In the Land of Saints and Sinners aproveita a paisagem irlandesa deslumbrante, uma banda sonora memorável e imersiva, e prestações excelentes, para melhorar um filme cujo argumento é formulaico, previsível e tematicamente superficial.
Num festival de cinema como o de Veneza, as expetativas são mais altas do que em qualquer outro evento cinematográfico. Não só a antecipação para a maioria das obras é muito alta, como a qualidade dos mesmas costuma angariar centenas de nomeações ao longo da temporada de prémios. Logo, é no mínimo estranho ver In the Land of Saints and Sinners no lineup, um filme de Robert Lorenz protagonizado por Liam Neeson. Ambos trabalharam juntos em The Marksman, simplesmente mais um daqueles filmes genéricos esquecíeis que vemos todos os anos sem falta.
In the Land of Saints and Sinners não encaixa nessa categoria, mas também não sobressai tanto quanto devia. Em certa medida, até surpreende, tendo em conta as baixas expetativas. O argumento dos estreantes em longas-metragens Mark Michael McNally e Terry Loane segue uma premissa bastante formulaica. Finbar Murphy (Neeson) é mais um cidadão comum de uma cidade remota na Irlanda, com uma vida calma e serena, mas após a chegada de um grupo de terroristas, Finbar vê-se obrigado a colocar o seu verdadeiro emprego em risco para o bem dos seus amigos e vizinhos.
Um jogo típico de gato-e-rato que já se viu inúmeras vezes no cinema. In the Land of Saints and Sinners não reinventa a roda, mantendo-se uma história superficial ao longo de toda a sua duração. Não explora os seus temas para lá do básico, nem aprofunda as motivações dos antagonistas e personagens secundárias, assim como não ajuda a situar os espetadores sem conhecimento de eventos históricos da Irlanda que, aparentemente, encontram-se essencialmente ligados às ações terroristas. A previsibilidade do enredo também não favorece uma desfrutação mais envolvente.
Dito isto, In the Land of Saints and Sinners também não tenta ser mais daquilo que realmente é. Entendo que pode ser considerada uma desculpa esfarrapada para uma obra que não conseguiu entregar nada de novo, mas a verdade é que nunca senti da parte de Lorenz a intenção de deixar espetadores estupefactos com potencial comentário político-social provocante, mas apenas entreter o público com um crime-thriller simples mas eficaz. E, neste aspeto, defendo que consegue criar um filme de ritmo rápido, sem grandes complexidades e ainda com um par de momentos visualmente mais chocantes.
Tom Stern, diretor de fotografia, aproveita e bem as paisagens irlandesas para construir transições imersivas e bastante agradáveis. O destaque técnico, no entanto, vai para a banda sonora de Great Garbo. A música de fundo é tão bonita, doce e inspiradora que até considero ser demasiado boa para In the Land of Saints and Sinners. Em certos pontos, até dá a sensação de se sobrepor ao enredo e às prestações dos atores, oferecendo mais valor emocional a cenas que não pedem tal camada.
Performances brilhantes por parte de todo o elenco, sendo que Neeson, Kerry Condon e Ciarán Hinds cumprem com o que era esperado de atores experientes e incrivelmente talentosos. Na verdade, é Jack Gleeson que agarra a atenção, visto ser a primeira vez que se assiste ao ator num papel mais importante desde Joffrey Baratheon em Game of Thrones. Volta a representar um personagem com um grau elevado de maluquice e com um à vontade assustador por matar, mas desta vez, existe uma camada de bondade e compaixão escondida algures dentro dele.
Nenhuma personagem é realmente aprofundada, e mesmo o protagonista não foge às caraterísticas do arquétipo do costume. Desde a proximidade que não devia ter com determinadas pessoas às suas capacidades especiais sem passado para as explicar, Finbar é um protagonista que vai começando a sentir o peso dos seus pecados, desejando paz para o que lhe sobra da vida. Mas o título In the Land of Saints and Sinners não é mais que isso mesmo, palavras vazias sem algum significado maior, pois Lorenz e os seus argumentistas decidem deixar para outros o estudo interessante desses rótulos.
VEREDITO
In the Land of Saints and Sinners aproveita a paisagem irlandesa deslumbrante, uma banda sonora memorável e imersiva, e prestações excelentes, para melhorar um filme cujo argumento é formulaico, previsível e tematicamente superficial. Robert Lorenz não tenta fazer da sua obra mais daquilo que esta realmente é, confiando no valor de entretenimento simples, direto e rápido para satisfazer a maioria do público. Não vai impressionar ninguém, mas também não se coloca numa posição para gerar desilusão em massa. No fim, acaba por surpreendentemente ser melhor daquilo que se antecipava.