Depois da estreia no PC, o título da The Farm 51 chega às consolas, mas ainda sem otimizações para a nova geração.
É fácil confundirmos Chernobylite, da The Farm 51, com a série S.T.A.L.K.E.R.. Ambas as franquias constroem-se em torno do desastre em Chernobyl, auxiliados pelo romance Roadside Picnic, dos Irmãos Strugatsky – e pela excelente adaptação de Andrei Tarkovsky ao cinema, Stalker –, e ambas retratam uma realidade marcada pela explosão nuclear, pelos fenómenos paranormais e por um controlo militar quase totalitário que rege as regras da Zona de Exclusão. Mas as duas séries não podiam ser mais diferentes. Esta é a minha sugestão para quem quiser experimentar Chernobylite: esqueçam S.T.A.L.K.E.R e abracem esta aventura.
Chernobylite está muito mais próximo de um jogo de sobrevivência do que de um título de horror. Apesar de existir algum foco narrativo, através da história de Igor, antigo cientista na infame Central Nuclear, e da sua busca pela sua esposa desaparecida, é fácil perceber que a sua alma recai sobre a estrutura tradicional dos jogos de sobrevivência e gestão. A campanha não segue, no entanto, um molde em mundo aberto, mas sim uma estrutura mais linear e controlada através de missões de reconhecimento e de recolha de mantimentos para mantermos o funcionamento da nossa base de operações.
Como Igor, temos de explorar a Zona de Exclusão enquanto procuramos pistas para o paradeiro da sua esposa, mas também a ajuda de outras personagens e o recursos essenciais para construirmos a nossa base e garantirmos o desbloqueio de novas missões e de atividades especiais. A ação divide-se pela partida em missões, que ocorrem em cenários fechados e pouco densos em conteúdos – com algumas zonas de interesse, mas pouco mais –, pela gestão da equipa, que também podemos enviar em missões, e depois pela reconstrução da base para desbloquearmos melhores armas, equipamentos e qualidade de vida para os nossos companheiros.
As missões são tensas devido à presença de radiação e de soldados inimigos, que nos atacam violentamente pelos cenários, mas a sua estrutura resume-se maioritariamente à recolha de mantimentos, à exploração rápida – onde podemos encontrarmos pistas e alguns momentos narrativos, tal como sequências mais paranormais – e à retirada estratégica. A aposta em missões curtas e com objetivos simples é suficientemente viciante durante as primeiras horas, criando a vontade de concluirmos mais um dia antes de desligarmos, mas com o passar das horas, as zonas perdem a sua magia e a estrutura passa a ser demasiado sufocante para recuperar a sua diversão. A falta de exploração e de zonas de interesse limita uma campanha que podia munir-se do seu mistério e do fascínio pela Zona de Exclusão para ser mais profundo temática e mecanicamente.
No entanto, Chernobylite tenta manter a surpresa e a tensão vivas através de um sistema de influência interessante, mas nem sempre visível. Ao concluirmos missões, temos a oportunidade de influenciar a Zona e alterar alguns dos seus parâmetros, como forçar a presença de mais soldados numa das localidades ou fazer escolhas narrativas que mudam por completo a disposição destes mapas. Existem também acontecimentos aleatórios com os quais temos de lidar e que influenciam a exploração e a deslocação em campo, como tempestades radioativas e a presença de criaturas, que podemos combater ao criar ferramentas e utensílios específicos. O problema deste sistema é que nem sempre conseguimos ver ou sentir estas alterações, o que retira algum do seu charme.
A jogabilidade não me cativou tanto como a exploração e os pequenos momentos narrativos que encontrei, com os controlos a serem lentos e nem sempre confortáveis nos comandos – um problema que se faz sentir também no UI –, mas o foco na gestão manteve-me investido. Não só pela construção da base, mas também pela gestão dos nossos companheiros, que temos de alimentar, treinar e garantir que estão confortáveis antes de partirmos em missões. Como Chernobylite tem um sistema psicológico, que determina a nossa prestação em campo – e que é influenciado pelo que experienciamos nas missões, como o número de inimigos que matamos –, temos de garantir que a equipa está concentrada e preparada para as missões que irá encontrar pela frente. Um pequeno elemento que complementa a aposta na personalização da base e no sistema de crafting do jogo.
Na PS5, ainda sem as otimizações para as novas consolas, Chernobylite está longe de surpreender e o desempenho não é tão sólido como deveria ser, prejudicando a experiência de explorar os bosques da Zona. No entanto, existem elementos suficientemente interessantes que nos motivam a continuar a viagem de Igor, como o sistema climatérico do jogo, que nos permite mascarar o som dos passos com a chuva e a acumulação da lama. Não é um jogo surpreendente, mas é uma experiência invulgar nas consolas que merecerá a vossa atenção se gostarem de títulos de sobrevivência e exploração, mas com um foco na narrativa.
Cópia para análise (PlayStation) cedida pela Plan of Attack.