Numa escola assombrada, ninguém consegue ouvir os nossos suspiros de puro aborrecimento.
Enquanto os frames congelavam entre transições de planos, os assets demoravam a fazer loadings e os modelos das personagens, desprovidos de emoção e animações minimamente realistas, tentavam acompanhar as falas sem sucesso, criando uma ambiência quase febril onde nada parecia estar no seu lugar, os sinais anteviam uma experiência pouco satisfatória. Mas quando se trata de um jogo de terror, produzido pela Root N Studio – composta por antigos membros da SONNORI, responsáveis por White Day: A Labyrinth Called School -, o que importa é a jogabilidade, a ambiência e a forma como o horror está fundamentalmente ligado às mecânicas. Infelizmente, White Day 2: The Flower That Tells Lies é uma sinfonia onde as notas estão fora de tempo e ordem, cujo potencial pode ser sentido, mas raramente visto e que se torna cansativo devido à dependência por uma estrutura demasiado rudimentar para o tipo de terror que procura proporcionar aos jogadores.
Esta reação negativa talvez tenha origem na minha inexperiência com a série. Tanto a versão original, como o remake de White Day, lançados respetivamente em 2001 e 2015, escaparam-me. Não há um conhecimento prévio sobre o que a Root N Studio procurou adicionar ao género de terror, à exceção do seu foco num ambiente escolar, à semelhança de Iru! e Detention, cujos corredores transformam-se em verdadeiros labirintos enquanto tentamos fugir, na pele de Hee-Min Lee, do terrível cuidador que vigia as salas e alas da escola. White Day parecia antecipar, mas também acompanhar as modas que se popularizaram no género de terror, como o foco na busca de chaves e ferramentas, na resolução de puzzles e, acima de tudo, na presença de um inimigo indestrutível, eliminando a necessidade de combate em prol de uma jogabilidade mais centrada na furtividade.
Se White Day 2: The Flower That Tells Lies for um espelho para o original, apropriando a sua jogabilidade e estrutura, ainda que adicionando novas mecânicas, então sinto que evitei uma possível dor de cabeça. White Day 2: The Flower That Tells Lies não é para mim, não só porque me sinto saturado da experiência furtiva em jogos de terror, que nos coloca em fuga de um inimigo principal que só pode ser atordoado e nunca eliminado, mas também porque nunca encontra um loop de jogabilidade que não seja absolutamente aborrecido.
Colocando de parte os seus problemas técnicos, que são inúmeros – como a baixa fidelidade visual, más animações, bugs constantes, ausência de um bom sistema de iluminação, UI irregular e nem sempre presente em campo, modelos de personagens pouco originais e visualmente pouco apelativos –, a escola de Yeondu é um dos cenários mais exasperantes que já encontrei neste género. As salas são maioritariamente vazias ou desprovidas de um propósito, não existem espaços para esconder-nos – um enorme erro quando se trata de um jogo que depende de furtividade – e só são úteis para encontrarmos um item, documento ou ferramenta específicas que necessitamos para um dos puzzles. O género de terror constrói-se maioritariamente sobre cenários extensos, interligados, cujo progresso é limitado por puzzles e a procura por chaves que abrem novas zonas, mas White Day 2: The Flower That Tells Lies pouco adiciona ao seu level design e deixa-nos com corredores e salas vazias, cuja distância entre pontos de interesse é demasiado sofrível devido à ausência de atividades e oportunidades de ação e furtividade.
Então arrastamo-nos pela escola a uma velocidade insatisfatória para a quantidade de salas, corredores e andares que temos de explorar. Fora a aquisição de itens e o desbloqueio de portas anteriormente fechadas, o loop resume-se à exploração e à furtividade. Pelos corredores da escola, um polícia persegue-nos, supostamente possuído e agora inconsciente, apenas focado na nossa captura. Acompanhado por Jung Soo-jin, Jang entrou na escola sem autorização, recentemente encerrada devido a um incêndio que matou uma aluna, e este polícia, tal como os fantasmas que habituam no edifício, procura pará-los. É o equivalente ao Nemesis, da série Resident Evil, ou os monstros da saga Amnesia, mas com padrões de movimento previsíveis, cone de visibilidade pouco percetível e uma IA que só tem dois modos: em busca e em ataque. Como não podemos eliminar este inimigo, podemos atordoá-lo e aproveitar para fugir. Para tal, temos à nossa disposição câmaras fotográficas descartáveis, cujo flash é suficientemente forte para cegar temporariamente o polícia e permitir que possamos fugir.
Os puzzles são, no entanto, bastante competentes e até desafiantes, requerendo alguma atenção e pesquisa. Fora a desnecessária movimentação pela escola, devido à falta de melhores atalhos e oportunidades de interação, a busca por pistas é envolvente e é interessante perceber como White Day 2: The Flower That Tells Lies deposita tantas esperanças na atenção e paciência dos seus jogadores. Algumas pistas estão presentes nos cenários, mas outras estão escondidas nos documentos e diários que encontramos espalhados pela escola e é essencial estar atento ao nosso redor. Um dos puzzles, por exemplo, envolve não só a descoberta de uma lista, como a investigação de troféus de competição, obrigando o jogador a triangular a informação para chegar aos códigos necessários para abrir os cacifos no clube de ciclismo. Quando White Day 2: The Flower That Tells Lies se desvia dos puzzles e mergulha na monotonia da escola, a experiência cai a pique, mas acredito que exista alguma variedade de desafios para aqueles que gostam de um bom quebra-cabeça.
O género de terror, à semelhança do humor, é dos mais subjetivos do mundo criativo. O que me assusta a mim poderá não vos assustar e vice-versa. O que posso dizer é que White Day 2: The Flower That Tells Lies não só não me assustou, como conseguiu irritar-me com os seus sustos fáceis e sons estridentes, demonstrando mais desespero em surpreender os jogadores do que em criar uma ambiência tensa. Perante esta ineficácia em ser um bom jogo de terror, capaz de me deixar sob alerta, e com uma jogabilidade aborrecida, constantemente condicionada por problemas técnicos, não tive outra alternativa senão abandonar a escola de Yeondu para sempre. A nossa sanidade está primeiro e White Day 2: The Flower That Tells Lies não merece o esforço.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela PQube.