O município diz que nada ganha com uma linha que irá custa mais de 4.800 milhões de euros.
Em 2020, o Governo anunciou que, no Programa Nacional de Investimentos 2030 (PNI2030), um dos destaques irá para a criação de uma linha ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Porto. Já no passado mês de março, durante a Sessão Informativa “Investimentos nas Infraestruturas Ferroviárias Nacionais”, na qual foram destacados os grandes investimentos que estão programados no âmbito do PNI2030, realçando os projetos associados à Alta Velocidade, como a nova Linha Porto-Lisboa.
A motivação para a criação desta nova linha deve-se, principalmente, para reduzir o tempo de trajeto entre Porto e Lisboa, para aumentar a qualidade dos serviços de Longo Curso e para libertar, também, a capacidade na linha do Norte para o tráfego suburbano e de mercadorias.
Esta ligação será desenvolvida em três fases, iniciando-se com a construção do troço entre Porto e Soure. De acordo com um documento da IP – Infraestruturas de Portugal, a Fase 1, a ficar concluída de 2026 a 2028, permitirá fazer a viagem Porto-Lisboa em 1h57. Já até 2030, essa mesma viagem será concluída em somente 1h17. E já em 2030, esse tempo ficará reduzido para os prometidos 1h15. Atenção que estes são tempos em viagens sem paragens.
Na nova linha porto-Lisboa estão previstas novas estações em Porto-Campanhã, Vila Nova de Gaia (nova estação), Aveiro, Coimbra-B (reforma da atual estação), Leiria e Lisboa-Oriente.
Já em maio tivemos outras novidades, desta vez relacionadas com a nova linha entre Porto e Vigo. De acordo com o vice-presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), Carlos Fernandes, Porto e Santiago de Compostela vão ficar ligados em apenas 2h30m de comboio a partir de 2030.
A primeira fase da construção da nova linha, a ficar concluída até esse ano, consiste no novo troço entre Braga e Valença e na construção da ligação em ferrovia pesada entre Porto-Campanhã e o aeroporto de Francisco Sá Carneiro. Isto fará com que o Aeroporto, Braga e Valença ganhem novas estações para receber os comboios de alta velocidade.
Finalizada a primeira fase da construção da nova linha entre Porto e Vigo, será possível fazer esse trajeto em apenas 1h25m, ao invés das atuais 2h25m. Uma hora a menos, portanto. E para o tal percurso Porto-Santiago de Compostela, a redução é drástica: baixa das atuais 5h50m para 2h30m. Quem quiser ir a Corunha a partir do Porto? Uma viagem que passará a ser feita em 3h30m.
O melhor de tudo, porém, está prometido para lá de 2030. A segunda fase da nova linha entre Porto e Vigo implicará a construção de um novo troço ferroviário entre Porto e Braga. Resultados? Porto e Vigo ligados em apenas 48 minutos e a ligação até Corunha será encurtada para 2h23m.
Ora, mas tudo isto já era sabido. A questão é que construir uma nova linha de alta velocidade irá implicar vários, mas necessários, constrangimentos, mas nem todos os municípios concordam com a construção desta nova linha de alta velocidade. É o caso de Anadia.
Anadia “chumba” linha de Alta Velocidade
Esta semana, foi aprovada em Assembleia Municipal de Anadia uma moção de rejeição ao traçado da linha ferroviária de alta velocidade que vai atravessar o concelho, “sobrepondo-se a uma das maiores manchas vitivinícolas da região” e “aniquilando projetos enoturísticos”.
De acordo com a Lusa, a presidente da Câmara Municipal de Anadia, Teresa Cardoso, partilhou a sua apreensão em relação ao traçado que diz que vai prejudicar o seu território e que terá “um impacto negativo num dos setores mais importantes da economia local”.
“Aliás, nós somos contra a linha de alta velocidade, porque entendemos que não há justificação nenhuma para gastar mais de 4.800 milhões de euros numa linha de alta velocidade, para ligar apenas o Porto a Lisboa e que para o Município de Anadia não traz rigorosamente nada”, evidenciou.
No entender da responsável, este investimento “não acrescentará qualquer mais-valia ao desenvolvimento económico do concelho”, para além de trazer “um impacto altamente negativo” em termos paisagísticos e de ruído.
Na declaração de voto, o PS indicou que “o traçado previsto atualmente é de rejeitar, pois atravessa de forma impactante alguns vinhedos da zona de S. Lourencinho e áreas limítrofes, numa grande extensão, afetando um dos mais reconhecidos ex-líbris da região da Bairrada, com consequências negativas em propriedade e projetos de enoturismo do setor vitivinícola do concelho”.
Em todo o caso, os socialistas destacaram ainda que “existem condições para que o executivo municipal de Anadia participe de forma construtiva, na definição de um traçado definitivo, articulando as suas legítimas dúvidas e posições com os restantes municípios da região”.
O documento que rejeita o traçado vai agora ser enviado ao Presidente da República, presidente da Assembleia da República, primeiro-ministro, ministro das Infraestruturas e Associação Nacional de Municípios Portugueses.