Encontrem pistas, resolvam casos e explorem este futuro distópico num dos immersive sim mais peculiares atualmente disponíveis para consola.
A experiência poderá variar de acordo com a vossa curiosidade e paciência em interagir com as várias mecânicas e sistemas presentes na jogabilidade de Shadows of Doubt, mas é impossível negar a profundidade da experiência que a ColePowered Games conseguiu injetar no seu jogo de aventura e investigação. Não é por acaso que Shadows of Doubt é, acima de tudo, um immersive sim, onde a agência do jogador é constantemente recompensada pela presença de vários caminhos e opções alternativas ao objetivo principal, criando uma rede de escolhas que mudam por completo uma missão devido à nossa abordagem.
É difícil dissecar todos os sistemas de Shadows of Doubt porque dependem muito daquilo que queremos retirar da sua jogabilidade. Como um detetive, num futuro distópico, nós temos vários casos à nossa disposição que podemos resolver como e quando quisermos. Com uma cidade para explorar, os limites são poucos e quase todos são única e exclusivamente dependentes da nossa curiosidade e determinação. Shadows of Doubt é o tipo de videojogo onde é necessário investigar tudo, como as condutas que interligam os apartamentos de hotel ou os papéis que foram atirados para o lixo e que podem esconder a combinação que tanto necessitávamos. Tudo pode ser uma pista e todas as pontas soltas podem ser investigadas, neste mundo procedural e em constante mutação.
Shadows of Doubt é um jogo intimidante se não tiverem grande experiência com o género. Para introduzir os jogadores às suas mecânicas e mundo expansivo, o jogo oferece um nível tutorial com um caso mais linear para resolverem. Este caso é o Ponto Zero porque abandona a natureza procedural dos restantes casos, e aqui tudo é fixo e pré-definido para auxiliar os jogadores a compreenderem a movimentação e exploração na primeira pessoa, mas também sistemas mais complexos como a ligação de provas e investigação de documentos e ficheiros específicos. Iniciamos este primeiro caso no nosso apartamento, acabados de despertar, e encontramos uma primeira pista debaixo da porta, onde sentimos rapidamente as influências noir a jorrarem pela música e direção de arte. Com a primeira pista, somos levados a procurar uma morada nos registos que nos encaminhará para a casa de uma possível vítima, desaparecida há dias. Sem a nossa agência, a morada não será descoberta e essa é a primeira grande lição deste tutorial: nada nos será dado de bandeja e a nossa atenção é soberana na resolução da maioria dos problemas.
Durante o tutorial, somos também apresentados às ferramentas do nosso detetive, como um analisador, relógio e um descodificador que nos permitem encontrar pistas adicionais às que se encontram espalhadas pelos cenários. Com uma morada disponível, que interligamos com a identidade da possível vítima – através de um quadro de provas, sempre acessível através do menu do jogo –, o mundo de Shadows of Doubt expande-se. Quando chegamos às ruas da cidade, as opções aumentam e cabe-nos descobrir para onde precisamos de ir. Temos o nome da rua e o número da porta, e agora temos de perceber onde fica a localização do apartamento e como podemos chegar lá. É possível questionar os vários habitantes e pedir direções, mas podemos também observar os sinais e letreiros que decoram a cidade. Com paciência e curiosidade, iremos sempre encontrar o nosso destino.
A morada é o primeiro passo numa longa cadeia de ações que ainda temos pela frente. Podemos ter a localização da nossa vítima, mas como entramos no seu apartamento? Utilizamos as condutas? Forçamos a entrada? Mas será que encontramos um ângulo morto para evitar o olhar das câmaras de segurança ou existirá um vizinho com uma chave adicional? A resposta é a que quisermos e nenhuma está errada, desde que consigamos entrar no apartamento. Assim que entramos no interior, o apartamento torna-se numa cena de investigação. Um corpo está caído no chão da sala, mas tudo parece estar intocado. Então começamos a investigar. Os emails no computador pessoal, as anotações num bloco de notas, as folhas amarrotadas e espalhadas pelo chão, as malas escondidas por baixo da cama: tudo poderá ser importante para o nosso caso. As pistas devem ser analisadas e interligadas à medida que chegamos a possíveis suspeitos. O que levou a vítima a fazer uma chamada suspeita para um colega? E quem é esse colega? Uma solução solucionada, outras tantas por fechar. E daqui, Shadows of Doubt continua a crescer e a ganhar contornos que irão satisfazer os fãs de aventura.
Talvez não seja um jogo ideal para os menos pacientes, mas Shadows of Doubt é muito recompensador se explorarem bem os seus sistemas. Na PS5, a otimização podia ter sido mais limada e a movimentação da câmara nem sempre é perfeita, mas é o efeito negativo de um mundo extenso, detalhado, com vários espaços interiores e exteriores, objetos interativos e em demasia, que cria um cocktail técnico complexo, agravado pelo elemento procedural que dita o design da cidade. Uma coisa é certa, Shadows of Doubt é uma experiência singular nas consolas e que se revela mais profunda e complexa do que a maioria dos títulos do género, algo que o torna fácil de recomendar.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela FireshineGames.