut oferece também a possibilidade de repetir confrontos com bosses, além dos três momentos com a personagem de Mads Mikkelsen, as únicas disponíveis no jogo original.
Mais não significa nada sem objetivos e, para apimentar a experiência, Death Stranding está ainda mais social, pois estas adições e algumas missões de entrega agora podem entrar em leaderboards multijogador, com a Kojima Productions a lançar todas as semanas novos desafios e recomendações de missões e objetivos para tabelas ranked. São excelentes notícias, uma vez que convidam os jogadores a envolverem-se mais no jogo quando acharem que está mais aborrecido.
As novas adições incluem também novas formas de personalização da personagem e do BB, mas talvez o mais importante sejam as novas estruturas – onde encontramos canhões para enviar carga para longe de forma segura -, novas pontes, há mais estradas para construir e temos os muito pedidos robôs de companhia que nos ajudam a transportar a carga, naquela que no jogo original foi uma das ausências que mais desiludiram.
Para muitos isto poderá ser como um “facilitismo” ao jogo, que retira a sua essência, etc, argumentos dos quais pessoalmente discordo, pois são ferramentas como todas as outras que o jogo oferece. Podem sim, ajudar, mas depende da oportunidade e dos recursos que temos ao nosso dispor. Além disso, o seu desbloqueio é feito de forma orgânica e de acordo com o progresso do jogo, após momentos chaves. Para novos jogadores será uma experiência fluida e coesa, com as adições a surgirem de forma natural. Já para quem terminou o jogo e pretende continuar a explorar o mundo de Death Stranding, preparem-se para coçar a cabeça ou aceder a guias para descobrirem onde se encontram algumas das novidades.
Um desses casos aconteceu-me com o modo de corridas. Sim, Death Stranding tem um modo de corridas que está localizado numa zona remota do mapa, a sul, e que requer alguma ginástica mental e leitura de emails para descobrir. Isto, claro, se não tropeçarmos acidentalmente na estrutura ainda por construir.
Não é por acaso que só agora refiro este modo, pois é provavelmente a pior adição ao jogo, que pouco ou nada acrescenta e do qual estou bastante contente por não afetar o progresso ou por não ter troféus associados. Este pequeno extra, inspirado num dos hobbies de uma personagem secundária, é uma pequena pista de corridas, com poucas variantes, onde podemos correr com carros desportivos, motas ou carrinhas de transporte. Se a condução de veículos no jogo já deixa algo a desejar, então aqui é que conseguimos apreciar o quão mal implementada está a condução no jogo. Entre curvas apertadas, uma sensação de velocidade bizarra, uma condução rígida e impacto que travam dos 100 aos 0 num milésimo de segundo, conduzir em Death Stranding é um autêntico falhanço. Contudo, admiro a tentativa.
Também no que toca a adições que parece que não acrescentam muito temos a Fábrica, uma corrente de missões de ação furtiva que oferece alguns detalhes extra sobre o mundo e personagens de Death Stranding, mas de forma muito superficial. É fácil de perceber que foi material cortado para o jogo original, mas ainda assim um pequeno docinho para os fãs de longa data de Hideo Kojima.
Resta-me falar das otimizações para a PlayStation 5, para a qual esta versão do jogo é exclusiva. Temos tudo aquilo que poderíamos esperar, uma otimização que roça o perfeito. Death Stranding Director’s Cut corre de forma fantástica. Se já era belo na PlayStation 4, aqui continua belo. Não temos melhorias gráficas de destaque para além do aumento da resolução ou da taxa de frames, mas o que oferece é significativo.
Ao todo temos quatro modos, Desempenho e Qualidade que se desdobram com o modo Widescreen. A diferença entre os dois principais é o que esperamos na maioria dos jogos: no desempenho o jogo sacrifica resolução em prol da fluidez e o modo qualidade o contrário. Neste caso, as diferenças são mínimas, com o modo qualidade também a apontar para os 60FPS, num modo onde o meu olho treinado não encontrou flutuações ou quebras, tornando-se assim o meu predileto.
Em cima disso temos o formato widescreen, um modo cinemático em 21:9, que aparentemente para muitos jogadores parece que adiciona apenas duas barras pretas na imagem, mas que, na realidade, faz mais do que isso. A câmara afasta-se e temos um ângulo de visão superior, com mais imagem captada para cada um dos lados, dando ao jogo uma escala maior que tornam uma autêntica delícia ao admirar as paisagens pelas quais vamos passando. Preferencialmente gostaria de encontrar um slider FOV (como no PC), para dar o mesmo efeito no tradicional 16:9, mas como isto se aplica também a cinemáticas, abraço a visão do lendário produtor, pois a experiência fica muito mais coesa.
E mais uma vez, o DualSense brilha. Death Stranding Director’s Cut tira partido de todas as dimensões do novo comando da PlayStation. Tal como no passado, podemos ouvir os risos e choros de BB pelo seu altifalante, mas agora em mais quantidade e com mais efeitos, como passos, explosões e outros pequenos efeitos sonoros que, juntamente com o som da TV ou colunas, dão um toque mais imersivo. Cada som é também sentido com a vibração háptica do comando e os gatilhos oferecem diferentes níveis de resistência em diferentes ações, como a pressão dos gatilhos para equilibrarmos o corpo de Sam ou para fugirmos aos BTs.
Death Stranding Director’s Cut é a versão definitiva do ambicioso jogo de Hideo Kojima. Em retrospetiva, é a versão que gostaria de ter jogado quando foi lançado originalmente. É mais completa e afinada e, mesmo com os seus extras desnecessários, é um pacote fantástico, especialmente para quem nunca jogou ou estava à espera desta conversão para a nova geração. Se o impacto do jogo seria outro se fosse lançado hoje, esse é tema para outra conversa, mas algo que só um fã em estreia poderá comentar, especialmente num mundo abalado por uma verdadeira Death Stranding.
Cópia para análise cedida pela PlayStation Portugal.