Vodafone Paredes de Coura 2025, Dia 1 – Na estreia com Vampire Weekend, o espírito de 2011 voltou a descer entre nós

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Uma noite de alma lavada no Vodafone Paredes de Coura com os Vampire Weekend a mostrarem o porquê de ainda serem relevantes no panorama musical.

13 de agosto é dia de peregrinação dos emigrantes, e muitos estão de volta ao berço que para eles é Paredes de Coura. Entre torres de igreja a tocar músicas referentes a Fátima, e gente que tenta registar terrenos rústicos nos dias em que andam pela terra, existe o habitat natural da música. São nestas duas faces da moeda que muitas vezes se misturam e formam o público mais heterogéneo dos grandes festivais em Portugal. Sempre foi assim, e é bonito que o seja.

Num cartaz em que o Vodafone Paredes de Coura aponta igualmente para vários lados com tónica forte nas estreias com meia dúzia de nomes consagrados à mistura (ganhar a vida custa, como quase todos sabem por aqui), MJ Lenderman foi figura iniciática de belo nível. Muitos o conhecem como membro dos Wednesday – passaram pelo Vodafone Paredes de Coura na edição do ano passado -, mas entretanto apareceu um fenómeno subterrâneo chamado Manning Fireworks, quarto álbum que pareceu catapultar finalmente o cantautor dos States. Felizes e contentes por estarem ali, o baixista chega a perguntar ao resto da banda: “Is this the most people we’ve ever played for? It might be. Let me grab a quick picture to show my mama back in Arkansas.” Músicas bonitas e bem tocadas parecem ser o segredo – tão simples e, no entanto, tão verdadeiro.

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MJ Lenderman no Vodafone Paredes de Coura 2025 – Foto: Emanuel Canoilas

Don West leva um proposta bem diferente, até relativamente mais rara no contexto: uma soul bem setenteira com alguns ajustamentos dos dias de hoje – desde logo o ser trazida por uma figura bem apessoada vinda da Austrália, que podia bem passar por personagem da mítica série Miami Vice. Mas no fundo, qual é o mal? A voz rouca soa bem misturada com os inevitáveis momentos de saxofone a solo e os pedidos de let’s dance. Está certo, no meio do estranho que é estar num palco que já nos trouxe tanta coisa boa (quem diria com a polémica que foi a chegada do então Palco 2 em 2011) e que, agora, é patrocinado por um casino online, e já sem a tradicional tenda que o compunha. A vida custa cada vez mais.

Zaho de Sagazan vem de outra terra boa para efeitos do desporto magnífico que é o rugby, a França. Uma das grandes coqueluches do hexágono, com variadíssimos prémios da crítica local ganhos em 2024, é um investimento lógico num mês em que, lá está, muito francês se ouve nas esplanadas dos cafés do concelho, e cada vez mais há procura por parte dos novos expatriados que pululam por estas bandas. Porém, há que dizer que é concerto de hora com um repertório muito esticado face à sua dimensão original, em especial quanto ao seu maior sucesso, “La symphonie des éclairs”, em que vai ter com o público e alguns membros cantam o coro – por vezes com recurso a cábulas. Há um synth pop por vezes engraçado, há um discurso sobre como chorar é bom, há uma voz engraçada, mas ainda há uma falta de repertório. A terminar, uma versão questionável de “Modern Love” do magíster dixit Bowie, e abraços comovidos de que isto foi o melhor público da vida deles. Até pode ser, mas isto no futuro vai dar nalguma coisa a sério ou só em mais um produto da célebre indústria.

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Zahon de Sagazan no Vodafone Paredes de Coura 2025 – Foto: Emanuel Canoilas

Capicua ao longe, mas já só se pensa em Vampire Weekend. Num Vodafone Paredes de Coura que, no pós-pandemia, tem insistido num programa principal de quatro dias, mas que, com o Sobe à Vila e a programação de Domingo chega aos oito – não é brinquedo -, “tudo” é Vampire Weekend.

Felizmente, os nova-iorquinos dão um gigante concerto. Aposta ganha à partida com o trio base de Ezra Koenig, Chris Baio e Chris Tomson a surgir à frente de um pano com letras grandes com o nome da banda a tocar esse grande cartão de visita que é “Mansard Roof”. Já está.

Depois de um esforçado “Como tá todo o mundo?”, cai o pano e surge todo o poderoso octeto que se apresenta nesta noite e o qual vai tocar demasiado bem e demasiado alto para que qualquer grupo de amiguitos mais chato se coloque no nosso caminho para apreciação de tal montra, num concerto que, a certa altura, parece de antanho, tal era o número de isqueiros a ganhar às câmaras de telemóvel.

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Vampire Weekend no Vodafone Paredes de Coura 2025 – Foto: Emanuel Canoilas

“Connect” é uma maravilha com as suas projeções de imagens de Commodore 64, “Step” é gloriosa no cenário do Couraíso, teclas a soar com uma riqueza como raramente soaram cá, e “New Dorp, New York” é um breve pé na água das versões que os Vampire Weekend tanto gostam, um tanto ou quanto indulgente. Para isso há, no entanto, o antídoto das danças imparáveis do baixista Chris Baio, mistura de Bill Murray com Frederico Varandas que nunca deixa a visualização ser chata, e sobretudo há muitas canções. Quem manda uma “A-Punk” com uma “Oxford Comma” de rajada tem pouco com que se queixar.

Para acabar em beleza este primeiro dia de Vodafone Paredes de Coura, “Hope”, a desmanchar devagarinho a banda, membro a membro, de forma mestre, até ao dueto Koenig/Baio final, em que naturalmente Bill Murray ganha. Alma lavada.

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Bruno Rocha Ferreira
Bruno Rocha Ferreira
Apaixonado por vinhos e boa música, o Bruno Rocha Ferreira cobre eventos vinícos, concertos e festivais de música. Também gosta de stand up comedy de qualidade.
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