A Nintendo celebra o 40º aniversário do famoso canalizador com mais uma coletânea de jogos retirados do baú, desta vez dedicada à dupla Super Mario Galaxy. O que é aparente é a dedicação da Nintendo em celebrar o aniversário de Mario com mais uma coleção que faz o mínimo possível.
Existe aqui um padrão e a Nintendo julga que eu estou distraído. Em 2025, Super Mario celebra o seu 40º aniversário. A mascote da Nintendo é possivelmente uma das mais afortunadas na história dos videojogos ao manter-se revelante ao longo de décadas de existência, ao conseguir saltitar entre jogos, spin-offs, plataformas e até gerações inteiras de novos fãs. Apesar dos seus 40 anos e da fórmula manter-se sempre propositadamente próxima às suas origens, Super Mario ainda retém o cheiro a novo, sem o travo ao bafio que tanto se apoderou de outras séries e mascotes rivais. Contra todas as expetativas, Mario continua tão relevante como há 10, 20 ou 30 anos, se calhar talvez até mais, graças à sua rentrée nas adaptações cinematográficas e na estreia como mascote de parques de diversões internacionais.
O que é também uma certeza, sem tentar desvirtuar o sucesso da série, é o quanto a Nintendo adora dar o mínimo possível aos seus fãs. Talvez a gigante japonesa esteja tão confortável no topo do pódio que sabe perfeitamente que o mínimo é garantia de sucesso porque as suas séries e projetos vivem além das expetativas da indústria dos videojogos. Super Mario é uma entidade singular, independente e que existe num patamar que poucos conseguem alcançar. Esta postura nasce de uma relação pouco saudável entre a Nintendo e os seus fãs, que, acredito, tornou-se ainda mais implacável após as críticas mordazes de jornalistas e críticas durante a era da Nintendo Wii, e a sua falta de hardware capaz de rivalizar com as restantes consolas no mercado, e depois com o lançamento problemático da Nintendo Wii U, e a sua falta completa de videojogos e bom senso. Com a chegada da Nintendo Switch, uma profecia parecia ter-se concretizado e a Nintendo voltou ao topo da cadeia alimentar, o predador alfa, a empresa que veste as calças e controla tudo e todos. Esta popularidade roça quase o fanatismo desenfreado e depois de anos de tormenta e promessas quebradas, os fãs não podem admitir que a Nintendo caia novamente no esquecimento ou que se arrisque a perder o estatuto que alcançou durante a geração anterior.

Talvez esteja a deixar-me levar por fantasias e teorias de conspiração enquanto tento compreender o que leva a Nintendo a ser tão fria, calculista e igualmente incompetente quando quer. Posso estar a exagerar e a falhar completamente o alvo, mas há aqui um padrão que deve ser evidenciado. Super Mario Galaxy + Super Mario Galaxy 2 não é o início do problema, é a sua continuação. Estamos a falar da celebração dos 40 anos de Super Mario e a Nintendo presenteia-nos com uma coleção de dois jogos absoluta e objetivamente incríveis, quase intocáveis na sua forma e ainda mais na sua intemporalidade, mas com um preço absurdo e com melhorias mínimas para justificar a sua revenda. O padrão é que isto já aconteceu antes, muito antes da Nintendo Switch e continuará a acontecer. Super Mario All-Stars Limited Edition, Super Mario 3D All-Stars e agora Super Mario Galaxy + Super Mario Galaxy 2 completam assim um triângulo de celebração insatisfatória de uma das séries mais importantes da indústria. Tudo a um preço absurdo, incompreensível, desumano, mas coleções que foram igualmente sucessos durante o seu lançamento.
No fundo, a Nintendo não falha e é preciso compreender isso. Estas coleções podem ser criticadas, e eu continuarei a criticá-las – depois de vários anos, a minha sorte é a Nintendo não ter uma equipa de assassinos profissionais –, mas pouco importa. O sucesso está garantido e este esquema de pirâmide voltará a ser repetido. Em 2020, durante o lançamento de Super Mario 3D All-Stars, as forquilhas ergueram-se perante o preço da coleção, a ausência inexplicável de Super Mario Galaxy 2 e o facto de a edição ser apenas temporária. Cinco anos depois, as forquilhas voltam a erguer-se, mas as compras serão feitas, as justificações serão reformuladas e contextualizadas e a Nintendo continuará nesta sua jiga-joga que só ela sabe fazer tão bem.

Não compreendo como podemos saltar de uma coleção temporária, que foi descatalogada meses depois para especular as vendas, para outra coleção com apenas dois jogos, mais cara e com algumas melhorias para a Nintendo pensar que é mais uma vitória. E é mais uma vitória. Raios partam, a Nintendo ganha sempre. E sabem porquê? Os jogos são incríveis. Isto não é novidade para ninguém: a dupla Super Mario Galaxy é absolutamente incrível. Os dois jogos são imperdíveis para os fãs do Mario e de jogos de plataformas, a mecânica de gravidade é bem utilizada ao longo de vários mundos e níveis inventivos e que jorram criatividade. Os novos fatos complementam a jogabilidade, os controlos por movimento funcionam melhor do que nunca e Super Mario Galaxy 2 pode trazer poucas novidades, fora a presença do adorável Yoshi e de três novos power-ups, mas é ainda melhor do que o primeiro jogo em tudo. Existe uma certa simplicidade e foco na sequela que eu adorei revisitar nesta coleção. Mas 69,99€? Ou 39,99€ para cada jogo, se quisermos comprar em separado? Raios partam isto.
Por mais escárnio e mal-dizer que eu posso atirar contra a Nintendo, o destino desta coleção está traçado. Mesmo que não seja um sucesso gigantesco, será certamente um sucesso, nem que seja modesto. A Nintendo tem um controlo tão absoluto sobre o seu catálogo e os seus fãs que estas remasterizações e relançamentos nascem de um puro e assustador síndrome de Estocolmo. É difícil justificar estes lançamentos fora do espectro capitalista desta indústria e custa assistir à trajetória que a Nintendo assumiu nos últimos anos (na verdade, aprimorou, mas essa é outra questão). Se não estranhei o preço da Nintendo Switch 2, estas coleções têm o efeito oposto, deixam-me enervado, confuso, triste e revoltado porque sei que esta é a direção da indústria há anos. Em 2030, quando Super Mario celebrar o seu 45º aniversário, os fãs irão receber de braços abertos a nova “Super Mario All-Stars 2D & 3D Collection”, que incluirá todos os jogos por *apenas* 100€. Vamos todos celebrar! Afinal vai ser possível “jogar tudo numa só plataforma”. Até à próxima consola. E depois a próxima. Até ao final do universo.
Cópia para análise cedida pela Nintendo Portugal.
