Nunca vi um mês com tantos álbuns tão bem cotados pela crítica (no geral) e, como tal, o trabalho para selecionar os essenciais não foi pêra fácil.
Contudo, a onda de álbuns de bandas célebres a deixar a desejar continua. Este mês foram os The Black Keys a juntar-se à lista.
Por outro lado, os Squid estrearam-se em grande, bem como Olivia Rodrigo. Birdy, Sons of Kemmet e St. Vincent consolidam as suas carreiras em três regressos bem sucedidos.
[Artigo de álbuns essenciais de abril]
Alfie Templeman – Forever Isn’t Long Enough
Género: Indie Pop/Alternative Pop
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18 anos feitos este ano e já se encontra uma década à frente de todos os músicos da sua idade a nível de composição musical. Forever Isn’t Long Enough só peca mesmo por não ser “long enough”, sendo composto por apenas oito músicas, até porque todas elas dão gosto ouvir. Nota-se a falta de alguma maturidade a nível lírico, mas também não se pode exigir muito.
A EA Sports devia meter olho neste álbum de Alfie Templeman. Tem pelo menos duas músicas que se enquadram com o soundtrack habitual do jogo.
Se forem fãs de Declan McKenna, tenho a certeza que este álbum vai ser do vosso agrado.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Forever Isn’t Long Enough
> Wait, I Lied
> Everybody’s Gone Love Somebody
Birdy – Young Heart
Género: Indie Folk/Indie Pop
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Jasmine van den Bogaerde tem apenas 25 anos, mas o início da sua carreira (que foi bastante precoce) já foi há mais de uma década, após ter ganho o concurso Britânico Open Mic 2008. Com 12 anos, mostrou que tinha algo muito valioso para vingar no mundo da música: a sua voz. Três anos depois ganhou o estatuto de wonderkid, com o lançamento do seu primeiro álbum, Birdy (2011).
Esse álbum contou com 11 músicas, das quais 10 eram covers de músicas já com algum reconhecimento, entre elas “Skinny Love” (Bon Iver), que foi de longe a mais célebre e a alavanca da sua carreira, “1901” (Phoenix), “White Winter Hymnal” (Fleet Foxes), “The District Sleeps Alone Tonight” (The Postal Service) e “Young Blood” (The Naked and Famous).
Se as dúvidas relativamente ao seu timbre e ecletismo vocal se dissiparam com esse álbum, as dúvidas em relação à sua capacidade criativa e de escrita permaneceram. Em 2013 e 2016 lançou álbuns com músicas 100% suas e, para ser franco, nenhum deles me convenceu. São ambos compostos por música com personalidade, mas faltava o resto, a consistência de um álbum sólido e completo.
Embora Young Heart seja mais longo do que precisa, consegue fazer o que ainda não tinha sido feito, que é um trabalho pleno, conciso, algo objetivo e com inúmeras músicas que fazem valer a pena ouvir o álbum.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Loneliness
> The Otherside
> Surrender
> River Song
> Deepest Lonely
> Young Heart
CHAI – WINK
Género: Indie Dance/Experimental Pop
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Numa altura em que a Coreia do Sul está a lançar artistas em série para o mercado mainstream, o K-Pop ganhou outro fôlego. Em contra-partida, o seu irmão gémeo (J-Pop), ficou um pouco esquecido.
As CHAI vieram relembrar que as portas do Japão estão escancaradas para o mundo perceber que os talentos asiáticos não conhecem fronteiras. É apenas o terceiro álbum da banda, mas ao mesmo tempo já é o terceiro álbum da banda bem-sucedido, num pleno invejável.
WINK é caracterizado por uma aura calma, que torna a sua audição numa experiência extremamente agradável e confortável. Longe do espalhafato, acaba por ser um álbum que contrasta pouco com ele próprio. Gravado pelo quarteto com prazer, WINK tem o objetivo de proliferar energia positiva com quem decidir dar-lhe uma chance.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Donuts Mind If I Do
> Maybe Chocolate Chips (ft. Ric Wilson)
> It’s Vitamin C
> IN PINK (ft. Mndsgn)
Chloe Moriondo – Blood Bunny
Género: Pop-Punk/Bedroom Pop
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Olivia Rodrigo virou o mundo de avessas com a música “Driver’s License”. No entanto, no mês do lançamento do álbum que a inclui, já encontrou uma rival que partilha a temática, da autoria de Chloe Moriondo.
O mercado do Bedroom Pop está em altas em 2021 e Chloe Moriondo precede a Arlo Parks, Claud, Girl In Red, Adult Mom e Julien Baker na vez de transportar o testemunho que comporta um género musical que tem tanto de intimista, como de pessoal.
Apesar de só ter 18 anos, Moriondo já tem provas dadas do seu potencial, mas pouca visibilidade. É em situações como esta que fico confuso com a indústria musical. Não foi por acaso que comecei por falar de Olivia Rodrigo acima… A ascensão assombrosa de Olivia com um bom álbum (longe dos melhores do ano) vem provar que, para se ter reconhecimento, não é preciso provas dadas. Muito menos um álbum excelente. Basta ter presença, algumas centenas de milhares de seguidores nas redes sociais, um patrocínio publicitário de alguém já famoso, músicas com melodias atrativas, letras com que os mais novos se identifiquem e uma editora disposta a investir a sério.
Atenção, Sour é um bom álbum, mas como esse há às dezenas por ano – Blood Bunny é um desses.
Desabafo feito, e apesar de Blood Bunny ter as suas fragilidades, é simples, doce e genuíno. Tão genuíno que parece vindo de um capítulo do diário de Moriondo. Só por isso já merece mais, muito mais!
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Rly Don’t Care
> GIRL ON TV
> I Want To Be With You
> Bodybag
> What If It Doesn’t End Well
Easy Life – Life’s A Beach
Género: Alternative R&B
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Da capa à sonoridade, passando pelo nome do álbum e até da banda, Life’s A Beach parece um trabalho simples e superficial, mas não podia estar mais longe da realidade.
Os Easy Life, que são um grupo de amigos de Leicester, para além de abordarem temáticas extremamente sensíveis, sérias e conscientes face a tudo o que os rodeia (que se reflete na música que produzem), têm vibrações muito relaxadas, fazendo, por vezes, lembrar o estilo de Mac Miller.
Life’s A Beach ganha assim outro contorno, até porque a sua fonética surge com outra intenção face à original do nome. Contudo, também existe algum “product placement” no nome do álbum, visto que todo ele é dotado de sonoridades com sabor a verão.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> a message to myself
> have a great day
> skeletons
> daydreams
> nightmares
Gruff Rhys – Seeking New Gods
Género: Alternative Pop/Indie Pop
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Há artistas que conseguem rasgos de génios, mas precisam de trabalhar para manter o nível ao longo da sua carreira musical. Há outros que podiam ser magníficos, mas que, mesmo sem se esforçar muito, conseguem lançar álbuns de qualidade uns atrás dos outros. Gruff Rhys é, sem sombra de dúvida, o segundo caso.
16 anos a solo depois de outros tantos em banda, a criatividade e elegância do artista parece não ter fim à vista. Um talento ímpar que corre num campeonato à parte.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Mausoleum of My Former Self
> Can’t Carry On
> Holiest of the Holy Men
> The Keep
Lord Huron – Long Lost
Género: Indie Folk/Country
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Como definir Lord Huron? Uma mistura entre profundidade de Fleet Foxes ou Local Natives, com uma pitada do ritmo country de Mumford and Sons. Podem adivinhar o resultado… Um álbum perfeito para meter a dar no carro num daquelas viagens longas de vidro aberto, com destino feliz e paisagens de repor energias.
Já foi em 2015 que a banda lançou a faixa que os elevou e definiu (“The Night We Met”), mas foram precisos seis anos para Long Lost chegar e enriquecer o repertório da banda a um ponto que, quando penso em “Lord Huron”, penso automaticamente em “Mine Forever” ou “Not Dead Yet”.
Mais um álbum para a juntar à playlist que vou meter a tocar quando tiver oportunidade de fazer a Route 66 de auto-caravana.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Mine Forever
> Meet Me in the City
> Twenty Long Years
> Not Dead Yet
> I Lied (ft. Allison Ponthier)
Mustafa – When Smoke Rises
Género: Indie Folk/R&B
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Mustafa é uma artista diferente do normal, dado que não se prende a um género, mas, sim, a um objetivo. Objetivo esse o de contar a sua história de forma direta, sucinta e, acima de tudo, bonita. Para além disso, antes de cantor é poeta, e neste álbum isso fica bem patente, recebendo um transplante da sua habilidade lírica. No entanto, o que mais me surpreendeu foi o facto de ter escolhido fazer esse transplante com o folk como pano de fundo.
Oito músicas e 23 minutos de duração, When Smoke Rises é um álbum sucinto demais. Há músicas que não vivem de acordo com o seu potencial, principalmente “The Hearse”, que é lindíssima, mas acaba “cedo” demais.
O veredicto final é positivo, mas é inegável que este álbum ficou aquém do seu verdadeiro potencial. Esperemos que Mustafa continue a ter vontade de transformar a sua poesia em música.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Stay Alive
> Air Forces
> The Hearse
> Capo (ft. Sampha)
Olivia Rodrigo – Sour
Género: Bedroom Pop/Pop-Punk
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Nunca havia ficado tão confuso com o mediatismo em torno de um novo artista até Olivia Rodrigo que, apesar de ter um bom álbum, não inventou propriamente a roda para justificar esta “loucura”. Billie Eilish também teve uma exposição do género, mas em contra-partida, trouxe algo novo à indústria. Olivia abre o álbum de forma “brutal” (pun intended) e confesso que fiquei intrigado, até porque não sabia o que esperar ao certo. A verdade é que a primeira faixa foi um caso quase isolado (a par de “good 4 u”), dado que a linha do álbum é praticamente toda de Bedroom Pop.
Acredito que Olivia tenha um futuro brilhante pela frente, dada a sua capacidade de story-telling, à qual dá uso para expor episódios amargos da sua vida, mas sempre de forma doce. Ainda assim, há uma ligeira disparidade entre qualidade demonstrada e mediatismo.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> brutal
> drivers license
> deja vu
> good 4 u
Paul Weller – Fat Pop, vol. 1
Género: New Wave/Mod Revival
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Paul Weller tem aqui um caso estranho. Fat Pop é um álbum com boas músicas, mas que não encaixam nada bem juntas. Parece um álbum de carreira, um género de colectânea ou os melhores êxitos de períodos diferentes da carreira.
Isto não invalida o facto do cantor continuar a conseguir brilhar intensamente na sua arte, mas nota-se uma clara falta de organização para ajudar na linha condutora que une Fat Pop de uma ponta à outra.
Classificação do álbum: ★★★½
Músicas a ouvir:
> True (ft. Lia Meltcalfe)
> Fat Pop
> Shades of Blue
> Failed
Sons of Kemmet – Black to the Future
Género: Jazz/Afrobeat
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Tão pouco tempo de atividade e tanto impacto social. Your Queen Is a Reptille veio meter este quarteto de músicos do Reino Unido no mapa musical em 2018. Em 2021, e após um verão atribulado após a insurgência do movimento BLM, os Sons of Kemet elevaram o seu jogo e entraram no mapa social.
Black to the Future faz justiça ao trocadilho contido no nome, pegando no afrobeat para desenrolar ritmicamente uma lista de músicas com batidas típicas, em simbiose perfeita com o Jazz. A finalidade é partilhar a cultura africana com o mundo, mostrando o quão bela é e o impacto cultural que tem. Tudo neste álbum está polido como um diamante, a tal simbiose entre géneros que tiram o melhor um do outro, das passagens e até as letras.
Fiquei muito fã do álbum lançado em 2018, mas fiquei rendido com este. Outro óptimo trabalho para ilustre carreira de Sons of Kemet, que ainda está a começar.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Pick Up Your Burning Cross (ft. Moor Mother, Angel Bat David)
> Think of Home
> Hustle
> To Never Forget the Source
> Envision Yourself Levitating
Squid – Bright Green Field
Género: Post-Punk/Experimental Rock
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Depois de IDLES e Fontaines D.C., mais uma banda Punk sensação a despontar das ilhas britânicas. Não sei o que é que dão de comer às crianças de lá, mas está a resultar e a despontar num período sensacional de renascentismo do punk rock.
Bright Green Field é o álbum de estreia dos Squid e é tão bom que chega a ser chocante. Apesar das bases enraizadas no Post-Punk, tem sonoridades e passagens estranhas que que encaixam com naturalidade no género. Nota-se que há muita liberdade criativa no seio da banda. E quem começa assim uma carreira nunca está errado!
Mais uma banda na luta pelo título de reis do punk e nós, fãs, agradecemos com alegria.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Narrator (ft. Martha Skye Murphy)
> Paddling
> Documentary Filmmaker
> 2010
> Global Grove
> Pamflets
St. Vincent – Daddy’s Home
Género: Soft Rock/Funk
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Em 2014, St. Vincent deu provas do seu potencial enquanto artista no lançamento do seu 5º álbum em oito anos, “St. Vincent” (Self-Titled Album). Três anos depois, com Masseduction (um dos meus álbuns preferidos até à data), ficou claro que era caso sério. Chegamos a 2021 e a carreira de St. Vincent continua em espiral ascendente sem limite à vista. Daddy’s Home é só mais um trabalho que chega para cimentar o seu nome como ícone dentro do género.
Pode-se dizer que este novo álbum carece do ritmo pop dos anteriores, mas em contra partida, traz-nos uma imagem diferente da artista, mais íntima e com mais alma. Uma exposição a nu, introspetiva e uma sonoridade perfeita para deixar absorver tudo o que Clark quer partilhar connosco. Sem dúvida um dos grandes álbuns de 2021!
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Pay Your Way In Pain
> Down and Out Downtown
> Living the Dream
> The Melting of the Sun
> Down
> Somebody Like Me
> My Baby Wants a Baby
The Black Keys – Delta Kream
Género: Garage Rock/Blues Rock
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Comecei o artigo por falar nisto e mantenho a opinião. Os The Black Keys começaram a carreira de forma discreta, pelo que foi necessário quase uma década para encontrarem a sua magia.
Em 2010, com o lançamento de Brothers, os rockeiros abrandaram para o apreciar e, um ano depois, El Camino veio rebentar com amplificadores em todo o lado. Obviamente que o estatuto da dupla foi elevado ao de melhor banda rock do mundo, eclipsando os Arctic Monkeys com uma facilidade assombrosa.
Três anos depois, com Turn Blue, já tinham perdido meio gás, e com o lançamento de Let’s Rock a coisa não melhorou muito. Uma década depois de El Camino, somos presenteados com Delta Kream, e embora até a capa do álbum tenha algumas semelhanças com o seu contemporâneo, o conteúdo é que nem por isso. Infelizmente.
Já disse isto muitas vezes e vou continuar a dizer sempre que falar de música: por muito simples que seja criar boa música, é preciso algo mais para criar uma “Gold On the Ceiling”, uma “Lonely Boy”, uma “Little Black Submarines”, uma “Howlin’ For You” ou uma “Tighten Up”. É preciso um rasgo mágico e, durante dois/três anos, ninguém conseguia fazer frente aos The Black Keys. Eram invencíveis.
Com Delta Kream que já se encosta um pouco ao Country Rock de saloon, há pouco (ou nada) que faça justiça à qualidade que a banda tem/teve. Não me interpretem mal: Delta Kream é um álbum de rock bastante satisfatório, mas não há factor diferenciador que me faça pensar que não é só mais um álbum de rock com qualidade. Não há aquela magia.
Classificação do álbum: ★★★½
Músicas a ouvir:
> Crawling Kingsnake
> Stay All Night
> Mellow Peaches
Para não acabar o artigo deste mês com um álbum que ficou um pouco aquém das expectativas quero terminar referindo o novo trabalho dos Mannequin Pussy, Perfect, que não entrou nas contas para os essenciais por ser apenas um EP, mas que merece consideração porque está de facto muito bom. Até ao próximo mês!