Com Trails in the Sky 1st Chapter, a Falcom decidiu regressar ao início da série Trails e dar aos fãs um dos melhores remakes do ano.
A popularidade e longevidade da série Trails são atualmente as suas maiores inimigas. A extensa saga da Falcom, equipa também responsável pela série Ys, é um marco no género ao expandir-se por vários capítulos diferentes, desde sub-séries a spin-offs ou a duologias que, noutra franquia, existiriam independentemente uma das outras, mas não em Trails. Cada capítulo é, de facto, uma nova entrada na prolongada narrativa que cobre toda a mitologia de Trails e dos seus continentes em guerra, alterando constantemente de ponto de vista com novas personagens, mas mantendo um coeso e admirável fio condutor ao longo de mais de 20 anos de existência.
É uma consistência admirável, sim, mas também intimidante. Afinal, por onde começar com a série Trails? Podemos abraçar o classicismo das versões originais de Trails in the Sky ou saltar diretamente para os lançamentos mais recentes, como Trails Through Daybreak, com melhores mecânicas e um motor de jogo que modernizou finalmente a saga da Falcom? Os fãs certamente terão as suas respostas, mas algo me diz que nem todas serão unânimes e a questão manteve-se: qual o melhor ponto de entrada para a série Trails? Com o remake de Trials in the Sky, agora apelidado de 1st Chapter, a questão ficou resolvida: este é o ponto perfeito para entrarem na série da Falcom.
Trails in the Sky 1s Chapter é um excelente remake porque moderniza e melhora sem destruir o que já tinha tornado o título original num nome sonante do género RPG. A modernização é sobretudo visual, com Liberl a renascer através do novo motor gráfico da Falcom, com cenários mais detalhados e diversificados, tanto exteriores, como interiores, conseguindo estabelecer uma maior sensação de liberdade e expansividade até nos campos que interligam as zonas principais da região. Ainda que sintamos alguma falta de polimento e texturas menos modernas em alguns casos, a verdade é que a Falcom soube como e onde atacar neste revivalismo da saga e sentimos isso especificamente no design das personagens e nos seus modelos coloridos, detalhados e ricos em animação.
O que me surpreendeu neste remake foi a forma como a Falcom expandiu o sistema de combate, agora dividido em duas frentes que se complementam perfeitamente. O primeiro é um sistema de combate mais ativo, quase como um RPG de ação, onde temos à nossa disposição um leque limitado de ataques e habilidades, mas que servem para eliminar hordas pequenas de monstros ou então atordoar as criaturas mais imponentes. A qualquer momento, podemos alterar o sistema de combate e assumir um estilo mais familiar para os fãs da série Trails, onde a ação passa a dividir-se por turnos, com uma ordem de ataques e um maior foco na estratégia. Aqui Trails in the Sky segue o esquema basilar e familiar do género, com vários comandos à disposição, desde magias a habilidades e ataques combinados. Com um sistema de evolução centrado na utilização de Ornaments e Quartz, que determinam as magias e atributos para cada personagem, Trails in the Sky 1st Chapter é muito mais profundo e desafiante do que esperava, ainda que sem grandes novidades. Mas o que importa é que se assume como um excelente RPG e como a porta de entrada que faltava para limpar a intimidação que muitos jogadores ainda sentiam sobre a série da Falcom.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Acttil.