Foi o primeiro nome forte do dia e, consequentemente, aquele que abria os concertos no Music Valley, palco dedicado em exclusivo à música nacional.
Manel Cruz, que edita Cães e Ossos, o seu primeiro álbum a solo em setembro deste ano, acabou por não ter muita sorte com o tempo: a chuva não deu tréguas e o seu concerto ficou pautado por ter apenas algumas dezenas de fãs a assistirem, equipados com capas ou com algo mais alternativo que lhes permitisse proteger da chuva. Ainda assim, o músico portuense não deixou o crédito por mãos alheias e deu um excelente concerto.
Homem de mil e um projetos – Foge Foge Bandido, Ornatos Violeta, Pluto, etc -, Manel Cruz subiu ao palco acompanhado por António Serginho (percussão), Eduardo Silva (baixo, voz) e Nico Tricot (teclado, voz), mas, desta vez, assumindo-se, enquanto projeto, como Manel Cruz e não como outro nome que gostaria de inventar.
Ao subir ao palco às 17h, o músico, desde logo, não deveria contar com uma grande mancha da público; apesar da sua inegável qualidade, ainda andava pouca gente pelo recinto àquela hora, e, mesmo os que por lá andavam, preferiram experimentar as atrações, colecionar brindes ou aconchegar a barriga. Neste caso, até podemos culpar a chuva, o que obrigou muitos curiosos a abrigarem-se por baixo das árvores do Parque da Bela Vista e, por fim, apreciar ao concerto.
Manel Cruz abriu o concerto com um tema novo, onde se ouve o verso “A minha mulher não é minha”. Aliás, o concerto acabou também por ficar pautado por outros temas do álbum a solo: “Beija-Flor”, “Ainda Não Acabei” e “Cães e Ossos”. São temas onde se percebe a abordagem mais pessoal do artista à nossa música, mas, também, sobre aquilo que pensa, pelo que os fãs poderem esperar um disco com temas que não os irão desiludir.
Igual a si próprio, Manel Cruz esteve sorridente e falador, disse que, em palco, graças à chuva, estavam “bem piores porque não tinham capas protetoras”, mas isso não impediu o músico de ficar em tronco nu, como é seu apanágio.
Além dos temas novos, o concerto serviu também para celebrar um pouco da discografia deste homem e dos seus projetos, pelo que fãs de longa data certamente sentiram-se radiados de felicidade quando escutaram “Canção da Canção Triste”, “Estou Pronto” ou “As Nossas Ideias”, dos Foge Foge Bandido; “Sexo Mono”, dos Pluto, ou até “Ovo”.
Já o concerto estava prestes a acabar quando se ouve “Canção da Canção da Lua”, dos Foge Foge Bandido, mas, surpresa das surpresas, houve um “docinho para compensar a chuva”: era “Capitão Romance”, hino dos Ornatos Violeta, aqui interpretada em ukelele.
Foi um concerto que demorou mais que uma hora – parece que a organização fez de propósito para que o músico pudesse fazer o que quisesse em palco – e, faça chuva ou faça sol, uma coisa é certa: Manel Cruz não consegue dar maus concertos.