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Um clássico revisitado, melhorado e readaptado para uma nova geração de jogadores. Um dos melhores títulos da série.

O que a Retro Studios conseguiu fazer com Metroid foi um milagre. A ideia de passar uma série 2D de exploração, focada em zonas labirínticas e cujo progresso estava assente no desbloqueio de novas habilidades – um modelo que viria a transformar-se, anos depois, no seu próprio género –, não só para as três dimensões, mas para uma perspetiva na primeira pessoa, parecia ser impossível e contraproducente. Muitos defendiam que a série não poderia funcionar fora do seu molde e que Samus Aran não resistiria ao que parecia ser uma evolução pouco natural. No entanto, Metroid Prime não só revolucionou a série, como funcionou como uma continuação perfeita para Metroid, Metroid II: Samus Return e Super Metroid, ao ponto de se transformar num dos títulos favoritos dos fãs e iniciar a sua própria série, cuja próxima sequela, Metroid Prime 4, está ainda em desenvolvimento. Como foi possível transportar Metroid para as três dimensões e a primeira pessoa? A resposta divide-se em duas partes: manter a estrutura clássica da série e nunca desvalorizar a exploração.

Metroid Prime Remastered é uma janela para o passado e para um dos maiores processos de adaptação da sexta geração de consolas. Ao contrário de The Legend of Zelda, Super Mario e Donkey Kong, a série Metroid só daria o salto para as três dimensões na GameCube, mantendo-se ausente durante a Nintendo 64 e as revisões do Game Boy. Em 2001, era impossível prever como seria Metroid fora da perspetiva side scroller, mas neste relançamento, 22 anos depois, a resposta é cada vez mais clara. O processo da Retro Studios passou pela desconstrução da jogabilidade clássica da série, mas também na adaptação do seu ritmo a cenários mais expansivos. Se as mecânicas são simples de readaptar, como o sistema de disparo e a combinação entre várias armas e armaduras – tal como a introdução de um radar e scanner que adicionam uma nova camada narrativa e de construção de mundos –, o desenho de Tallon IV seria sempre o maior desafio para a equipa.

Fora a aposta numa ambiência ainda mais opressiva, podemos alegar que pouco foi alterado na reconstrução de Metroid. A campanha mantém-se focada em zonas distintas, biomas únicos que só são acessíveis ou exploráveis com as armas e armaduras corretas. Temos Phendrana Drifts, representada por gelo, onde é necessário destruir plataformas geladas, e também Magmoor Caverns, que é marcada por salas de calor extremo que só podem ser acedidas com o Varia Suit. Se retirarmos a utilização da perspetiva na primeira pessoa, vemos os alicerces que popularizaram Metroid e Super Metroid junto dos fãs de jogos de ação e plataformas. O que Metroid Prime conseguiu fazer foi construir uma campanha onde encontramos constantemente novas habilidades para Samus que evoluem o combate e a exploração.

O foco passa a ser a progressão, a reconstrução das habilidades de Samus e a exploração de Tallon IV sem grandes distrações. O que achei fascinante, ao fim destes anos, foi comparar o ritmo de Metroid Prime com alguns dos últimos lançamentos do ano. Em poucas horas, consegui explorar três zonas, encontrar quatro habilidades e explorar vários caminhos alternativos sem sentir que estava a ser forçado a fazer tarefas que não queria. Metroid Prime não gosta de perder tempo, a não ser perto da sua reta final, e é absolutamente delicioso perceber como esta noção de ritmo mantém-se viva através da jogabilidade, mas também do design dos atalhos e caminhos alternativos que tornam Tallon IV num mundo mais vivo. No final da campanha, já conhecemos os biomas como as palmas das mãos.

O que é também interessante é perceber como esta estrutura acaba por conciliar-se com a sensação de mistério e ambiência em Tallon IV. A passagem para a primeira pessoa não significou apenas uma alteração de controlos, mas também como funciona a navegação na série Metroid. As primeiras horas em Tallon IV são de reconhecimento, onde tentamos compreender como funciona este mundo alienígena, mas também os seus habitantes e os segredos que esconde. Com a campanha determinada em apresentar Tallon IV aos jogadores, à medida que desbloqueiam habilidades que permitem o acesso a novas salas e zonas, cria-se uma estrutura de choque, mas também de crescimento pessoal. Ao sermos obrigados a avançar em grande velocidade, somos convidados a explorar e a conhecer várias zonas que teremos de explorar futuramente com novas armas. É necessário memorizar o design das zonas, compreender os seus inimigos e como navegar os seus desafios ambientais à medida que conhecemos novos biomas.

Um dos elementos que consegui apreciar melhor nesta remasterização foi a aposta na habilidade de “scan”. Através do visor de Samus, podemos conhecer mais detalhes sobre as estruturas, tecnologias e criaturas de Tallon IV, ao ponto de descobrirmos até pontos fracos para alguns dos monstros mais desafiantes e alguns caminhos secretos. Esta mecânica traz novas perspetivas sobre o mundo de Metroid e um dos seus maiores mistérios, a civilização Chozo, que habitava em Tallon IV. Pode parecer um pouco contraproducente parar para analisar todos os recantos de uma sala, mas é semelhante a montarmos um longo puzzle, uma peça de cada vez. Ao longo da campanha, construímos o mistério em torno de Tallon IV, dos Space Pirates e dos Chozo, com Metroid Prime a dar continuidade à vertente mais cinematográfica de Super Metroid.

Apesar de não concordar com o seu preço, Metroid Prime Remastered é uma excelente conversão de um clássico absoluto da Nintendo. A renovação visual é muito mais profunda e sentida do que antevia, com os cenários em alta definição e com um novo acabamento, mas o destaque vai para os três esquemas de controlos que mudam por completo a experiência do jogo para melhor. Voltar a Metroid Prime com controlos mais próximos aos atuais FPS é um sonho. A jogabilidade é muito mais fluída e rápida devido a esta mudança, e é muito mais fácil controlar a mira de Samus ao longo dos combate – ao ponto de ter dependido menos do seu sistema de mira automática. Continua a ser uma pena não ter estes clássicos sempre disponíveis sem termos de pagar por uma versão remasterizada, uma moda que se recusa a morrer desde a sétima geração de consolas, mas é difícil argumentar contra os resultados.

Metroid Prime Remastered é excelente, um clássico absoluto e um exclusivo de peso. Um jogo tão atual como há 22 anos atrás, que permite a uma nova geração conhecer pela primeira vez o início da trilogia Prime por meios mais legais. Acredito que Metroid Prime Remastered vá estar presente em algumas listas dos melhores do ano, mesmo com um 2023 tão forte e recheado como este. Esse é o poder de Metroid Prime, que ainda considero como o melhor da série. O preço poderá desmotivar-vos, mas ao menos não custa 79,99€.

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Cópia para análise cedida pela Nintendo.

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