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Wavetale é uma divertida aventura que é prejudicada pela repetição e por alguns problemas técnicos.

Wavetale é um caso curioso de ambição, daqueles que adorava recomendar neste final de ano atípico. Talvez já o conheçam, visto que se estreou no Google Stadia em 2021, mas se não for o caso, Wavetale é um projeto da Thunderful Development, um jogo de ação e aventura que nos transporta para um mundo envolto em água. Na sua génese, Wavetale é um regresso ao passado, aos títulos de aventura de gerações passadas, onde as sequências de ação e destreza são tão importantes como a exploração do seu mundo vivo. É um jogo que parece originar dessas épocas passadas, não porque está datado, mas porque tem um coração maior do que o seu peito, ao ponto de não conseguir aguentar o peso do seu design.

É através dos olhos de Sigrid que navegamos pelo mundo inundado e destruído de Wavetale. Ao contrário dos restantes habitantes de Vilapraia, Sigrid consegue navegar pelos seus mares turbulentos com a ajuda de uma figura que lhe é familiar – e que se mantém presa aos mares do arquipélago – e é neste contacto com o mundo semi-aquático que nasce a alma de Wavetale. A sua estrutura é muito semelhante a outros títulos do género, com um mapa significativamente extenso, que se divide por zonas (ou biomas), onde temos acesso a missões, algumas delas secundárias – onde conhecemos melhor o elenco de Wavetale – e a novas ilhas que podemos explorar. O que torna Wavetale único no atual panorama é que o seu foco recai sobre a navegação e leque acessível de habilidades de Sigrid. Como o mundo está desconetado, Sigrid tem de se movimentar pelas águas enquanto salta, mergulha, nada, desliza e paira sobre o ar à medida que encurta a distância naquela que é uma jogabilidade limada, acessível e muito divertida.

O leque de mecânicas de Wavetale é delicioso porque é tão nostálgico como essencial para a aventura, quase como se fosse uma adaptação modernizada do que jogávamos há 20 anos. Como Ratchet & Clank ou Vexx, Wavetale comunica bastante pelo seu level design e a velocidade acaba por ser tão importante como a nossa destreza, com os vários níveis a apresentarem rampas, boosts e suportes para gancho que nos mantêm em movimento pelas suas plataformas verticais. A Thunderful Development soube limar as suas mecânicas e não sei se este trabalho de apuramento já estava presente na versão Stadia ou se foi um resultado do relançamento no PC e restantes plataformas, mas Wavetale é, acima de tudo, muito divertido de jogar e experienciar. Como o leque de ações é tão pontual, é a base perfeita para descobrirmos as suas nuances, como a combinação entre desvio e salto, que nos traz um impulso maior ao nosso arco de salto – e que nos ajuda a percorrer uma maior distância -, ou então a possibilidade de mergulharmos e saltarmos ao ritmo de uma onda para ganharmos a habilidade de mergulharmos mais uma vez. É um ritmo quase musical que nasce da combinação entre estas mecânicas que o jogo nos deixa explorar e conhecer melhor ao longo da sua campanha.

Infelizmente, a jogabilidade acaba por ser uma distração quase eficaz para esconder os problemas mais sérios de Wavetale, como a sua estrutura e a progressão da campanha. A Thunderful Development decidiu criar um mundo tão extenso que se esqueceu de injetar alguma originalidade ao que fazemos realisticamente ao longo da campanha. Para todos os efeitos, Wavetale pouco muda ao longo das suas horas, apresentando uma nova zona, que alcançamos ao viajar pelo mar, para descobrirmos que temos de encontrar sparks, ou energia, para ligar uma das inúmeras estruturas abandonadas ou então ligar alavancas e transportar energia de um ponto A para um ponto B. Não demoramos muito a aprender o que Wavetale nos quer ensinar e, uma vez aprendido, não há muito mais para descobrir. A narrativa tenta complementar estas viagens constantes entre as várias ilhas do jogo, com uma história que consegue ser bastante emocional e que é carregada pelo poder das suas personagens e atores de voz, mas a repetição instala-se e o desempenho do jogo condiciona ainda mais a nossa aventura. Os bugs são constantes, existem modelos que perdem texturas ou que ficam presos nos cenários e consegui identificar algum stuttering nas zonas mais exigentes. Se a jogabilidade foi limada para este relançamento, o mesmo não pode ser dito dos visuais e desempenho.

Por fim, temos um combate descartável e apenas utilitário que pouco se consegue destacar. De facto, o sistema de combate parece ter sido apenas uma necessidade em justificar a presença de inimigos – uns monstrinhos em forma de manchas de óleo – ao longo da campanha. Não existem combinações ou ataques especiais, apenas a possibilidade de utilizarmos ataques rápidos, um stomp e agarrarmos os nossos adversários através do cajado de Sigrid. Existem alguns momentos que podemos considerar como confrontos contra bosses, mas pouco utilizam este sistema de combate limitado, o que me leva a pensar que Wavetale teria ganho muito mais em apostar em confrontos que envolvessem unicamente a movimentação e velocidade de Sigrid – tal como alguns confrontos tentam fazer.

Custa-me não recomendar Wavetale para todos os jogadores, mas acreditem que existe algo mágico, emocional e sincero na sua campanha. Sejam as personagens, a história, a jogabilidade ou o mundo em si, Wavetale jorra carinho e é, acima de tudo, um monumento à ambição da Thunderful Development em contar a história que queriam contar e criar uma experiência que fosse tão honesta, como divertida de jogar. E Wavetale é muito divertido de jogar, especialmente na navegação aquática, com Sigrid a deslizar pela água a alta velocidade enquanto salta, mergulha e impulsiona-se ao sabor das ondas. Faltou-lhe o acabamento final, o último retoque para garantir que tudo estava no local certo, mas quem sabe se uma eventual sequela não corrigirá todos estes problemas.

Aliás, vou mais longe: seja qual for o próximo projeto da Thunderful Development, Wavetale agradou-me o suficiente para os manter debaixo de olho.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Plant of Attack.

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