The Union exemplifica as piores caraterísticas associadas ao termo “Netflix flick”, apresentando uma obra previsível e esquecível que falha em quase todos os aspetos essenciais de um filme marcante.
O termo “Netflix flick” não costuma ter uma conotação positiva, bem pelo contrário. Normalmente, é uma expressão utilizada para descrever “mais um” filme genérico, sem ponta de criatividade ou inovação, nem sequer momentos memoráveis através de sequências de ação impressionantes, piadas hilariantes ou, em último recurso, prestações soberbas. Dito isto, o serviço de streaming tem imensos exemplos para argumentar contra esta ideologia negativa sobre as suas produções, logo prefiro oferecer sempre o benefício da dúvida à obra, cineasta e respetiva equipa. The Union não é exceção, apesar das expetativas serem naturalmente baixas.
Afinal de contas, esta mistura de géneros – espionagem, ação, comédia, thriller – não possui uma premissa propriamente intrigante. Mike (Mark Wahlberg) é um mero construtor civil que é empurrado para o mundo de agentes secretos e super espiões quando a sua paixão do secundário, Roxanne (Halle Berry), o recruta para uma missão com consequências fatais para milhares de pessoas. Realizado por Julian Farino (Entourage) e co-escrito por Joe Barton (Encounter) e David Guggenheim (Safe House), The Union não inspirava grande confiança com esta sinopse que dá uma sensação fortíssima de déjà vu…
Infelizmente, o pior confirma-se. The Union nem sequer entra na categoria de “mau filme”, pois não chega a colocar-se em posições com um risco mínimo para gerar desilusão ou surpresa. Como cinéfilo, acredito na ideia de que o pior que um filme pode ser é esquecível. E esta obra não possui uma execução de Farino cativante o suficiente, nem um argumento minimamente original – Barton e Guggenheim redigem um dos enredos mais formulaicos e previsíveis dos últimos anos – com sequências de ação notáveis, nem prestações que compensem a falta de qualidade destes aspetos.
The Union não contém uma camada de humor palpável para encaixar no género de comédia; não possui ação o suficiente para ser digna de se apelidar de um blockbuster de streaming e, mesmo quando se dedica finalmente a tentar entreter os espetadores, prolonga a grande sequência de perseguição do último ato em demasia, tornando-se simplesmente absurda e desinteressante; usa e abusa dos clichés de narrativas de espionagem de tal forma que, em menos de três minutos após o início do filme, todas as eventuais revelações e reviravoltas referentes a potenciais traidores tornam-se evidentes – e, aqui, até o casting de certos atores leva a que se remova qualquer fator surpresa; e, como cereja no topo do bolo que mais parece de plástico, nem as prestações de Wahlberg (The Departed) e Berry (Monster’s Ball) funcionam totalmente, visto que a sua química não é só é algo estranha, como o próprio filme gasta imenso tempo da sua duração a desenvolver algo que nunca chega a acontecer.
O que resulta em The Union, então? A banda sonora de Rupert Gregson-Williams (Aquaman), prestações individuais de alguns elementos do elenco secundário e um par de momentos em cenas de ação com stunts louváveis. Defendo que um filme pode seguir todas as fórmulas e mais algumas do género respetivo, sem qualquer opinião pré-definida sobre o mesmo… mas a execução necessita obrigatoriamente de ser especial para suportar o peso colocado no público que se encontra a assistir à milésima variação da mesma história.
VEREDITO
The Union exemplifica as piores caraterísticas associadas ao termo “Netflix flick”, apresentando uma obra previsível e esquecível que falha em quase todos os aspetos essenciais de um filme marcante. A sua narrativa formulaica, falta de originalidade, abundância de clichés e personagens de papel tornam-no incapaz de se destacar num mercado saturado de produções semelhantes. Embora alguns pedaços da banda sonora e prestações individuais ofereçam lampejos de qualidade, não são suficientes para resgatar a obra da mediocridade. No final, é uma experiência que dificilmente deixará uma marca duradoura nos espetadores.