Tivemos oportunidade de provar as várias referências durante um ótimo almoço.
O Intermarché tem vindo a renovar a imagem da sua oferta de marca própria de vinhos, através da insígnia Selecção de Enófilos. Neste âmbito, foi realizada uma sessão de apresentação desta gama com a presença do reconhecido enólogo Jorge Rosa Santos, que tem vindo a ser liderar este esforço.
As linhas principais que norteiam esta remodelação passam pela manutenção da competitividade no preço através dos grandes volumes, por uma simplificação do rótulo, um destaque à região de origem e, ainda, uma associação à sustentabilidade, simbolizada pela presença de aves locais consideradas amigas da viticultura pelo seu papel de biocontroladores que ajudam à redução da utilização de químicos. Exemplos destes chamados “pequenos gestores intensivos” são o Chasco-cinzento no Dão, apreciador das altitudes entre os 400 e os 700 metros, ou a Estrelinha-de-cabeça-listada nos Vinhos Verdes, a mais pequena e leve ave da Europa, com apenas 5 gramas. Cada contra-rótulo apresenta um QR code para que se possa descobrir mais sobre cada um destes simpáticos amigos.
Trata-se de um desafio interessante num país que tradicionalmente valoriza mais a marca que a região de origem, ao contrário por exemplo do que acontece na tradicional Borgonha, onde o local das vinhas tem mais importância que o nome do produtor. Como cadeia de grande distribuição, mas com um grande diferenciador que é a ligação próxima aos produtores locais e a propriedade de cada supermercado ser individualizada, com os impostos a serem pagos nos concelhos de presença dos espaços comerciais, é assim lógico que o Intermarché aposte neste destaque à origem. O design foi de Ana Clemente, em colaboração permanente com as equipas da empresa.
Na prova realizada neste evento de apresentação, e ao jeito de cocktail inicial, foram apresentados os Verdes monocasta Loureiro, um vinho do ano, descomplicado e sem madeira. Um belo vinho de piscina (elogio), com a acidez e grau de álcool médio/baixo típico dos Verdes, e a combinação clássica bicasta Alvarinho/Trajadura, maior secura mas a mantar o equilíbrio no final e também com perfil jovem. Para estes casos aplica-se uma exceção à regra da região em destaque no caso dos vinhos tranquilos, passando as castas a estar em primeiro lugar do rótulo.
Sentado numa bela mesa do espaço FLAT, em Santos, a refeição principal iniciou-se com um creme de cenoura com caril, acompanhada pelo DOC Dão Branco, feito com Encruzado, Bical e Malvasia-Fina, sem madeira e com um aroma tropical e cítrico, que liga bem com propostas culinárias mais suaves. Como entrada, uma bruschetta de tomate e camembert panado com compota de malagueta foi escolhida como prato para harmonizar com o DOC Bairrada Branco (Arinto e Bical, com amplitude, notório toque a baunilha no final e ligeira secura de boca), e o DOC Bairrada Reserva Tinto (Tinta-Roriz, Touriga Nacional e Baga), que foi um dos nossos destaques: Redondo, empático, sem necessidade de esperar tempo para que o vinho cresça, e com taninos não frontais, longos mas sem concentração característicos da região.
Como prato de peixe, a moqueca de camarão tigre com arroz basmati foi servida com o Regional Alentejo Branco (Roupeiro, Rabo-de-Ovelha e Arinto), e o DOC Dão Reserva Tinto, (Tinta-Roriz, Touriga Nacional e Alfrocheiro), uma harmonização mais ousada, vinho apimentado e com apontamentos de chocolate que o Bairrada, com queijos mais fortes irá certamente bem).
O rosbife com molho de mostarda e batata palha com ervilhas foi acompanhado pelos dois “especiais” da Selecção de Enófilos, e que, pelas suas características especificas e potencial de guarda superior, levam o rótulo de DOC Douro Tinto Private Collection, e DOC Alentejo Tinto Private Collection. São vinhos obviamente de maior complexidade, o Douro (Tinta-Roriz, Touriga Nacional e Alfrocheiro, como o Dão Reserva, com maceração pelicular prolongada, apresenta cor rubi intensa uma característica elegante e já complexa, mas deverá crescer com o tempo), e o Alentejo (Tinta-Caiada, Touriga Nacional, Alicanta-Bouschet e Touriga Franca), também com maceração prolongada (10 dias) mais especiado e com notas a ameixa e uva passa.
Da prova no geral destaca-se a coerência na aposta do Intermarché em vinhos honestos, desmaquilhados, que tentam ser bons retratos das regiões de onde vêm e que são um bom postal de apresentação, por exemplo, para uma pessoa curiosa que ainda não conheça determinada região vinícola (existem também vinhos do Tejo, Lisboa, Península de Setúbal, Palmela, e espera-se no futuro também a Beira Interior, num conjunto de cerca de 35 rótulos que abrange também espumantes, Moscatel do Douro – que acompanhou a sobremesa de crumble de maçã e pêra, e Moscatel de Setúbal, e que deverá ter também em breve vinho do Porto).
Destaca-se ainda a aposta numa ligação umbilical à terra, numa empresa em que todos os administradores são também proprietários de supermercados, juntando-se dois dias por semana na sede de Alcanena. Embora não estejam presentes na cidade de Lisboa, por exemplo a loja de Sacavém foi ainda destacada como tendo uma garrafeira vasta com esta gama interna, bem como várias outras ofertas.