Crítica – A Working Man

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A Working Man é um caso clássico de um filme que falha em todos os aspetos essenciais do seu próprio género. Sem sequências de ação impactantes, personagens minimamente cativantes ou qualquer tentativa válida de inovação ou profundidade narrativa.

Certos cinéfilos vivem o cinema de tal maneira que não aceitam que certos filmes possam ser produzidos com o objetivo simples de entreter o público-alvo, defendendo veemente que todas as obras, sem exceção, devem impactar a audiência de forma inacreditavelmente memorável. Pessoalmente, creio que a sétima arte tem lugar para todo o tipo de histórias, pelo que considero essa maneira de pensar e ver cinema algo restrita e bastante egoísta. Este prefácio serve para justificar as expetativas moderadas e superficiais para A Working Man, obra realizada por David Ayer (Suicide Squad), co-escrita pelo próprio e por Sylvester Stallone (Creed II) e protagonizada por Jason Statham (The Beekeeper).

Levon Cade (Statham) deixou para trás uma carreira militar condecorada nas operações secretas para viver uma vida simples na construção civil. Mas quando a filha do patrão é levada por traficantes de seres humanos, a sua busca para a trazer de volta a casa descobre um mundo de corrupção muito maior do que alguma vez poderia ter imaginado. Esta é a sinopse oficial de A Working Man, palavra por palavra. Parece uma premissa narrativa básica focada numa missão direta de resgatar alguém próximo ao protagonista, mas será que possui mais camadas daquilo que aparenta?

Não. Nem de perto. Aliás, é difícil encontrar algum aspeto em A Working Man que não seja uma variação aborrecida de fórmulas e clichés já conhecidos. Existem obras que cumprem exatamente o que prometem, mesmo que a promessa seja banal e curta. No entanto, o argumento de Stallone e Ayer nem nos padrões do entretenimento mais descomplicado consegue justificar a sua existência. Mesmo com uma das figuras mais populares e fiáveis do género de ação ao leme, os limites deste tipo de narrativas afundam o filme por completo.

Sinceramente, sem a presença imponente de Statham, A Working Man seria uma catástrofe sem remédio. O ator britânico entrega o habitual: socos, pontapés, expressões fechadas, uma dedicação louvável para com as suas próprias acrobacias e a intensidade de badass que o tornou sinónimo de adrenalina no grande ecrã. Descrever o seu personagem, Cade, é descrever os mesmos papéis que representou em The Beekeeper, Wrath of Man, The Meg, The Mechanic e por aí fora… muda-se a profissão, mantém-se o passado misterioso de ex-militar ou ex-agente especial que quer levar uma vida tranquila, mas existe sempre alguma coisa que o obriga a entrar em ação.

O problema fundamental de A Working Man não se encontra apenas na execução, mas sim na falta de ambição. O guião de Ayer e Sylvester Stallone segue a cartilha mais preguiçosa do género: protagonista com motivações genéricas, vilões russos descartáveis e um enredo cujo conflito dramático não passa de “tenho de salvar aquela pessoa porque é importante para mim” – nota, já agora, para Arianna Rivas (Prom Dates) que merecia mais tempo de ecrã como a “donzela em apuros”. As tentativas de introduzir algum peso emocional falham redondamente. Os momentos mais sérios soam embaraçosamente artificiais, com diálogos que roçam o foleiro e uma entrega tão mecânica que dá vontade de rir – e não pelos motivos certos.

Dito tudo isto, um filme de ação pode sobreviver sem uma narrativa rica, tal como refiro no primeiro parágrafo desta crítica. Desde que a ação seja suficientemente empolgante, existe sempre espaço para o entretenimento puro. Infelizmente, nem isso A Working Man consegue oferecer aos espetadores. As sequências de luta, que deveriam ser o ponto forte, sofrem de uma combinação desastrosa de montagem confusa e iluminação excessivamente escura, tornando muitas cenas impossíveis de seguir. A falta de criatividade nas coreografias e o abuso de cortes rápidos só contribuem para o caos visual, anulando qualquer tipo de impacto.

Como se isso não bastasse, o segundo ato de A Working Man torna-se desnecessariamente complexo ao envolver diferentes níveis de máfia russa, quebrando o ritmo da obra. A ação reduz drasticamente de quantidade para dar lugar a um build-up forçado que deveria culminar num terceiro ato explosivo… pena que o clímax seja tudo menos memorável. Em vez de uma set piece final arrebatadora, Ayer encerra com um desfecho tão ou mais previsível e aborrecido que as sequências anteriores, sem um único momento de verdadeiro impacto cinematográfico.

Tecnicamente, A Working Man também não consegue melhorar: a cinematografia de Shawn White e a montagem de Fred Raskin falham em criar qualquer tipo de tensão e até mesmo o uso da banda sonora de Jared Michael Fry aparenta ser mal planeado. Existem breves tentativas de introduzir humor, o que poderia ter ajudado a tornar o filme mais leve e divertido, mas essas cenas são tão escassas e mal integradas que não têm qualquer efeito.

VEREDITO

A Working Man é um caso clássico de um filme que falha em todos os aspetos essenciais do seu próprio género. Sem sequências de ação impactantes, personagens minimamente cativantes ou qualquer tentativa válida de inovação ou profundidade narrativa, David Ayer entrega uma experiência frustrantemente genérica e completamente esquecível. Jason Statham faz o possível para elevar um projeto condenado desde o primeiro rascunho do argumento, mas nem a sua presença carismática consegue salvar uma obra que terminará inevitavelmente como uma das piores do ano.

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