Estudo do ACP revela que mais de três quartos da rede ciclável de Lisboa apresenta riscos médios a extremos.
O Automóvel Club de Portugal (ACP) divulgou, esta segunda-feira, a primeira avaliação independente sobre o estado de segurança das ciclovias da cidade de Lisboa. O estudo, realizado com o apoio da Fédération Internationale de l’Automobile (FIA), traça um retrato detalhado da rede ciclável da capital e revela fragilidades significativas.
Os dados agora conhecidos surgem num contexto em que a sinistralidade envolvendo bicicletas e trotinetes tem vindo a aumentar de forma expressiva. Entre 2019 e 2024, o número de acidentes com estes modos de transporte cresceu 48%, enquanto o número de vítimas aumentou 278%. Só entre 2019 e 2023, foram registados, em média, 42 acidentes por dia, dos quais resultaram 11 mortes.
A análise do ACP revela que apenas 24,38% da rede ciclável apresenta um risco reduzido. A maioria (53,53%) foi classificada com risco médio, enquanto 14,91% registam risco elevado e 7,18% risco extremo. Estes resultados indicam que mais de três quartos da infraestrutura existente requerem intervenções urgentes.
As colisões entre veículos motorizados e bicicletas foram identificadas como o principal fator de risco. Por outro lado, os incidentes entre ciclistas são pouco frequentes – 95,64% da rede apresenta risco reduzido nesse tipo de conflito – e os conflitos entre peões e ciclistas também são maioritariamente considerados de risco baixo, em 79,98% dos casos.
A avaliação apontou diferenças relevantes entre várias zonas da cidade. No centro histórico, a largura reduzida das vias e o tráfego misto comprometem a segurança da circulação em bicicleta. Já na frente ribeirinha, a elevada presença de peões evidencia a necessidade de soluções de segregação mais eficazes, de modo a minimizar os conflitos de uso do espaço.
O estado do pavimento foi, em geral, considerado aceitável, com apenas 1,2% da rede a apresentar superfícies escorregadias ou instáveis. Obstáculos fixos e móveis foram identificados com baixa frequência, respectivamente em 2,8% e 0,9% da rede analisada. Contudo, a ausência de iluminação pública em 61,4% da rede representa um risco relevante, sobretudo durante o período nocturno.
Entre os locais identificados como prioritários para intervenção encontram-se a Rua Castilho, a Avenida Almirante Reis e a Avenida de Berna. Em contraste, zonas como o Eixo Central, a Praça de Espanha e a Avenida Duque d’Ávila são apontadas como exemplos de boas práticas no desenho e implementação de ciclovias seguras.
O relatório do ACP aponta para a necessidade de adoptar várias medidas, entre as quais a criação de ciclovias fisicamente segregadas do tráfego automóvel, a melhoria da iluminação, o redesenho de interseções perigosas, a implementação de estratégias de acalmia de tráfego e a requalificação de pavimentos com risco de queda.
Segundo o ACP, este levantamento poderá contribuir para os objetivos traçados pela Estratégia Nacional para a Mobilidade Activa Ciclável 2020-2030, que prevê uma redução de 25% da sinistralidade envolvendo ciclistas até 2025 e de 50% até 2030.