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Se esta é a vida de um mago, é melhor trazerem muito café.

Fairy Tail

Depois de Naruto e One Piece tentarem a sua sorte no mundo dos videojogos, chegou a vez de revisitarmos Fairy Tail e as suas guildas de magos num RPG que acaba de chegar à PS4. Com uma aposta em combates por turnos, um mundo verdejante e várias personagens icónicas do anime e manga, esta adaptação prometia dar aos fãs uma experiência substancial, mas aquilo que encontrei foi um RPG banal e pouco memorável.

Como se trata de uma adaptação de uma famosa série anime, a estória, assim dita a minha experiência, nunca é o foco principal. De facto, o padrão é tão consistente que Fairy Tail já fazia antever a sua falta de originalidade através dos trailers, mas o ponto de partida é, no entanto, curioso o suficiente. Depois de uma longa batalha, acontecimento que marcou o anime e o manga, os heróis de Fairy Tail acabam por dar um salto no futuro, reaparecendo sete anos depois. Com o tempo passado, a guilda perdeu o seu lugar no topo e o grupo, anteriormente conhecido como o mais famoso e importante da região de Fiore, regressou ao fundo do barril, praticamente esquecido. Para regressar ao topo, Natsu e companhia terão de concluir missões, subir de ranking e conquistar a fama que tanto ambicionaram, numa experiência que se foca primeiramente nas personagens.

Para os fãs, algumas interações serão deliciosas e expandirão o mundo da série, mas para quem não seguiu, durante anos, Fairy Tail, é impossível não ver a banalidade dos seus diálogos e a sua falta de criatividade narrativa, seguindo clichés indesculpáveis e momentos “narrativos” que pouco ou nada adicionam ao género. Infelizmente, fica a questão: se o jogo adapta uma boa parte dos arcos do manga, será que o problema está inerente à franquia ou trata-se apenas de uma má adaptação?

Antes de lançar as minhas críticas, quero apenas sublinhar que Fairy Tail não é um mau RPG, mas sim demasiado seguro. Na verdade, parece ser o equivalente a um trabalho mal copiado, onde as mecânicas, a estrutura e sistema de combate são roubados de outros jogos mais competentes, mas que, aqui, funcionam puramente pela sua simplicidade e falta de profundidade mecânica. Fairy Tail é, até certo ponto, um excelente RPG para quem nunca experimentou o género e uma rampa de lançamento, em especial, para os fãs da série. Se procuram, no entanto, uma experiência mais desafiante e profunda, não a irão encontrar aqui.

Fairy Tail

A campanha divide-se em vários episódios, que incluem capítulos separados, e foca-se, como disse anteriormente, na recuperação do ranking da guilda – e não só. Para tal, é necessário concluir missões, desde salvamentos à descoberta de itens específicos ou ao combate contra um número determinado de inimigos. Resumindo, Fairy Tail é composto, fora as suas missões de estória, por fetch quests, das mais básicas, desinteressantes e aborrecidas que podemos encontrar no género.

O jogo obriga-nos a visitar várias vezes as mesmas zonas e a lutar contra os mesmos inimigos até á exaustão. A Gust parece ter total consciência das suas limitações e identifica, quase com medo de perder a atenção dos jogadores, todas as localizações dos itens necessários ou dos inimigos que teremos de eliminar nos mapas para não existir espaço para exploração ou qualquer tipo de atividade secundária. Aceitem uma missão, transportem-se para o local certo, recolham o item e voltem à base: agora repitam até ao final da campanha.

Mas existem boas ideias em Fairy Tail e, num primeiro contacto, parece ser mais profundo do que é na realidade. Por exemplo, a evolução da guilda e das suas instalações. Remetidos a um barracão, a equipa tem de juntar não só pontos, como garantir a melhoria e o crescimento da sua base de operações. A evolução do laboratório, onde podemos criar novos Lacrima, do boletim e da loja de itens está associada a missões específicas e à descoberta de itens importantes, existindo ainda a possibilidade de melhorar a percentagem e probabilidade de recebermos pontos adicionais sempre que usamos estas três opções.

Infelizmente, a Gust não faz mais com a personalização da base, mesmo com o desbloqueio de novas lojas e zonas, relegando grande parte do processo a uma progressão automática. Mesmo com as diferenças estéticas e visuais, onde vemos as lojas a crescer, e a passagem para instalações maiores e mais detalhadas, faltam incentivos reais à sua utilização. Fairy Tail é um jogo estruturado para ser o mais simples e direto possível, onde todos os seus elementos estão numa harmonia perfeita e num sistema de causa-efeito do mais seguro possível: e mesmo assim falha. É uma pena.

O sistema de combate também não é muito surpreendente, mas apresenta os mesmos problemas que já descrevi. Os confrontos são por turnos, com um sistema de grelha que determina a posição de ataque de cada magia (pensem em Enchanted Arms) e Fairy Tail dá a possibilidade de termos uma equipa de quatro membros, onde podemos combinar magos com várias vantagens, desvantagens e habilidades únicas em combate. A nível mecânico, temos o tradicional botão de ataque – que raramente usei –, a opção de usarem magias, itens e uma opção de defesa. A Gust tenta exponenciar o sistema com várias opções, permitindo, à medida que evoluímos as personagens, um contra-ataque rápido, várias combinações – que estão associadas aos botões do comando –, poderes destrutivos e à possibilidade de despertarem as habilidades das personagens (Awakening), que vos dá acesso a um ataque ainda mais destrutivo.

Fairy Tail

Se são fãs do género, de certeza que já se aperceberam que as opções de combate são tudo menos inovadoras; e não o precisavam de ser. No entanto, Fairy Tail insiste em ser previsível, eliminando grande parte do desafio e relegando a ação para combates ora lentos ora aborrecidos. O desafio é quase nulo e existem habilidades – especialmente se explorarem os pontos fracos dos inimigos – que destroem por completo todos os monstros e magos rivais que se atravessem no vosso caminho. As magias são tão fortes que, tal como mencionei, o botão de ataque é quase descartável, não justificando o seu baixo nível de dano. Devo, no entanto, reforçar que aprecio a presença de um número extenso de personagens na equipa, pois encurtam o tempo das batalhas. Infelizmente, isto é um elemento positivo.

A evolução das personagens também é um passo à frente e dois atrás. Ao contrário da maioria dos jogos do género, Fairy Tail despede-se dos equipamentos, das armas e armaduras, e assume um sistema de Lacrima. Estes cristais, que podem ser criados no laboratório, têm vários níveis de efetividade e adicionam novos elementos às personagens. Funcionam como acessórios, por exemplo, onde podem adicionar uma maior resistência a veneno, ataques elementais ou aumentar a percentagem de dano, defesa ou velocidade das personagens. É simples, mas muito funcional. Fora este elemento incomum, o jogo aposta na tradicional evolução por níveis, que aumentam os atributos das personagens e desbloqueiam novas habilidades. Têm também um sistema de ranking para as personagens, que dá acesso a mais atributos e vantagens, juntamente com missões que aumentam o nível de afinidade entre os membros da guilda. É tudo, como podem prever, muito básico, mas, neste campo, Fairy Tail não precisava de surpreender e a sua jogada segura foi a mais acertada.

A nível visual, Fairy Tail não convence, mas mantém um registo muito próximo do anime, com cores fortes e muito vivas, e modelos expressivos, ainda que apenas nas sequências de vídeo. De resto, é um mundo estático, muito repetitivo e com NPCs que se clonam a cada nova esquina, com um design pouco surpreendente. Os menus e UI também não são apelativos e acabam por se tornar, muito pela sua nomenclatura, confusos. O mesmo pode ser dito da banda sonora, que utiliza as mesmas composições até à exaustão. Este parece ser um RPG de baixo orçamento com um preço que não justifica a sua falta de qualidade.

Fairy Tail é um título apenas para os fãs da série ou para jogadores que procurem um RPG mais simples e sem a complexidade inerente do género. É um projeto seguro, muito assente na repetição e nos conteúdos sem imaginação, mas que funciona perfeitamente dentro do que procura fazer. É mediano, não se destaca, mas fora alguns slowdowns, a rigidez das personagens e a falta de criatividade dos cenários, a verdade é que funciona sem grandes percalços. E este é o maior elogio que lhe posso tecer: funciona.

Nota: Satisfatorio

Plataforma: PC, PlayStation 4 e Nintendo Switch
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela Koei Tecmo.

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