Vodafone Paredes de Coura 2023, dia 4 – Mudanças para o futuro, a sinfonia dos Explosions in the Sky, a alegria tranquila dos Wilco e o estatuto de Lorde

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Até 2024!

Depois do carga d’água de sexta para sábado, só a meio da tarde é que a chuva parou e a lama parou de se acumular. Muito por isso, o local da conferência de imprensa passou para a sala de imprensa, e foi à beirinha dos famosos cacifos coloridos que tivemos a companhia de João Carvalho, o diretor do festival falou, juntamente com Leonor Dias, diretora de comunicação da Vodafone. A mesma dupla de responsáveis do ano passado, mas uma mensagem bastante diferente do sucedido em 2022, na altura da ermida de Irijó. Onde havia sol, ainda se sentia agora chuva, e a quebra de público é também justificada por isso, claro, tendo também sido referido o cenário de crise económica e inflacionaria. Para contrariar, o calendário do ano 2024, previsto para os dias de entre 14 e 17 de agosto, vai ter um “dia forte” logo a abrir na véspera do feriado da Assunção de Nossa Senhora, e parcerias com outros festivais para a contratação de artistas para os dois últimos dias. Vamos ver em como é que isto se sente no próximo cartel, mas é, sem dúvida, uma mudança de paradigma no Vodafone Paredes de Coura.

Yin Yin é um coletivo baseado em Amesterdão com membros de vários países, com um som por vezes tarantinesco, por vezes a lembrar funk do sudeste asiático (em especial de Myanmar, ou como J Peterman sempre dirá, Birmânia), os autores de The Age of Aquarius são daquelas saladas boas que se provam no Alto Minho e em poucos mais lados, atuações geralmente para um minoria engajada. Assim foi, com muita gente a não arredar pé até ao fim sem virar caminho logo para os Sleaford Mods.

Que importa dizer, têm muita gente que os grama (viking subnutrido foi expressão ouvida para definir a postura em palco de Andrew Fearn, aqui bastante mais gingão do que em 2016, quando estava com a sua lata de cerveja quietinho a carregar nos botões do portátil). Desta vez até a luz tivemos direito, um luxo para este duo que epitomiza a classe trabalhadora inglesa nas suas letras, com Jason Williamson mais parecido na sua dança símia e na sua raiva disparada em letras kitchen sink drama. Há quem ache piada, há quem ache que é uma piada de mau gosto, mas o mau gosto é ali navegado num barco de auto depreciação e critica ao Reino Unido das últimas décadas, problemas atuais misturadas a referências a atores da série Com Jeito Vai (no original Carry On), como Sid James.

Outro coletivo com vertente pluriartistico são os canadianos Crack Cloud, talvez podendo ser definidos como um punk avant garde. Zack Choy irrequieto na sua gabardine transparente num final de tarde onde o calor abafado já se sente. Efeitos luminosos a guiar-nos nesta viagem.

Os Explosions in the Sky dão o concerto-postal do dia, talvez ainda mais que isso, como foco em The Earth is not a Cold Dead Place, obra maior do pós-rock. Tudo aqui é instrumento e comunicação entre instrumentos, guitarras várias bem na linha da frente, como na superlativa “The Only Moment We Were Alone”. Impossível imaginar atuação em versão melhor por parte dos texanos, em momento coletivo de olhar para as estrelas ou fechar os olhos, a fazer lembrar uma noite em agosto de 2011 aqui mesmo com os Mogwai.

Os Les Savy Fav apresentam um faceta bem mais crua do punk. Veteranos da cena, no entanto o lado mais de ligação às artes plásticas é também notória. E depois há Tom Harrington, com as suas mudanças de imagens e verdadeiras invasões às primeiras filas dos espetadores, enquanto varia entre um som mais abrasivo e por vezes um mais suave. Nada parecido.

Um concerto dos Wilco, cromo raro por cá, seria sempre um momento alto do festival para os fãs deste estilo de americana que provavelmente também celebraram a atuação dos Yo La Tengo. Jeff Teedy – com um curioso carisma, e companhia mostraram uma alegria modesta e animada durante a sua atuação, com momentos de comunhão com o público como “Impossible Germany”.

Lorde é o nome que apareceu em primeiro lugar em vários formatos dos cartazes que estavam espalhados pelas ruas. Menina fenómeno no tempo de “Royals” – aqui abertura de show, escolhida para homenagear David Bowie nos BRIT Awards de 2016 num momento comovente a cantar “Life on Mars”, celebrada pela crítica na fase de Melodrama e agora numa fase bastante mais folk com momentos psicadélicos de Solar Power, a neo-zelandeza chega aos 26 anos com várias fases já na sua carreira para o seu terceiro concerto em Portugal. Foco sempre nela, a dança desconjuntada que é imagem de marca e discurso comunicativo com elogios ao público com várias referencias ao Porto (gaffe clássica que foi muito comum ao longo de espetáculo). Os fãs não terão por onde se queixar perante a energia de Lorde, que não levou o concerto de modo blazé que poderia ser associado a ídolos de matiné.

Ascendant Vierge, duo eletrónico francês, faz o início do tratamento da ressaca da preparação da saída das termas da música, numa edição com muita amplitude nos artistas, nos tipos de públicos, nas emoções. Comme Il Faut.

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