Crítica – I’ll Be Gone in the Dark

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I’ll be Gone in the Dark não soube fazer uma escolha clara do seu objeto de estudo nem criar uma narrativa congruente em estilo e semântica. Até mete dó.

I'll be Gone in the Dark

I’ll Be Gone in the Dark, o que dizer? Ou melhor, como dizê-lo? Bom, podia ter sido uma boa série documental. Todavia, existe um grande problema: a série é baseada no livro de Michelle Mcnamara e ela não é interessante. Ao longo dos episódios que vi, algumas passagens do livro dela foram lidas e a escrita não é boa, embora vários entrevistados no documentário tentem convencer-nos de que ela era um génio incrível que escrevia sobre crimes reais de forma extremamente vívida e convincente. A única coisa de que temos a certeza é que ela não tinha um emprego a sério e ocupava-se a investigar crimes na Internet para, depois, escrever sobre eles no seu blog.

Em retrospetiva, a série até não é má porque dá para rir. O único problema é que a série se leva a sério e nela participam vítimas reais do Golden State Killer que nos descrevem os eventos traumatizantes pelos quais passaram. Todavia, nas partes em que a série se foca em Michelle, é impossível não soltar um risinho com o estapafúrdio de alguns momentos.

No primeiro episódio, o espetador ouve um trecho duma conversa dela com um inspetor/xerife (já não me lembro muito bem de qual era o cargo) e o que se ouve é literalmente isto: ela diz uma frase estruturada com quatro ou cinco palavras e o interlocutor diz “yeah” ao que ela responde “yeah” e depois seguem-se mais dois ou três “yeahs”. Talvez esteja a pedir demais, mas e que tal escolher uma parte da conversa em que exista uma troca de impressões relevante?

Depois de ouvir aquele excerto, fiquei a imaginar o quão inútil deve ter sido a conversa ou o quão incompetente foi a pessoa que escolheu aquele segmento e todas as outras que ouviram aquilo e disseram “yup, é isto mesmo!”. Agora que estou a escrever até me pergunto: Será que o problema não foi a Michelle, mas sim a maneira como a decidiram descrever? É que quase todos os excertos de entrevistas ou conversas que eles mostraram sobre ela a fizeram parecer desenxabida. Em todos os momentos que ela é retratada, o contributo dela para a série é nulo.

No entanto, uma coisa é certa, a escrita dela é má. É tão má que, quando algumas passagens do livro estão a ser lidas enquanto uma musiquinha “assustadora” de fundo começa a tocar para criar ambiente, sentimo-nos patéticos por termos que participar naquilo. Mas o pior (ou o melhor) é quando vem uma editora (ou lá o que é) falar do génio literário da Michelle e, para provar o quão intrigante e envolvente esta é, a editora diz-nos que, quando a encontrou, ficou fascinada. E como é que ela tenta provar a sua afirmação? (Eu até já estou a conter uma gargalhada). Conta-nos que, quando a encontrou num bar para falar, bebeu muito e ficou com a bexiga cheia, contudo estava tão envolvida na conversa que decidiu aguentar-se e não ir à casa de banho.

Sou a única que acha isto hilariante? O melhor de tudo é que ela diz aquilo com convicção. Ela acredita mesmo que o que acabou de contar é inacreditável. Tão bom! Não há nada tão delicioso como a pretensão de pessoas sem noção. O pior é que, depois, o documentário dá uma guinada e aparece uma mulher a falar sobre a sua experiência traumática enquanto vítima de um violador. E se isto fosse um sketch era incrível, mas como é real e a generalidade da população tem um certo nível de empatia e compaixão, a série não resulta. As vítimas merecem um certo respeito e dignidade que uma série como esta não lhes dá devido à falta de qualidade.

Infelizmente, vou ter que dar uma nota negativa à série e sinto alguma pena porque as vítimas envolvidas vão ter que ficar associadas a um produto mal concretizado. Mas a verdade é que I’ll be Gone in the Dark não soube fazer uma escolha clara do seu objeto de estudo nem criar uma narrativa congruente em estilo e semântica.

I’ll be Gone in the Dark está disponível na HBO Portugal.

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