Aquando da confirmação do líder dos The Strokes, mas desta vez com o seu outro projeto para o Super Bock Super Rock, poucos foram os que ficaram verdadeiramente felizes. Primeiro porque não existem muitos fãs dos The Voidz cá em Portugal; depois porque é uma banda que não tem estatuto de cabeça de cartaz. E se alguém duvidava disto, bastava assistir a uns minutos do deplorável espetáculo que deixou esta personagem que é Julian Casablancas a cantar para uma Altice Arena vazia. É algo que não se admite, nem se tolera, num festival como o Super Bock Super Rock.
No que toca ao espetáculo, e dado o excelente concerto que Benjamin Clementine tinha presenteado os (poucos) festivaleiros que por ali andavam – este tinha mais estatuto de headliner, vejam lá – o interesse pelos The Voidz era pouco ou nulo.
O concerto, que começou atrasado, tal como aconteceu com muitos outros ao longo do três dias, mostrou logo que algo não estaria bem: “M.utally A.ssured D.estruction”, que iniciou o que seria cerca de hora e meia de espetáculo, ouviu-se com o som bem estridente, com batidas insuportáveis e riffs de guitarras que quase faziam sangrar os ouvidos. Os temas que se seguiram foram, infelizmente, o confirmar daquele que viria a ser um sofrível e temeroso concerto: “Pyramid of Bones”, “Pointlessness”, “Where No Eagles Fly”, “Father Electricity” e todas as outras sofreram do mesmo mal, manchando o que poderia ter sido um bom serão.
Quem estava lá dentro – e eram mesmo poucos – notava algo: era um constante de pessoas a entrar e a sair, pelo menos nos primeiros temas. À medida que o concerto foi decorrendo, a Altice Arena quase parecia um pavilhão que não tinha recebido música. Se estavam ali mil pessoas estou a ser muito generoso. Os que por lá passaram depressa notaram na tristeza – não no sentido lato da palavra – de concerto que ali decorria; muitos saíram a fazer má cara e com as mãos a tapar os ouvidos.
Não se sabe, efetivamente, de quem foi a culpa: se dos engenheiros de som, se da organização ou da própria banda, que, diga-se de passagem, com o uso exagerado de reverb, autotune e distorções nos instrumentos e voz de Casablancas, que mais parecia murmurar do que cantar, nada ajudou.
Casablancas, que não se sabe muito bem o que anda a fazer da vida neste momento, parecia que estava num mundo só seu. Tiradas como “Eu engulo ao primeiro encontro” nem soaram engraçadas, foram só estúpidas.
Já no encore, que ninguém queria saber, Casablanca ainda arriscou em “I’ll Try Anything Once”, demo de “You Only Live Once”, dos The Strokes, mas rapidamente se arrependeu, terminando com outro tema dos The Voidz muito sofrível.
No final de tudo, as queixas eram muitas. Alguém se deu ao trabalho de medir o volume de decibéis que se faziam ouvir na Altice Arena – na última fila do lado oposto do palco registava-se um valor médio de 107 decibéis. Ora, o limite de segurança para o ouvido humano situa-se nos 80 decibéis. Agora imaginem ouvir cerca de hora e meia com um valor perto dos 110db. É vergonhoso, no mínimo.
Basta também vaguear um pouco pelas redes sociais para ler as queixas e ver as fotos de uma Altice Arena vazia que só mancha a imagem de um festival que já nos ofereceu tantas coisas boas.
No final de mais uma edição, muitos são os que pedem um regresso ao Meco. Já temos datas para 2019 – 18, 19 e 20 de julho – mas, até lá, a organização do Super Bock Super Rock precisa de repensar, e muito, a sua estratégia.
Com o cartaz deste ano, os palcos foram sempre bem maiores para os concertos que eram apresentados. Apostar, também, num nome como os The xx, que já tinham passado por cá e tocado para 55 mil pessoas, e, consequentemente, sem novidades para apresentar, e em Julian Casablancas e The Voidz, que se revelou a pior decisão de sempre, foram más jogadas.
Não é assim que se enche um festival. Até o próprio espetáculo dos La Fura dels Baus deixou a desejar, não se percebendo muito bem o porquê de constarem no cartaz oficial.
De momento, apenas o hip-hop está a resultar. Considerado o novo rock, este estilo conquista cada vez mais adeptos e garante verdadeiras enchentes. Será, certamente, uma opção cada vez mais preponderante de um festival que, à beira de completar 25 anos, continua sem rumo definido.