Shooty Shooty Robot Invasion – Review: A revolução vai ser jogável

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Com uma arte cheia de personalidade e humor sarcástico, Shooty Shooty Robot Invasion apresenta-se como aventura na primeira pessoa que tinha tudo para ser um dos jogos indies do ano, mas um sistema de combate pouco empolgante e uma narrativa demasiado invasiva condicionam as ambições desta sátira americana

Não quero ser demasiado cruel ao dizer isto, mas tentem compreender onde quero chegar. Depois de passar algumas horas com Shooty Shooty Robot Invasion, fico a pensar se não funcionaria melhor como um projeto de animação ou então uma visual novel, algo mais centrado na sua arte e narrativa, do que um jogo de ação na primeira pessoa com níveis em formato semi-aberto, onde temos de parar uma invasão robótica enquanto ajudamos os habitantes de Amerika com tarefas tão mundanas, como aparentemente cómicas. Shooty Shooty Robot Invasion vive tanto da sua arte e da sua identidade visual que a jogabilidade quase parece ser um elemento descartável nesta grande sopa de referências e longos diálogos, em jeito de tiradas humorísticas e contra-cultura, que se torna pouco memorável ou obrigatório.

Shooty Shooty Robot Invasion é o tipo de jogo que eu deveria estar a elogiar com todos os floreados do meu limitado dicionário, evidenciando o quão as cinemáticas são (quase) sempre cómicas e bem escritas, com personagens divertidas e com designs memoráveis, cujos diálogos são tão caóticos e repletos de vida, como são capazes de sufocar o ritmo devido ao nível elevado de piadas, trocadilhos e referências por segundo. Existe aqui uma alma antiga, como se estivéssemos a ver uma série perdida no tempo, algures saída dos anos 90 e com fortes influências em títulos como Earthworm Jim, sem receio de ir a temas e imagens mais escatológicas ou humor brejeiro para vender o seu universo ultra-capitalista e exagerado de uma América do Norte que já não está tão longe da sua realidade; onde notícias falsas e descartáveis, lado a lado com revelações preocupantes e quase apocalíticas, como uma invasão robótica que é ignorada devido aos debates presidenciais ridículos que decorrem em simultâneo.

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Shooty Shooty Robot Invasion (Buddy Darkstar)

Este é um jogo que funciona dentro do seu caos e que se recusa a ser menos do que ruidoso, mordaz e até desconfortável, e podemos sentir isso através da direção das cinemáticas e do design quase inacabado ou aparentemente amador das personagens e dos vários níveis de Shooty Shooty Robot Invasion. Existe uma falta de acabamento, como se o mundo do jogo tivesse sido materializado contra as próprias vontades do seu criador, irreverente e repleto de energia que não podia ser condicionada por meras exigências de polimento ou regras de design. Eu adoro esta faceta de Shooty Shooty Robot Invasion, esta confusão visual e sonora, onde o humor reina em todas as missões principais e secundárias, e até nas interações entre personagens. Há aqui uma forte crítica ao panorama atual, mas visto pelo prisma da contra-cultura, onde o sarcasmo e ironia colidem com o conservadorismo destes Estados Unidos da Amerika.

No entanto, estes excessos são também um dos maiores problemas de Shooty Shooty Robot Invasion. Se a irreverência é o ponto de partida, esta acaba também por condicionar o jogo a ser muito previsível. O humor é bem-vindo e as cinemáticas principais são divertidas e com bom ritmo humorístico, utilizando perfeitamente os planos e enquadramentos para criar mais situações cómicas, mas quando saímos destes momentos, Shooty Shooty Robot Invasion é apenas cansativo devido ao nível elevado de diálogos que nunca mais terminam. Muitas vezes, a piada já foi feita, a punchline já é mais do que conhecia e o jogo continua, ainda assim, a insistir no seu próprio humor como se fosse perfeito. Shooty Shooty Robot Invasion é o tipo de jogo que conta uma piada, explica-a de seguida e depois volta a contar a mesma piada para ter a certeza que nós compreendemos a “punchline”. Isto é absolutamente cansativo e acontece em quase todos os diálogos fora das cinemáticas principais, ao ponto de ter ficado sem paciência para interagir com NPC que não estivessem relacionados com as missões principais ou secundárias.

Estes excessos transbordam para a jogabilidade e é aqui que Shooty Shooty Robot Invasion perde ainda mais a minha atenção. Admiro a determinação de Buddy Darkstar em expandir o que poderia ser uma campanha linear e muito segura para um ambiente mais aberto, onde temos várias zonas exploráveis com conteúdos adicionais e uma sensação de exploração saudável com níveis muito mais verticais do que esperava, mas o level design é pouco interessante e existe pouco para descobrir nesta América do Norte mecanicamente previsível. Se os diálogos e interações não vos convencerem, há muito pouco para descobrir em Shooty Shooty Robot Invasion e a nossa motivação para explorar os vários níveis decresce exponencialmente porque a navegação, salto e dash não são tão satisfatórios como poderiam ser.

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Shooty Shooty Robot Invasion (Buddy Darkstar)

O que também não ajuda é o fraco sistema de combate. Os confrontos contra os robots seguem quase sempre um formato de arena, onde ficamos presos a um local enquanto lutamos contra hordas de vários tipos de criaturas metálicas. Os robots não são propriamente inteligentes, mas são agressivos e é necessário estarmos sempre em movimento para evitar os seus ataques. A única forma de ataque é o nosso leque de armas, desde pistolas, uzis, até a martelos enormes e espadas, que variam de acordo com o nível. O problema é que o sistema de mira não é impecável e os confrontos nunca são propriamente inventivos, focando-se demasiado na sobrevivência contra hordas e pouco mais. Mesmo as batalhas contra bosses não são empolgantes, fora os diálogos cómicos e situações inesperadas que surgem desses confrontos, mas em termos de dificuldade e desafio, Shooty Shooty Robot Invasion oferece muito pouco.

Enquanto escrevia a minha análise, deparei-me com uma publicação de Buddy Darkstar nas redes sociais. Ao que parece, Shooty Shooty Robot Invasion foi um enorme flop, ao ponto de ter colocado o criativo numa situação precária e à procura de trabalho. Foi aqui que parei e pensei sobre as minhas palavras. A minha opinião não mudou e continuo a ver Shooty Shooty Robot Invasion como um projeto repleto de boas ideias, mas com uma finalização que não cumpriu as ambições do seu criativo. No entanto, é impossível não sentir o desespero e tristeza de alguém que tentou criar algo único e pessoal, mas que não conseguiu alcançar um público que apoiasse o seu projeto. Mesmo com os seus problemas, existe muito para apreciar em Shooty Shooty Robot Invasion e defendo que a arte e cinemáticas são dois destaques, mas enquanto videojogo, seja no PC ou na Steam Deck, com teclado e rato ou comando, o pico de qualidade nunca é atingido. É uma pena, mas é também sinónimo da história de tantos outros produtores independentes que arriscam e nem sempre acertam – porque é impossível acertar sempre.

Cópia para análise (versão PC) cedida por Buddy Darkstar.

João Canelo
João Canelo
Crítico de videojogos, Guionista, Professor e o responsável pelo melhor mortal nas aulas de Educação Física em 2002. Um aficionado por jogos peculiares.
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