Ignorando a natureza de jogo enquanto serviço, Sonic Racing: CrossWorlds é mais uma aposta sólida dentro do género de corridas de kart, com um jogo de arcada divertido, descomplicado e positivamente viciante.
Num ano em que Mario regressa às pistas e abre as portas ao mundo aberto com Mario Kart World, e Kirby também se prepara para acelerar em Kirby AirRiders, a SEGA coloca Sonic e amigos novamente ao volante, com mais um jogo de karts divertido, rápido, digno de ocupar os serões com os nossos amigos e, claro, com gimmicks que o tornam tão diferente dos rivais como de jogos anteriores da série Sonic Racing.
Apesar da pressão de abrir e expandir as pistas – que Mario tão bem fez no início do verão -, Sonic Racing: CrossWorlds mantém-se fiel ao género com circuitos fechados, time trials, campeonatos e modos online bastante focados, mas agora, como o nome indica, há algo que chega para achincalhar a fórmula. Depois de Sonic & All-Stars Racing Transformed ter popularizado a mecânica da transformação de veículos, Sonic Racing: CrossWorlds vem transformar as pistas, naquele que é um dos aspetos mais divertidos e emocionantes de cada corrida, pois nunca é bem claro aquilo que vamos encontrar.
Com uma extensa seleção de pistas, cada corrida, por defeito, é composta por três voltas: uma completamente normal, uma segunda “surpresa” e uma terceira que é tal como a primeira, mas com pequenas alterações – normalmente atalhos e novas zonas abertas. É na segunda fase que as corridas se tornam emocionantes, dado que o jogador, ou um rival que esteja em primeiro lugar, pode escolher rapidamente entre duas outras localizações, com portais que se abrem para outros mundos e pistas inspiradas no legado de Sonic. É uma mecânica que remistura pistas, tornando as partidas mais emocionantes e desafiantes, até porque nem sempre coincidem com o perfil dos jogadores através da escolha dos veículos, cujas categorias se dividem em velocidade, condução e arranque.

A diversidade de ambientes e de pistas é excecional, com mais de 20 circuitos no lançamento do jogo, inspirados em ambientes de jogos da saga Sonic e não só – onde se incluem também circuitos inspirados em jogos como Minecraft, já disponível no momento de escrita deste texto, e futuramente em SpongeBob, por exemplo. Os circuitos são sinuosos, bem decorados, dinâmicos e bastante vivos, com armadilhas e obstáculos a cada esquina e cheios de curvas longas para colocar os veículos de lado e ganhar o delicioso boost.
A experiência de visitar e admirar estes cenários é enriquecida pela forma como navegamos neles, a altas velocidades, seja de lado a fazer drift ou com a visão em túnel com um boost especial, naquela que é uma jogabilidade tão divertida como viciante, onde, partida após partida, a vontade de continuar a jogar, a somar pontos, bater rivais e ganhar taças é uma constante. Com um sistema de controlos bem básico, o jogo é tão fácil de controlar como de dominar. Com aceleração num botão, drift no gatilho, controlo nos analógicos e uso de habilidades nos botões de ombro, cabe ao jogador manter apenas as personagens em pista e dançar ritmicamente, curva após curva, apanhando anéis e itens e apontando para a meta.
Apesar de conter todos os elementos tradicionais de um jogo de karts, Sonic Racing: CrossWorlds é mais um jogo de tentar chegar à meta o mais rapidamente possível do que controlar a posição ou ser um jogo de combate, como o seu rival Mario Kart. Em função disso, Sonic Racing: CrossWorlds acaba por ser muito mais acessível e, para alguns, potencialmente mais divertido, até porque é menos penalizante. Existe uma seleção de itens ofensivos que colocam travão aos oponentes – e, quando usados em nós, também nos param -, mas raramente encontramos algo ao nível de uma Blue Shell que nos atira imediatamente para o fundo da tabela, ou outros itens que causem rage quits instantâneos. A vitória acaba por depender mais da destreza e da dança da pista, evitando obstáculos e mantendo a velocidade, do que propriamente de limpar os nossos oponentes do caminho.

Para ajudar a isso, Sonic Racing: CrossWorlds conta com um pequeno sistema de progressão que é rapidamente completado ao fim de vários torneios, desbloqueando slots com pequenos gadgets, que podem ser misturados com perfis antes de cada prova. Para além de podermos escolher a nossa personagem e personalizar os nossos veículos com determinadas características, estes perfis podem definir o nosso sucesso, especialmente em provas mais difíceis. Uns oferecem boost no início das partidas, outros melhor controlo dos veículos, acesso a habilidades raras, magnetismo de anéis, recuperação rápida, equipar até três itens, melhores truques no ar e muito mais, oferecendo uma flexibilidade e personalização extras. Para além destes elementos, o título também oferece algumas opções de acessibilidade mais relaxantes, como assistência de condução, de truques e aceleração automática, que são bastante convidativas para jogadores mais casuais, permitindo o foco noutros elementos durante as partidas.
Sonic Racing: CrossWorlds conta também com uma apresentação divertida e festiva, com tons vibrantes e uma excelente recriação das personagens e ambientes com recurso ao Unreal Engine. Aposta, como é óbvio, numa direção artística cartonesca e bem distante do fotorrealismo, mas com visuais extremamente claros e agradáveis. O jogo é extremamente fluido e com apresentação muito sólida, mas ainda assim limitado pelo framerate trancado nos 60 FPS, até no PC, e pela falta de suporte de HDR – que seria incrível dada a fantástica qualidade de imagem do jogo e dos tons vibrantes e coloridos que apresenta.
Ainda na apresentação, também se destacam as interações com personagens rivais – que dão um dinamismo e vida interessante às partidas, envolvendo-nos em pequenas “histórias” momentâneas -, assim como a sua incrível banda sonora – com centenas de temas, remisturas originais e até alguns temas licenciados, que não só dão uma nova camada de vida e dinâmica às corridas, como puxam pela nostalgia com fantásticas recriações de temas de jogos de Sonic mais antigos.

O aspeto menos positivo de Sonic Racing: CrossWorlds é, no entanto, a sua natureza de jogo enquanto serviço. Apesar de ter um campeonato interessante e bem composto, não há grande urgência em “jogar para desbloquear”, mas muitos incentivos para participar em eventos online, comprar o battle pass e aguardar pelo lançamento de novas personagens no futuro, mesmo que estas já apareçam de alguma forma no menu de personagens. É como se, para além de um jogo enquanto serviço, ainda existisse como um early access, apesar de já ser um produto final.
No entanto, este aparte não impacta as horas de diversão passadas em Sonic Racing: CrossWorlds. Um jogo muito fácil de pegar e de jogar, uma verdadeira experiência de arcada onde não importa muito completar o jogo e desafios, mas sim apenas acelerar e vencer. Pode não ser o jogo mais complexo e profundo, mas é, por vezes, o suficiente e o necessário num jogo de karts.
Cópia para análise (versão PC) cedida pela Ecoplay.