The Super Mario Bros. Movie entrega tudo aquilo que queríamos.
Pessoalmente, o estúdio Illumination não é propriamente um que aprecie imenso. Desde o estilo de animação aos projetos produzidos até hoje, nunca me convenceram propriamente como uma empresa capaz de lançar alguns dos melhores filmes de animação do ano. Dito isto, as minhas expetativas para The Super Mario Bros. Movie mantiveram-se incrivelmente altas durante todos estes meses de antecipação. Nem a receção divisiva por parte dos críticos, nem a dúvida permanente em relação ao elenco de voz, me tiraram a excitação gigante que tinha para este filme. E ainda bem!
Para quem segue a minha escrita há algum tempo, sabe que tento sempre começar por colocar os espetadores no meu lugar. Independentemente do tipo de filme, defendo que qualquer crítico deve fazer este esforço, caso contrário, arrisca-se a perder a compreensão de quem lê. É impossível iniciar uma opinião sobre The Super Mario Bros. Movie sem antes informar os leitores do meu conhecimento e conexão com o material original. No caso desta adaptação, não se trata apenas de um jogo do Mario, mas sim inúmeros jogos, personagens e mundos da Nintendo.
Tenho reparado muito no uso da expressão “remover os óculos da nostalgia”, especialmente para criticar obras e, em muitos casos, invalidar ou diminuir opiniões mais positivas. A verdade é que nostalgia é um termo associado ao passado, mas, na minha situação em particular, Mario e Nintendo são dois assuntos do presente. Todos os anos, sem exceção, eu e os meus irmãos tiramos a Nintendo 64 da cave dos nossos pais, sopramos bem para remover o pó e passamos horas inesquecíveis a jogar Super Smash Bros., Mario Kart, entre outros.
Para além disso, novos jogos com Mario e companhia continuam a ser desenvolvidos e lançados para as novas consolas da empresa respetiva. Logo, criticar The Super Mario Bros. Movie por ser um filme que depende imenso do fator nostalgia é um argumento negativo tão previsível e barato que, para muitos espetadores, não fará qualquer sentido. Outro problema normalmente associado a este tipo de adaptações encontra-se relacionado com expetativas enganadoras. Nos meus 29 anos de vida, nunca joguei um jogo do Mario pela história. Nem eu, nem ninguém, pois nunca foi uma série com esse propósito.
The Super Mario Bros. Movie contém uma história genérica e formulaica que não traz absolutamente nada de novo para o mundo da animação. As mensagens para os mais jovens são simples e diretas, sendo que nenhuma mudará a vida de ninguém. A estrutura narrativa segue o caminho mais óbvio sem grandes surpresas, focando-se na típica aventura de um herói inesperado contra um vilão com motivações cliché de domínio mundial. Tudo isto são razões mais do que válidas para alguém não gostar do filme. A questão que coloco é: o que esperavam?!
Os realizadores Aaron Horvath e Michael Jelenic e o argumentista Matthew Fogel não enganam ninguém, entregando precisamente aquilo que se pedia: um filme divertido com as personagens e mundos que marcaram e continuam a marcar múltiplas gerações. Criticar tão veemente como tenho observado uma obra que cumpre com o que promete é, no mínimo, estranho. Obviamente, ninguém esperava uma obra-prima, e The Super Mario Bros. Movie encontra-se bem longe de o ser, mas nunca foi esse o propósito do mesmo. A missão principal passava por agradar ao público-alvo e, tal como os números de bilheteira comprovam, a missão foi mais do que bem sucedida.
Reclamar por The Super Mario Bros. Movie ser genérico é algo que podia ser redigido ainda antes de se assistir ao filme, tal como muitas outras críticas superficiais e “fáceis” atiradas a uma adaptação que em nenhum momento planeou ser mais do que entretenimento puro para crianças e famílias, assim como para todos aqueles que têm Mario e a Nintendo como peças importantes das suas vidas. Pessoalmente, “retirar os óculos da nostalgia” significa apagar uma grande parte da minha vida, passada e presente, assim como da minha personalidade. Simplesmente não é possível.
O estilo de animação da Illumination acaba por ser um dos destaques. Os receios iniciais são rapidamente esquecidos devido à qualidade visual que rodeia todo o filme. O world-building é fenomenal, com referências atrás de referências a tantos, tantos jogos da Nintendo, mas desengane-se quem pense que estes são “atirados” à força à cara dos espetadores. Tudo faz parte da narrativa e a forma como inserem os vários elementos dos jogos é de louvar. The Super Mario Bros. Movie é, sem dúvida, uma carta de amor a todos os mundos imersivos da Nintendo.
Desde sequências de ação de deixar espetadores com um sorriso de orelha a orelha – luta com Donkey Kong, corrida à la Mario Kart, cena de treino com blocos e todos os obstáculos de jogos do Super Mario – à música icónica que Brian Tyler mistura brilhantemente com a sua maravilhosa banda sonora, The Super Mario Bros. Movie deixou-me boquiaberto e arrepiado em vários momentos do mesmo, especialmente na segunda metade mais energética. O tipo de humor é precisamente aquele que mais me provoca gargalhadas, sendo que as expressões clássicas de Mario são utilizadas de forma bem hilariante.
Aproveitando esta última menção, o elenco de voz foi outro detalhe que gerou imensa divisão no momento do anúncio, algo que nunca irei entender. Criticar a escolha de um ator ainda antes de se saber sequer como vai interpretar a personagem respetiva? Não tem qualquer sentido e a verdade é que o elenco é ainda melhor do que esperava. Os destaques pessoais vão para Charlie Day (Luigi) e Jack Black (Bowser), mas todos entregam excelentes prestações. Anya Taylor-Joy tem imenso tempo de ecrã enquanto Peach e demonstra estar à altura do desafio, e não percebo o porquê de tanto burburinho sobre Chris Pratt. O ator é perfeitamente decente como Mario.
Ignorando pessoas que não desejam o sucesso do ator por motivos externos ao filme, entendo quem possa ficar desiludido por Mario não ter a voz original reconhecível nos quatro cantos do planeta. No entanto, é preciso ter noção de que Mario nunca foi um personagem de diálogos. Nos jogos, Mario raramente fala, expressando-se apenas através das suas reações italianas exageradamente estereotipadas. Imagino que ter de escutar esta voz durante 90 e tal minutos não seja algo totalmente agradável, sendo que poderia facilmente tornar-se insuportável.
Logo, defendo que The Super Mario Bros. Movie tomou a decisão correta de alocar atores com “vozes normais” a todas as personagens. As expressões clássicas de Mario são tiradas do jogo, por isso, esses momentos não são estragados de forma alguma. Tal como referido acima, a história não é, de todo, um problema para mim. Aliás, creio que possui muito mais coração do que muitas pessoas têm vindo a transmitir. Algumas escolhas de músicas licenciadas deixaram-me perplexo – não penso que pertençam a este mundo da Nintendo – e a primeira metade tem alguns problemas de ritmo, demorando demasiado a chegar ao ponto que realmente interessa.
Por esta altura, The Super Mario Bros. Movie já quebrou dezenas de recordes de bilheteira e será um dos maiores sucessos de animação dos últimos anos. Pessoalmente, não podia estar mais satisfeito, pois as hipóteses de assistir a outras histórias da Nintendo aumentaram exponencialmente – serei o primeiro na fila para ver uma adaptação de The Legend of Zelda. Que continuem a obter sucessos deste nível!
VEREDITO
The Super Mario Bros. Movie entrega tudo aquilo que queria. Carregado de referências de encher o coração de quem viveu e ainda vive com a Nintendo e Mario de perto, estas fazem parte da ação energética, da animação e world-building deslumbrantes e ainda da música icónica – a banda sonora de Brian Tyler vai direta para a lista pessoal do Spotify. Mario e companhia marcaram a minha infância e, ainda hoje, continuam a oferecer-me memórias para a vida. Enquanto espetador claramente pertencente ao público-alvo, não podia ter saído do cinema mais contente. Ya-hoo!