Vodafone Paredes de Coura 2025, Dia 2 – Nasceu uma estrela

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Com Lola Young como estrela principal do segundo dia do Vodafone Paredes de Coura, foi daqueles momentos em que quem esteve, esteve, e quem não esteve, perdeu um pedaço de história.

E o segundo dia do Vodafone Paredes de Coura começa, vamos ser francos, mal. À tarde chega a notícia do cancelamento dos ingleses Maruja, uma das bandas que mais curiosidade reunia pelos relatos das suas atuações ao vivo. E a mistura de post-punk com free jazz não podia encaixar melhor na identidade do festival aos dias de hoje.

Siga a banda, ou no caso Mike Hadreas, mais conhecido artisticamente como Perfume Genius. Glory, álbum deste ano, é registo de fino equilíbrio entre escrita acessível a muitos e ambição musical, mas, e apesar do reconhecimento da crítica, percebe-se que este não é o dia em termos de receção popular. O ambiente está diferente, por exemplo, dos tempos de Too Bright (2014) e No Shape (2017), e a elegância de Perfume Genius só terá, apostamos, receção apoteótica em sala fechada para os fieis do culto, e nem tanto num festival generalista. O que não é mau em si mesmo, simplesmente é assim.

E claro, há a muito falada relação de extrema intimidade com uma cadeira, que inevitavelmente levanta comparações com Mitski e a sua mesa em 2019. Se ali houve estranheza que poucos anos depois gerou sucesso a grande escala, aqui há a teatralidade aplicada fruto do trabalho de um jovem veterano, se assim se pode descrever. Caminhos diferentes.

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Perfume Genius no Vodafone Paredes de Coura 2025 – Foto: Emanuel Canoilas

Fat Dog é toda uma outra coisa, um quinteto caótico onde se juntam vários estilos, em particular o estilo da música klezmer a ser uma espécie de ingrediente secreto no meio do punk dançável. Há também método na loucura, com uma preparação cuidada antes do início do concerto – o vocalista Joe Love no meio da plateia quase vazia à espera que chegue o resto do público. E o público chega em grande número, naquilo que se torna imediatamente um festão: há “Running”, malta de calções e boné a fazer jogging sem sair do mesmo sítio – com agradecimentos pelo meio -, e muita anca a abanar. Há também muita vontade de meter a tocar o disco de estreia WOOF a caminho de casa. A malta que toca habitualmente no Windmill volta a atacar.

Pouco depois no palco maior, dois focos solitários em cima precedem o princípio do concerto de Lola Young, com música de fundo a fazer lembrar um ambiente de filme tarantinesco. Há, pouco depois, uma receção calorosa àquela que é, claramente, a artista mais aguardada da noite. Bem calorosa por sinal, e parece que isso bateu fundo na londrina, com ar visivelmente abalado de forma feliz, disparando vários elogios ao público enquanto arranca com “Good Books”. Com um discurso de quem pede desculpas pelo cansaço pela falta de hábito de começar concertos tão tarde (22h40, as coisas são de facto diferentes no Reino Unido), mas que ganha nova energia por um tratamento que nunca tinha recebido na sua vida, Lola Young procede para dar um concerto que só pode ser considerado impecável pelos fãs.

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Lola Young no Vodafone Paredes de Coura 2025 – Foto: Emanuel Canoilas

No meio de mais um reconhecimento penhorado à energia que brota do habitat natural da música, canta a novíssima “d£aler” – título bastante auto-explicativo – e, já na reta final, “Big Brown Eyes”, com uma dedicatória meio trapalhona aos portugueses, conhecidos por serem sexy e terem olhos castanhos. Não é propriamente Francisco José, mas está bem.

Deixa para o fim “Messy”, e fez muito bem para dar a cereja no topo do bolo aos fãs, despedindo-se dizendo que já está a ficar triste por aquele momento ter acabado. Antes vai fazer selfies com dois membros da primeira fila, o que aparentemente é inédito ou quase. No fim de contas, foi daqueles momentos em que quem esteve, esteve, e quem não esteve, perdeu um pedaço de história. A jovem Lola tem tudo para ir muito longe e entrar no rol exaltado daqueles que vão entrar na trilha do grande sucesso e tiveram a estreia nacional (no caso julgamos até peninsular) no Alto Minho. Aqueles casos em que podemos depois sacar dos galões e perguntar aos menos afoitos: “Mas viste-a no concerto de Paredes de Coura?”

O ato seguinte, antes de Portugal. The Man (que projetam na tela do palco um curioso código QR para um concurso cujo vencedor poderá ir visitar os ditos cujos a Portland, Oregon, EUA), pertence aos Soft Play. O duo punk tem colhido sucesso nos últimos anos, mas a verdade é que a energia de malta em tronco nú, depois de ter assistido àquilo, não colhe especialmente. Mais vale ir ouvir os bombos até São Roquinho.

Bruno Rocha Ferreira
Bruno Rocha Ferreira
Apaixonado por vinhos e boa música, o Bruno Rocha Ferreira cobre eventos vinícos, concertos e festivais de música. Também gosta de stand up comedy de qualidade.
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