O Po Tat é um restaurante de índole única no lugar certo. Uma experiência inolvidável em qualquer época do ano, seja em viagem, trabalho ou simples lazer.
Chama-se Po Tat e está instalado no piso inferior de um dos marcos da memória histórica dos Descobrimentos, em Belém: o Palácio do Governador. Sobre este monumento, que marca magnificamente a envolvência do restaurante, recaiu um grande projeto de recuperação arquitetónica que lhe deu o charme e luxo de um hotel de 5 estrelas, convertendo-se no Palácio do Governador – Lisbon Hotel & Spa, do grupo Hilton.
A experiência que vamos descrever, com a visita a este Po Tat (em cantonês, “tarte de nata” ou “pastel de nata”) começa desde logo, quando se entra no hotel. Quem chega ao número 117 da rua Bartolomeu Dias já percorreu necessariamente uma via carregada de marcos históricos, todos eles repletos de significado, cujo elemento comum evoca a memória das navegações manuelinas e o tempo das caravelas.
O Mosteiro dos Jerónimos, por exemplo, mesmo ali ao lado, foi erigido, segundo os testemunhos, sobre uma pequena ermida onde Vasco da Gama, numa breve cerimónia religiosa de despedida, terá encomendado a alma a Deus antes de partir ao comando das naus que fizeram a primeira carreira para as Índias (a 8 de julho de 1497). Depois, a vista do jardim do hotel, na zona da esplanada e da piscina, estas voltadas a Sul, proporciona-nos uma espetacular paisagem e a plena sensação de proximidade com os mais icónicos monumentos daquela zona lisboeta, tais como o já citado Mosteiro dos Jerónimos, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, o Padrão dos Descobrimentos e o CCB (belíssimo modelo da arquitetura contemporânea), não esquecendo o próprio mar – mais propriamente, o Tejo – ali em frente.
Depois, o horizonte com a linha do Tejo passando ali em frente, terras de Almada e Trafaria à vista, dá-nos uma paisagem fascinante e completa, com imponentes navios de recreio cruzando as águas do rio e transpondo as vetustas linhas de monumentos antigos como a Torre de Belém.
Mas voltemos ao Po Tat, que abre para o jantar às 19h30. Chegar cedo é o melhor conselho, sobretudo se a ideia é tomar um aperitivo no bar da piscina. O atendimento é excecional, atencioso e descontraído.
O espaço convida ao lazer, à conversa, na companhia de uma boa bebida, num ambiente de jardins naturais repletos de vegetação fortalecido pelos azuis de porcelanas da China, da azulejaria dos antigos lambrins, dos ratãs dos confortáveis cadeirões… – tudo elementos de um fresco renovado, com os tons do luxo e do requinte.
O restaurante, situado numa cave de tetos abobadados em antigo tijolo, e estendendo-se a salas adjacentes, lembra uma um museu renascido, repovoado por uma decoração veronil, sóbria mas muito requintada.
Escolhemos uma mesa redonda de dimensão generosa (também as há retangulares, de estilo familiar, e mais pequenas e intimistas para encontros a dois), assistida por um sofá semicircular de veludo com grandes almofadas a condizer, além de três cadeiras. É uma acomodação espaçosa, mas as malas e os casacos podem também ser deixados num bengaleiro assistido, à entrada do hotel.
Além da localização privilegiada, o Po Tat destaca-se pela sua proposta gastronómica inovadora, que harmoniza a riqueza da culinária oriental com a cozinha tradicional portuguesa. Desde snacks tentadores e entradas de um paladar excecional, passando por pratos principais cuidadosamente elaborados que celebram a fusão de sabores da cozinha chinesa, japonesa e tailandesa, até sobremesas únicas, o Po Tat oferece uma jornada culinária completa, complementada por uma seleção criteriosa de vinhos e bebidas que tornam esta experiência numa das melhores que já tivemos.
O Po Tat, com efeito, não se limita a oferecer uma degustação de pratos exóticos. A filosofia do menu reside na fusão de ingredientes de alta qualidade com técnicas ancestrais e um toque de inovação contemporânea, isto a cargo do seu Chef Executivo, com lugar na praça, André Santos.
Os aperitivos começam logo por ser surpreendentes, pela sua simplicidade e sabor: pão de massa-mãe e manteiga temperada com piri-piri, sal e barrada de mel, o que lhe dá um triplo travo incomparável: doce, salgado e picante – tudo ao mesmo tempo.
Depois os Snacks, numa seleção que combina delicadamente sabores fortes com paladares mais amenos. Propostas como, por exemplo, o Ovo ramen com aioli de atum e alcachofra, Gamba da costa curada, straciatella e harissa (especiaria marroquina com um aroma muito potente) ou o divinal Tiradito de barriga de atum, toranja e óleo de pimento, são uma verdadeira jóia da coroa. São, note-se, miniaturas apresentadas em pequenas taças, mas cujo sabor é, diríamos, de natureza primordial.
Em matéria de entradas, a variedade é vasta, apresentando alguns pratos inesperados e surpreendentes, como as Gyosas de frango e kimchi com molho cho-ganjang, os Cogumelos ostra grelhados com molho de inhame e amendoim, o Wok de lulas com cherovias, algas e alho selvagem, e as Pataniscas de camarão e algas com molho de caril frio.
O Po Tat oferece também uma carta de vinhos cuidadosamente selecionada, com opções que se harmonizam na perfeição com os pratos asiáticos. A sua diversidade engloba vinhos brancos aromáticos e frescos, ideais para acompanhar peixe e marisco, até vinhos tintos leves e frutados, que complementam pratos de carne.
Além da carta de vinhos, o Po Tat dispõe de uma variedade de outras bebidas. Cervejas asiáticas, como a Tsingtao, são uma opção clássica para acompanhar a comida chinesa. A seleção de chás é extensa, oferecendo desde chás verdes refrescantes a chás pretos mais robustos, perfeitos para finalizar a refeição. Sumos naturais, águas aromatizadas e uma seleção de cocktails criativos completam a oferta de bebidas, garantindo que cada comensal encontre a bebida ideal para a sua experiência.
Mas a oferta de deliciosos pratos não se esgota nas entradas. É nos pratos principais que o Po Tat eleva a extraordinária combinação da sua gastronomia tradicional com a culinária exótica do Oriente, apresentando pratos principais que são a tentação de quem quer experimentar sabores picantes, apurados, que deixam uma marca na memória e no paladar.
Para os apreciadores de peixe e marisco, o Po Tat oferece uma seleção que reflete a proximidade com o mar e a frescura dos ingredientes. O Polvo na chapa com puré de abóbora e miso com pickle de folhas shiso, por exemplo, aproxima-se de um prato de teor clássico que nunca desilude, enquanto que o Robalo, girassol batateiro e dashi beurre blanc de algas é daquelas opções que conquistam muitos estômagos – inclusive os nossos! Já os amantes de carne encontrarão opções particularmente atrativas na Presa de porco alentejano grelhada com marmelos shio koji e alface espargo – muito, muito tenra! -, ou no Ribeye de novilho grelhado com puré de batata e molho bulgogi.
Para quem procura algo com um toque mais exótico, a Bolonhesa de novilho coreana com massa de trigo sarraceno ou o Donburi de beringela com pesto de caju e dengaku são uma escolha acertada. Estas opções demonstram bem a versatilidade do menu, que consegue equilibrar ingredientes e condimentos exóticos com elementos da gastronomia lusitana convencional. Os pratos são servidos com molhos picantes e agridoces, tornando a experiência intensa e deliciosa.
No Po Tat experimenta-se, pois, uma miscelânea de sabores que remete para as cozinhas do Sudeste Asiático, demonstrando a abrangência das influências presentes no menu.
Dada a sobriedade dos pratos, recomendam-se acompanhamentos para complementar: Cenouras grelhadas com pomelo e vinagrette de umeboshi; Couve chinesa grelhada com marinada de fermento; Arroz de coco e lima kaffir; ou Esparregado de espinafres com alho e óleo de cogumelos.
Depois, temos um doce final: as sobremesas. É difícil aconselhar, pois cada qual é a melhor e a mais cuidada na confeção que se possa imaginar.
Para começar, há um Gelado de arroz negro, manga e curcuma, com merengue de yuzu. Mas fomos por outros caminhos e escolhemos o Bolo Momo, gelado de maçã assada e chips de sésamo tostado e a Mousse de trigo sarraceno e amaranto, iogurte e caramelo de café – e não nos arrependemos.
É um culminar sublime desta maravilhosa refeição no Po Tat. As influências asiáticas por que o Po Tat se distingue, a combinação de texturas e sabores, a fusão de técnicas clássicas com o sabor distintivo dos condimentos exóticos, resultam numa experiência gastronómica excelente.
Em suma, o Po Tat, no Palácio do Governador, não é apenas um restaurante; é um destino único que celebra o encontro de culturas através da riqueza e diversidade de paladares que aqui se cruzam, num ambiente de luxo e carregado de história. Um local a visitar e revisitar, para quem procura uma fuga gastronómica requintada no coração de Belém.