Junho foi um mês rico em música e feliz para mim, sendo o mês no qual escrevi sobre mais álbuns para a minha seleção, e há aqui opção de escolha. Uma coisa é certa: vai enriquecer o vosso verão, musicalmente.
Férias, viagens e festivais pelo meio atrasaram este artigo, que é o mais longo de 2023 com 14 álbuns escolhidos. E isto e os de julho (artigo no qual já estou a trabalhar) foi o que andei a ouvir durante o verão, até ao momento. Não podia deixar de partilhar convosco o que me fez feliz e fez também o sol brilhar mais intensamente.
Feliz pelo crescimento dos Bully, feliz por os Lanterns of the Lake se terem re-descoberto, feliz pelos Avenged Sevenfold terem regressado com uma dos melhores álbuns, feliz por ficar a ciente de que Amaarae e McKinley Dixon têm talento para dar e vender.
Agora é a vossa vez de encontrarem a vossa felicidade na música que tenho para partilhar convosco.
Amaarae – Fountain Baby
Género: Afrobeats/Afro-Pop
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Não estávamos a prestar atenção e fomos apanhados de surpresa. Do dia para a noite, vimos Amaarae tornar-se na artista mais excitante da categoria musical de Afrobeats, fazendo as barreiras entre a música africana e a restante música vibrarem com estrondo e mudarem, inevitavelmente.
Filha de pais ganeses e nascida em Bronx, a sua infância foi entre o Gana e os Estados Unidos. É notório o misto de influências entre as suas raízes e o panorama musical dos Estados Unidos – como acontece na passagem entre “Sex, Violence, Suicide” e “Sociopath Dance Queen”, ou mais para a frente com “Come Home To God”.
Na generalidade, este álbum é um grande passo na direção certa, em relação a The Angel You Don’t Know (2020) – que já era muito bom – pela componente experimental com conta, peso e medida, tornando-o, mas nunca menos leve.
Ao longo de Fountain Baby, podemos refrescar-nos com uma panóplia de músicas que vibram com um desejo cintilante perpetuado pelo fervilhar de uma juventude, que tanto teima em ser emocionalmente complexa.
E, assim, Amaarae trilha terreno dentro do Afrobeats convencional, em busca do desconhecido, e sai como a responsável por revigorar o género, num misto que dá origem ao nível seguinte do afropop. Género esse que sempre esteve ao alcance, mas esperava pela pessoa certa para o difundir.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas as ouvir:
> Angels In Tibet
> Co-Star
> Reckless & Sweet
> Counterfeit
> Wasted Eyes
Asake – Work of Art
Género: Afrobeats/Afropop
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Parece coincidência, após o disco acima, ter Asake, mas não é. Viajamos do Gana diretamente para a Nigéria, sem escalas, para continuar a enaltecer o que de melhor o continente africano tem oferecido à indústria musical.
Depois do álbum lançado no ano passado e a colaboração na música “Bandana” com o seu compatriota nigeriano Fireboy DML, foi também ao 2º álbum que solidificou o seu estatuto de estrela emergente (à semelhança de Amaarae), globalmente.
Digam o que disserem, e podem jurar a pés juntos que não apreciam o género, é falacioso dizer que este não é um bom álbum.
Asake ajustou o que fez no ano passado em Mr. Money With the Vibe e descobriu a fórmula certa. Essa fórmula tem como ingrediente principal as sonoridades extremamente cativantes, perfeitas para diversos contextos: sejam eles relaxar, dançar, pensar, trabalhar num projeto ou até conduzir. Durante 36 minutos, não é preciso mais nada para além da companhia de Asake.
Falta um bocado de profundidade lírica, mas o coração está no sítio certo, por isso é só uma questão de tempo.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> 2:30
> Sunshine
> Amapiano (ft. Olamide)
> Lonely At The Top
Avenged Sevenfold – Life Is But A Dream…
Género: Progressive Metal
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Se me pedissem para adivinhar que banda se ia levantar do mortos e fazer um regresso bem sucedido em 2023, nunca na vida me iria lembrar dos Avenged Sevenfold, mesmo tento bem gravado na memória que foram uma das bandas que correram PEN’s, deram vida a dezenas de MP3 e puxaram dos efeitos do Windows Media Player durante a minha adolescência e de muitos outros.
Life Is But A Dream… tem vários papéis, dependendo do prisma com que olhamos para ele.
Olhando pelo ponto de vista da relevância, serve para manter o nome da banda fresco para os apreciadores de Metal/Hardrock, que já não viam um álbum ser lançado desde 2016.
Olhando pelo ponto de vista de concorrência, serve para constatar que os Avenged Sevenfold ainda não baixaram os braços e superam um bom punhado de bandas da mesma época que já deixaram de produzir/lançar música, estão em hiato ou terminaram atividade por completo.
Olhando pelo ponto de vista de qualidade, serve para saliente o facto desde ser o melhor álbum da banda desde City of Evil (2005), portanto, quase 20 anos.
Não serve esta análise apenas para relembrar os fiéis da banda que há um novo trabalho que merece ser ouvido, mas também para informar os fãs da música em geral que há bandas que se perdem com o tempo, assim como há outras que renascem das cinzas com uma fénix. Com este álbum, os Avenged Sevenfold são claramente a segunda.
O conteúdo deste álbum é extremamente melódico e próximo do que seria de esperar de uma seleção de alinhamento para um musical, mas é também do melhor Progressive Metal que se tem feito nos últimos anos. Diria que a música presente neste álbum suga energia de uma possível crise de meia idade e emprega-a num trabalho que vai definir um dos regressos com maior capricho artístico que me lembro.
Merecem uma oportunidade e prometo que o álbum fica mais incrível a cada reprodução. Eu próprio já não estava habituado ao estilo tão próprio e distinto dos Avenged Sevenfold e fiquei rendido. É cósmico, como a 5ª faixa do álbum indica.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Mattel
> Nobody
> We Love You
> Cosmic
> (O)rdinary
Baxter Dury – I Thought I Was Better Than You
Género: New-Wave/Post-Disco
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Já não é a primeira vez que pego num álbum de Baxter Dury e o incluo com toda a naturalidade na minha seleção de álbuns essenciais. Passados três anos desde o lançamento de The Night Chancers, continuo sem perceber como que é que Dury não tem mais popularidade.
Olhando para I Though I Was Better Than You, que se baseia numa comparação do próprio com Ian Dury (o seu pai), é estranho constatar como é que este tipo de dúvidas ainda existem na mente do artista. Isto por que não deve nada ao pai. No ponto da sua carreira em que se encontra, o seu talento é inquestionável – ainda mais sabendo que este é o seu terceiro triunfo consecutivo, num espaço de seis anos.
Em contrapartida, este olhar restrospetivo para tudo que passou desde a sua infância, que desenvolveu estas dúvidas, mostra o quão sapiente e perspicaz é a visão do artista.
Em última instância, esta reflexão injusta para consigo próprio tem o poder de comover quem “lê” este álbum e procura saber ainda mais sobre Dury.
Dury não deve, nem pode viver na sombra de ninguém. Não que isso o impeça de produzir boa música, mas faz bem gostar de nós mesmos. E a este ponto já nem faz mais sentido, pois o melhor Dury a produzir música é, de facto, Baxter.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Aylesbury Boy
> Celebrate Me
> Crowded Rooms
Bully – Lucky For You
Género: Alternative Rock
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Que regresso bom de Bully, agora só de Alicia Bognanno.
Depois de alguns anos entre o morno e o quente, o crescimento de Alicia Bognanno enquanto artista e enquanto pessoa fez-se finalmente notar, apesar dos dissabores pessoais e artísticos e lhe ter sido diagnosticado Bipolar II. Sorte para nós, que vimos o colmatar de anos de tentativas inconsequentes e obstáculos enormes ultrapassados a dar origem ao álbum pelo qual esperámos de forma indulgente.
Lucky For You é, de longe, o melhor álbum de Alicia Bognanno, enquanto Bully. Este é pautado por imensos momentos musicais célebres que têm como cerne um rock mais “grungie”, enquanto exploram temas como o abandono, a insegurança, a perda e a aceitação.
Estranho é ouvir um álbum com uma escrita tão conflituosa e esta trazer uma falsa sensação de alegria. Isto deve-se ao facto de Bognanno conseguir manipular a nostalgia que temos em relação ao Alt-Rock dos anos 90 e a usar com tanta assertividade. Mas é que é isto mesmo, Bognanno é convincente e, por via de faixas tão cativantes como “Days Move slow”, “Wonderful Life” ou “Change Your Mind”, somos transportados a um ponto da nossa vida que já lá vai, mas ficou marcado na memória pelos bons momentos, acompanhado de sonoridade tão semelhantes.
Durante meia hora, a banda desdobra-se e tenta-se agarrar em tudo o que pode, à procura de uma identidade resumida numa palavra: sucesso! Tudo ao que a banda se agarrou parece que foi meticulosamente escolhido, pois a firmeza é intrínseca.
Se isto é o que Bully vai ser daqui para a frente, dou o meu selo de aprovação. Porque o que procuro na música são as experiências auditivas inesquecíveis, e “Lucky For You” enquadra-se lindamente.
Sem dúvida um dos melhores álbuns do ano.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> All I Do
> Days Move Slow
> Change Your Mind
> Lose You (ft. Soccer Mommy)
Dream Wife – Social Lubrication
Género: Punk Rock/Pop-Punk
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Já lá vão três anos desde a última vez que falei (e ouvi falar) de Dream Wife, e pode-se dizer que o trio encontrou a sua voz, ou mais concretamente o estilo musical no qual querem empregar a sua voz.
Social Lubrication é mais consistente e maduro que So When Are you Gonna… (2020), mas é menos radiante e diverso.
Depois do que Wet Leg trouxe para o tabuleiro de jogo no ano passado, fico feliz por perceber que já há rival à altura. Entre sucessivos riffs eletrizantes, algumas ideias interessantes e letras com conteúdo e certeza, as meninas de Dream Wife deixam claro que não estão para conversas baratas e mostram saber bem o que querem.
Parte dessa certeza na escrita provém da coragem que a banda tem na hora de passar mensagens sociais com crueza e mensagens bastante pessoais sem gaguejar.
Por esta altura, é mais do que evidente que há muita confiança nas raízes que fizeram este projeto arrancar e muita confiança no seio da banda, e isso é uma das coisas mais fundamentais no caminho para o sucesso. As Dream Wife, neste momento, não se estão a acomodar e a apreciar a viagem – estão, sim, a criar a sua própria agência de viagens e a ditar cada rota e detalhe para a mesma.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Hot (Don’t Date A Musician)
> Mascara
> Leech
> Orbit
Foo Fighters – But Here We Are
Género: Rock
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Depois do trágico evento que fez parar o mundo do rock e assolou fortemente a banda, os Foo Fighters ressaltaram no tapete e gravaram um novo álbum em pouco mais de um ano, na sequência da partida inesperada de Taylor Hawkins.
Para os fãs portugueses foi ainda mais triste, porque a COVID-19 atrasou o regresso da banda a Portugal de 2020 para 2021 e, posteriormente, para 2022 (Rock In Rio Lisboa). Com isto, o concerto acabou por ser cancelado (bem como a maioria dos concertos da suposta tour), sobrando apenas um par de espetáculos realizados com o intuito de prestar homenagem ao falecido baterista da banda. Os Muse foram a banda escolhida para substituir os Foo Fighters e, apesar de ter sido um espetáculo completamente diferente, como esperado, estiveram mais do que à altura.
But Here We Are não foge àquilo que seria de esperar dele: uma homenagem bonita a Taylor Hawkins. Feita uma retrospetiva por parte de uma grande fã da banda, tenho a dizer que este álbum é uma mais valia para a relevância dos Foo Fighters. Sonic Highways (2014), apesar de ter sido um experimento genial, que ganha senso quando complementado pela série documental, gravada com em simultâneo, nunca colou muito. Concrete and Gold (2017), ainda que tenha grandes malhas, é um álbum bipolar e desprovido de qualquer sentido ou significado. Já Medicine At Midnight (2021) é só o álbum mais inconsequente do legado da banda, aparentando ter sido lançado só para nos lembrar que os Foo Fighters ainda existem.
But Here We Are não está recheado de grandes malhas à imagem das músicas que tornam a banda inconfundível, mas é um álbum com sentido e significado e, só por isso, já chuta o álbum para a metade de cima de melhores trabalhos da banda, desde o álbum de estreia em nome próprio (1995).
O álbum termina bem lá em cima com “Rest”, que intencionalmente pede emprestado o riff a “Congregation” e o torna mais extenso e barulhento sem qualquer agressividade, conjugando-o bem com o estado de espírito de introspecção desta música. Fã ou não dos Foo Fighters, e considerando tudo ao ouvir este álbum e, mais concretamente, esta música, só não sente quem não tem coração.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Recued
> Under You
> Nothing At All
> Rest
Janelle Monáe – The Age of Pleasure
Género: Afrobeat/Funk
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Depois de três grandes álbuns, que fizeram de Janelle Monáe uma das minhas artistas de referência a nível de originalidade e confiança no que produzia, chega a era do prazer. Infelizmente não passa muito disso, um álbum prazeroso de ouvir, porque afinal é Monáe.
Infelizmente, é também um álbum alguns níveis abaixo de Dirty Computer (2018). É algo agradável e eletrizante, composto por alguns ritmos dançantes (parte dos quais sensuais), mas falta o conceito que existiu até então e fazia dos seus álbuns memoráveis e bastante coesos. Falta também algum capricho com a escrita, que está francamente longe do que estamos habituados.
The Age of Pleasure assemelha-se a uma pausa para descanso – que sucede cinco anos de descanso.
Não deixa de ser um bom álbum, com boa música – principalmente no que toca a sanidade rítmica -, mas parece mais um longo interlude para o que virá a seguir do que um produto final ao estilo de Janelle Monáe.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Float (ft. Seun Kuti & Egypt 80)
> Champagne Shit
> Only Have Eyes 42
Killer Mike – MICHAEL
Género: Rap
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Killer Mike não é propriamente novo por estas andanças e, depois de 10 anos a solo, juntou-se com El-P, produtor/rapper (a quem foi apresentado em 2011). Nessa altura, El-P ajudou na produção de R.A.P. Music (2012), que foi provavelmente o álbum mais bem sucedido de Killer Mike a solo, e entretanto convidou-o para entrar em Cancer 4 Cure (2012) – curiosamente ambos os álbuns foram lançados em maio desse ano, com uma semana de diferença.
A química entre ambos foi imediata, tanto que, um ano depois, estavam a iniciar um novo projeto cujo o nome não vos deve ser desconhecido. Falo, claro, de Run The Jewels, que, durante quase uma década, foram do melhor que o Hip-Hop viu.
Isto tudo para dizer que, como fã de RTJ, preferia ter mais um álbum do duo do que um álbum a solo de um dos elementos. Não obstante, percebo que às vezes é preciso tempo a solo para permitir à mente divagar sem diretivas e encontrar alguma satisfação pessoal em se fazer o que se quer.
MICHAEL é um álbum honesto, constante e não tenta ser mais do que realmente é, passando a mensagem nele contida alto e em bom som.
A minha única reserva é que a constância a nível instrumental dilui um pouco a qualidade de um álbum que pouca variação sonora tem para oferecer.
É um bom álbum, que até abre com um estrondo (“Down By Law”, com CeeLo Green), mas à medida que vamos avançando, percebemos que se trata de um álbum seguro, não acrescentando muito ao legado de Mike. Ainda mais desapontante se torna quando olhamos às colaborações contidas nele. Falo de Young Thug, Andre 3000, Future, Ty Dolla $ign ou até 2 Chainz, que ofereciam uma variância e imprevisibilidade que não se materializou.
Nota para “Don’t Let The Devil”, que é a faixa mais distinguível do álbum e, curiosamente, é a única faixa com colaboração de El-P. Isto pode querer dizer muita coisa, mas eu cá sei bem o que entendo por isto: tragam Run The Jewels de volta.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Down By Law (ft. CeeLo Green)
> Shed Tears (ft. Lena Bird Myles)
> Don’t Let The Devil (ft. El-P & thankugoodsir)
Lanterns on the Lake – Versions Of Us
Género: Indie Rock
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Ao fim de tantos anos e álbuns a navegar em busca da sua essência, Lanterns on the Lake chegaram a bom porto, com um álbum denso e deslumbrante.
A metáfora com que abri não foi ao acaso, pois Versions of Us conta-nos muito sobre a incrível demanda pela qual a banda passou de forma a descobrir-se e crescer em conjunto. Pode-se dizer, com base no conteúdo do álbum, que a palavra que melhor o descreve é “resiliência”, composta por uma grande componente emocional comovente que faz jus ao nome escolhido para o álbum.
Graças a uma metamorfização instrumental, é inevitável constatar que este é o trabalho mais acessível da banda, até à data. É também a produção que vem confirmar que os Lantern on the Lake estão prontos para horários nobres em palcos maiores.
Pessoalmente, considero Versions of Us um dos álbuns mais bonitos que ouvi este ano e fico extremamente feliz pelo feito e concretização que a banda britânica alcançou.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> The Likes of Us
> Real Life
> The Saboteur
> Locust
McKinley Dixon – Beloved! Paradise! Jazz!?
Género: Conscious Hip-Hop/Jazz
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Beloved! Paradise! Jazz!? é o 4º álbum de McKinley Dixon, mas é o primeiro a trazer-lhe o merecido reconhecimento. Merecido porque é irrevogável a qualidade do engenho do rapper norte-americano, e irrepreensível as ideias que traz para a mesa com este álbum.
Ainda que não seja um álbum que entre à primeira e tenha algumas variâncias sonoras que o tornam estranho no que toca ao seguimento entre músicas, a composição de cada música é brilhante e há um pequeno factor que as une a quase todas: um jazz pontual que encaixa que nem uma luva e lhes dá toda uma vida e entoação lindíssima.
A entrega e expressividade do rapper são o remate final para um álbum que, apesar de custar a entrar à primeira, quando o absorvemos é muito recompensador. Tão recompensador que só fica melhor a cada reprodução, com motivos temáticos e líricos que se vão repetindo ao longo de todo ele.
São só 30 minutos, mas são 30 minutos literários e orquestrais que não se encontram facilmente nos dias de hoje. A segurança, firmeza e sobriedade de Dixon surpreende pela positiva e o que nos tem para contar é de ficar de queixo caído. Seguramente uma das grandes surpresas do ano!
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Sun, I Rise (ft. Angélica Garcia)
> Run, Run, Run
> Live! from the kitchen table
> Tyler Forever
> Beloved! Paradise! Jazz!? (ft. Ms. Jaylin Brown)
Olivia Dean – Messy
Género: R&B/Soul
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Messy é o álbum de estreia de Olivia Dean, que tem vindo a lançar inúmeros extended plays aos longo dos últimos anos. Dito isto, não é surpresa nenhuma o que nos é apresentado ao longo deste álbum.
O título reflete um pouco o conteúdo deste álbum, pois seria de esperar que, ao fim de tantas experiências, a artista já tivesse um maior poder de síntese e uma abordagem que empregasse melhor o seu talento.
Sim, Olivia Dean tem talento e, ainda que tenha jogado seguro, é fácil constatar todo esse talento pela forma como dita o passo a que este álbum se desenrola, estando em controlo do mesmo. Para além disso, nota-se que é perfecionista, pois há poucas ou nenhumas arestas por limar ao longo deste álbum.
Também é verdade que Messy vem salientar o que a artista britânica tem feito bem e abrir várias portas para o que de entusiasmante a futura Olivia Dean pode desencantar do que já está feito.
Em relação à sua voz, absolutamente nada a apontar. Se acima disse que várias portas se abriram, toda a fundação desta estreia (tão bem sucedida) vem da clareza e brilho vocal da mesma.
Apenas 24 aninhos e um possível futuro brilhante pela frente, resta esperar.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Dive
> The Hardest Part
> Messy
> Carmen
Sigur Rós – Átta
Género: Post-Rock
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Sigur Rós são uma daquelas bandas que são difíceis interiorizar, sem a maturidade necessária.
Quando atingiram o auge, eu ainda estava no início da minha adolescência. Quando comecei a meter o ouvido no trabalho dos islandeses, apanhei quase sempre álbuns abaixo do que esperaria, face ao que foi lançado nos anos de ouro, e acabei por perder um bocado o interesse. Não ajudou toda a confusão e dissabores que assolaram a banda a partir de 2013. Primeiro com a saída premeditada de Kjartan Sveinsson, que decidiu tentar a sua sorte em novos projetos; depois com as acusações de assédio sexual a Orri Dýrason, fazendo-o abandonar a banda por escolha própria; e ainda um grande golpe derivado de um processo de evasão fiscal contra a banda islandesa.
Após tudo isto, não pude deixar de dar uma nova oportunidade de redenção a uma banda que passou por tanto (incluindo alguns hiatos) e conseguiu sempre levantar-se. Após a primeira reprodução de Átta, que comportava em si um elevado grau de espetativas, alimentadas também pelo regresso de Kjartan, posso dizer que a sensação foi de uma leveza sem igual. A banda conseguiu entregar aquele que é, provavelmente, o seu melhor trabalho desde 2005, ainda que com esse tenha nada ou pouco a ver.
Este álbum é uma viagem que tem se ser feita do início ao fim, sem pausas, atalhos ou desvios. A recompensa que nos espera no fim é o de uma banda que foi pisoteada pelos acasos do destino e usou isso em seu favor. Não, não foi por isso que deixaram de erguer a cabeça, resultando numa metamorfização que, por usa vez, deu início a uma exploração de novas vertentes (sem ignorar origens) e nos entregaram inúmeras produções recheadas de emoção, sublimidade e alma. Produções essas, ao nível de produções passadas, que tantos outros como eu “perdemos” em tempo real, mas ainda viemos a tempo para fazer parte desta história de regresso tão bonita.
Já lá vai um legado relativamente grande, mas, depois de Átta, creio que os Sigur Rós ainda têm energia para escrever novos capítulos que, certamente, honrarão o passado e nos farão felizes no futuro.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Blóðberg
> Skel
> Gold
> Fall
Squid – O Monolith
Género: Post-Punk Revival
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Depois do sucesso com Bright Green Field (2021), o álbum de estreia da banda britânica, eis que os Squid estão de volta para fazer mais estragos.
O Monolith não foi tão bem recebido como o antecessor, e a verdade é que não soa tão uniforme, pois falta a linha condutora entre todas as faixas presentes que fizeram de Bright Green Field um sucesso imediato. O que me parece é que os Squid deram o melhor de si para evitar percorrer o mesmo caminho para o sucesso, de forma a oferecer algo novo, e a coisa não correu tão bem como esperado (à primeira vista). Não podemos apontar o dedo à execução, só mesmo ao facto da banda ter imposto a si mesma uma tarefa hercúlea. O resultado é um produto mais experimental, com alguns momentos memoráveis e imprevisíveis, mas a mensagem é menos saliente.
Os Squid estão a testar águas e a brincar com diversos componentes instrumentais que não lembram ao arco da velha, enquanto compõem e contiguam melodias delicadas com explosões abruptas, dando origem a um produto final intrigante, desafiante e impressionante.
Se numa primeira experiência, dois anos após a estreia, conseguiram fazer um álbum que se embrulha, desembrulha e se expande sobre si próprio de forma exponencial sem fim à vista, imagino o que virá daqui para a frente… Os Squid são, sem dúvida, das maiores promessas do Post-Punk dos últimos anos, e em dois álbuns já nos deixaram muito para digerir.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Swing (In A Dream)
> Undergrowth
> The Blades
> After The Flash
> If You Had Seen the Bull’s Swimming Attempts You Would Have Stayed Away
Outros álbuns a ouvir:
> Ben Howard – Is It?
> Christine and the Queens – PARANOÏA, ANGELS, TRUE LOVE
> Jenny Lewis – Joy’All
> Joanna Sternberg – I’ve Got Me
> Maisie Peters – Good Witch
> Niall Horan – The Show
> Noel Gallagher’s High Flying Birds – Council Skies
> Queens of the Stone Age – In Times New Roman….