Pipistrello and the Cursed Yoyo é um metroidvania sólido que traz consigo uma arma diferente que influencia positivamente o sistema de combate e puzzles.
Pipistrello and the Cursed Yoyo é o tipo de jogo que sabe o que quer ser. Aqui não existem excessos, até quando o design das várias zonas é demasiado extenso e poluído por inúmeros atalhos subterrâneos que são quase impossíveis de memorizar, e o que se procura é uma aventura 2D, top down, com jeitos de RPG e a alma de um metroidvania.
O mundo urbano de Pipistrello and the Cursed Yoyo é variado, repartido por secções distintas, algumas delas inacessíveis até encontrarmos a habilidade correta e podemos contar com várias missões e tarefas secundárias que servem para ocupar o tempo livre ou então para expandir o leque de medalhas e itens de Pippit, o nosso protagonista. O que é igualmente uma certeza é o foco numa só arma que invoca uma certa nostalgia em todos aqueles que viveram durante os anos 90 e sobreviveram à era do “radical”, do “baril” e do “buga” para contar as suas histórias em pleno 2025: o yoyo.
Pippit é um autoproclamado mestre de yoyo. O seu destino está no laço que liga o dedo indicador ao objeto circular que gira sem tocar no chão, um objeto tão peculiar, como hipnotizante que pode ser fácil de utilizar, mas difícil de dominar. A sua destreza com o yoyo não é bem vista pela sua família, os magnatas Pipistrellos, liderados pela Madame, a tia de Pippit. Para o jovem, os campeonatos de yoyo são o seu chamamento, mas o destino tem outros planos para si. Os Pipistrellos controlam o monopólio da energia e não há ninguém capaz de lhes fazer frente, ou assim pensava a Madame. As várias famílias mafiosas da cidade estão saturadas e decidem parar o domínio dos Pipistrellos de uma vez por todas. Se não fosse Pippit e o seu yoyo, que surgem no momento certo, a Madame teria sido aprisionada para sempre pelos seus rivais, mas agora a sua alma encontra-se encurralada no yoyo do sobrinho. Um destino cruel, mas menos fatal, o que dá a Pippit e à Madame a possibilidade de contra-atacarem e reconquistarem o monopólio da cidade.
O yoyo é o elemento mais importante de Pipistrello and the Cursed Yoyo. É o seu elemento diferenciador e o centro mecânico para a jogabilidade deste metroidvania em pixel art. Não só Pippit é acompanhado pela tia ao longo da aventura, com a sua alma sempre presa no yoyo amaldiçoado, servindo como apoio constante naquele que poderá ser uma homenagem humorística à Navi de The Legend of Zelda, como o sistema de combate e navegação dependem do yoyo em todos os momentos. É isto que adoro em Pipistrello and the Cursed Yoyo, apesar de considerar a mobilidade cansativa e o level design demasiado confuso e repartido por tantos ecrãs alternativos – mesmo com o apoio do mapa, nem sempre é fácil seguir o caminho correto -, esta dedicação a uma mecânica que é utilizada e adaptada para várias situações. Pouco ou nada acontece sem a utilização do yoyo e isso reflete-se até no level design, com corredores e plataformas que só são acessíveis através da corda do yoyo ou então tabelas que repelem o yoyo para que este chegue a itens e a inimigos mais distantes.
O sistema de combate é inicialmente muito simples e familiar, relembrando qualquer outro jogo do mesmo género, com um ataque em 4 direções, vários tipos de inimigos e uma combinação entre confrontos diretos e a navegação de salas fechadas com perigos ambientais ou plataformas que temos de navegar. No entanto, o yoyo surge sempre como uma arma versátil que se destaca pela sua distância. A corda pode não ser infinita, mas é o suficiente para nos dar espaço precioso entre a personagem e os inimigos, permitindo que possamos atacar de um ponto mais seguro enquanto recuamos ou reposicionamo-nos em campo se for necessário. À medida que avançamos, o leque de ataques e habilidades aumenta, tal como seria de esperar, e aqui vemos a introdução das técnicas populares de yoyos. Certamente que sabem o que é “passear o cão”, a técnica que permite ao yoyo ficar parado no final da corda, se o atirarmos com força suficiente na direção do chão. Também acredito que se lembrem do “vai e vem”, onde o yoyo é atirado na horizontal para voltar novamente à mão do jogador, tal e qual um Scorpion em ponto pequeno. A “volta ao mundo” é outra técnica familiar, onde o yoyo dá à volta ao jogador, voltando à mão no final. Estas técnicas podem ser utilizadas em combate, mas também para solucionarmos os vários puzzles lógicos do jogo, o que torna o yoyo numa arma muito versátil, intuitiva e divertida de utilizar.
Pipistrello and the Cursed Yoyo é perfeito para quem está à procura de um metroidvania repleto de humor, mas que esteja cansado da perspetiva sidescroller. É uma combinação entre RPG top down e um jogo de aventura, repleto de conteúdos e personagens, várias habilidades e lutas contra bosses que são verdadeiramente desafiantes. Este é um jogo que puxa por nós e que nos deixa ser criativos em combate, aproveitando as salas para exponenciar as técnicas do yoyo sem que fiquemos em desvantagem. A navegação foi o elemento que menos apreciei, apesar de respeitar a densidade e variedade do mapa principal, mas há muito para apreciar em Pipistrello and the Cursed Yoyo. Por exemplo, o sistema monetário e o facto das habilidades e crachás necessitarem de um período de prestação antes de ficarem disponíveis para Pippit. Uma lembrança constante do mundo capitalista em que estamos a afundar-nos: obrigado Pocket Trap!
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Renaissance PR.