A famosa mascote da Bandai Namco regressa às plataformas com o relançamento do clássico da PlayStation, naquele que é mais um remake demasiado seguro para 2022.
42 depois da sua estreia, PAC MAN continua a ser uma das mascotes mais icónicas da indústria dos videojogos, com um dos designs mais reconhecíveis na história do meio, ao ponto de ainda hoje ser popular entre as gerações mais novas. O segredo da sua longevidade talvez esteja na forma como a Namco, antes de ser adquirida pela Bandai, geriu a série, elevando PAC-Man ao estatuto de mascote, ao ponto de marcar presença em géneros muito distintos. PAC-MAN World foi uma dessas experiências, lançado em 1999 e com o intuito de celebrar o 20º aniversário da mascote. 23 anos depois, temos o regresso ao mundo de PAC-MAN, agora em alta definição e com a mesma irritação de sempre.
Leram bem: eu vou-me queixar de PAC-MAN World. Não considero que seja um enorme feito para mim ou uma ocasião que mereça uma celebração, mas 2022 está a entrar na sua reta final e eu vejo-me a gritar para as nuvens pelas mais pequenas coisas. Afinal, porque me sinto tão indignado com o relançamento deste jogo quase esquecido de 1999? Porque é uma oportunidade perdida. PAC-MAN World não é um mau jogo, mas está demasiado datado para ser relançado tal se estreou na PlayStation há 23 anos. Como jogo de plataformas, temos os elementos tradicionais do género, os níveis repletos de colecionáveis, várias zonas e até um HUB onde temos acesso às fases da campanha. Os níveis apresentam inimigos temáticos, tal como sequências de plataformas que procuram adaptar as mecânicas e habilidades de PAC-MAN para as três dimensões, como a sua habilidade de comer as “pellets”, que podem ser reutilizadas como projeteis, ou a sua velocidade, dando-nos a possibilidade de disparar a mascote a toda a velocidade contra inimigos, mas também contra rampas e até trampolins para chegarmos a plataformas anteriormente inalcançáveis.
Em 1999, PAC-MAN World já era um produto do seu tempo, um aglomerado de mecânicas e funcionalidades que procuravam imitar e não inovar. Temos de equacionar que se trata de um jogo para os mais novos e que funciona como porta de entrada para um género acessível, mas que, ainda assim, requer alguma destreza no que toca aos seus controlos. Também é importante ter em conta que não é inteiramente fácil adaptar um jogo clássico das arcadas, com uma jogabilidade tão simples e imediata, a outros géneros, mas PAC-MAN World conseguiu e manteve-se sólido no seu conceito do princípio ao fim: mas é tão desinteressante. Os níveis são longos e apresentam tão poucos desafios, com os colecionáveis a serem tão visíveis que a sua procura pouco entusiasma – para não falar que muitos deles são acessíveis através de itens que estão sempre próximos das portas que necessitamos de abrir -, que entramos num transe de “saltar, encontrar colecionável, chegar ao fim”. Estamos em piloto automático na maioria dos níveis, com desafios muito idênticos entre si, ora plataformas que desaparecem, ora inimigos que temos de atacar, sem grandes variações, fora as batalhas contra os esperados bosses.
O que me enerva mais é que Re-PAC é um salto geracional no que toca aos seus controlos. A memória pode ter azedado a minha experiência com a versão original, mas recordo-me de PAC-MAN World ser difícil de controlar na PlayStation. Os movimentos eram rígidos, PAC-MAN deslizava mais do que devia e o framerate complicava até os saltos mais acessíveis. Nesta nova edição, é tudo tão fácil de controlar, tão fluído e responsivo que fico novamente frustrado e irritado por encontrar o mesmo level design da versão original. Com controlos aprimorados, é um desperdício voltar a apostar numa estrutura tão arcaica como esta. No entanto, vejamos as coisas por outro prisma: esta poderá ser a base para o eventual relançamento de PAC-MAN World 2.
Vocês já sabem se irão gostar de PAC-MAN World Re-PAC ou não. É um jogo básico de plataformas, daqueles que têm medo de apresentar uma única ideia original, não lhes vá cair o Carmo e a Trindade. Existem boas ideias, claro, e aprecio a tentativa de adaptar a série a este género tão popular, que conseguiu, inclusivamente, manter a aposta nos labirintos que relembram a estreia icónica de PAC-MAN, mas é mais um remake que sabe a pouco – ao ponto de acreditar que a banda sonora foi levantada diretamente do jogo original, já que a compressão está horrível. No entanto, Re-PAC chega ao mercado com o preço indicado para este tipo de relançamentos, uns convidativos 39,99€, que suavizam a sua ausência de novidades – mas nunca a desculpam. Imaginem lançar um remake sem grandes extras, cujas alterações são maioritariamente estéticas, por 79,99€. Seria de loucos.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Bandai Namco.