Um roguelike com algum potencial que é prejudicado por um combate pouco entusiasmante e uma mão cheia de bugs irritantes.
De certeza que já pararam e pensaram “isto não é para mim”. Fosse um filme, um álbum de música ou um videojogo, existe sempre um momento onde somos obrigados a parar e a admitir que não somos o público certo para aquele objeto artístico. O problema pode não ser inerente ao que vemos ou jogamos, mas sim a um gosto pessoal e é isso que me traz a Arboria: um videojogo que tinha tudo para me tornar num fã, mas que me cansou e desmotivou sempre que regressei ao seu mundo de trolls.
No papel, Arboria devia ser um sonho para mim. Como roguelike, o título da Dreamplant leva-nos a explorar um mundo invulgar que se constrói entre lendas e mitos escandinavos, onde ogres e trolls habitam através de zonas aleatórias e repletas de segredos. Não existem duas partidas iguais e Arboria é um título suficientemente desafiante para criar alguma tensão dentro e fora dos combates, com armadilhas e outros perigos à espreita neste mundo de visibilidade reduzida e cenários repletos de raízes e formações rochosas que mais parecem ser os músculos de um ser indescritível.
A estrutura roguelike funciona como em qualquer outra experiência do género e está assente na repetição progressiva à medida que conhecemos melhor o mundo de Arboria e melhoramos as habilidades passivas das nossas personagens. Uma das diferenças, ainda que esteja longe de ser uma novidade, é que temos sempre várias personagens à disposição, com os seus próprios atributos e habilidades únicas, quando regressamos à aldeia. Com a personagem morta, perdemos tudo, mas podemos influenciar o favor dos deuses, oferecer Veri, que funciona como moeda em Arboria, e melhorar as nossas hipóteses na próxima tentativa.
Esta é outra mecânica que aprecio, pois adiciona alguma tensão à jogabilidade e leva-nos a tentar recolher o maior número de Veri possível antes de morrermos. Podemos estar a jogar uma partida e a pensar já na próxima porque a raiva dos deuses é penosa. Se não atingirmos a meta exigida, podemos perder atributos, vermos habilidades alteradas e receber uma personagem repleta de problemas que dificultarão a nossa nova tentativa em todos os sentidos. Gosto desta tensão e da necessidade de ter cuidados redobrados para não prejudicar futuras partidas e criar aquilo que poderá ser uma sucessão de azares facilmente contornáveis.
O problema de Arboria surge na sua vertente RPG de ação, nomeadamente o combate, e a forma como as habilidades, desde a sua combinação até à sua utilização, surgem na progressão da campanha. O combate é lento, as animações são pouco satisfatórias e Arboria parece funcionar dentro de um arrasto constante que prejudica não só a leitura dos nossos inimigos, como os tempos de resposta da personagem. Talvez seja necessário adotar uma estratégia mais ponderada, mas as mecânicas não refletem essa abordagem e motivam a um combate mais rápido e violento do que realmente é. Nunca me senti em controlo dos confrontos e a falta de impacto nos golpes, tal como a escassa variedade de armas, cimentou ainda mais essa ausência de “controlo”.
A experiência é prejudicada constantemente por bugs e problemas de desempenho. Não existiu uma única partida onde não encontrasse um bug. Ora o som falhava, ao ponto de ficar sem efeitos sonoros, ora os inimigos ficavam presos nos cenários. As quedas de framerate também são constantes e dá para perceber que Arboria não está otimizado. Experimentei a versão Early Access no início do ano e os problemas mantiveram-se: talvez até tenham piorado. Consegui jogar sempre em Ultra e pelos testes não se trata de um problema do meu PC, mas sim do jogo, o que é uma pena. Felizmente, Arboria é muito simpático com as suas mecânicas roguelike, ao contrário de títulos como Returnal, e nunca perdi progresso devido aos bugs, mas é irritante ter de sair do jogo porque os menus e a UI desapareceram.
Existe muito potencial em Arboria e a sua popularidade revela exatamente isso. A comunidade acompanhou o seu desenvolvimento e deu vida a este RPG de ação, em formato roguelike, que é também munido de um sentido de humor que nem sempre será o agrado de todos. As mecânicas estão lá, mas a forma como a Dreamplant as conciliou afastou-me daquele que parecia ser um videojogo feito à medida para mim. Acontece. A vida é assim. No entanto, se ficaram curiosos, não percam a oportunidade de explorar e perceber se o mundo de Arboria é aquilo que procuram.
Disponível para: PC
Jogado na PC
Cópia para análise cedida pela Plan of Attack