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João Bénard da Costa gostava de dizer que há artistas e obras inadjectiváveis. No mundo da música, os Tool estão entre os que se encontram mais perto desta classificação. Rock progressivo, art rock, metal alternativo, metal psicadélico, umas mistura destas, é o que se quiser.

São um OVNI que levita acima de nós, com uma dedicada legião de fãs que suspirava pela sua próxima aterragem de nós, despertando a importância do emocional na ligação com a música. Desde 2006, mais precisamente.

A espera acabou na última 3ª feira, no mesmo local do último avistamento, o na altura Pavilhão Atlântico, hoje Altice Arena, há muitos meses esgotado, mesmo que agora haja um golden circle gigante que ocupava à vontade o primeiro terço da plateia em pé.



Primeira coisa: é possível que os concertos naquela sala vítima de tanta maledicência soem bem, desde que as coisas sejam feitas como deve ser. Os Tool são a prova viva disso, com uma grande mistura de som e a sala cheia até às orelhas ajuda à boa acústica.

Além disso, são uma banda de poucas invenções ao vivo: as 10 primeiras músicas tocadas em Lisboa repetiram o alinhamento de Madrid dois dias antes (mais tarde no encore houve direito a duas de bónus: para além da final “Stinkfist”, houve a fresquinha “CCTRip” e ainda “Vicarious”, a engordar o set em nome próprio face ao festivaleiro).

Num registo ao estilo de melhores momentos da carreira, bem distribuídos pela já de si selecta discografia – 13 anos também é o espaço de tempo entre 10.000 Days e o próximo disco que se prevê que seja publicado a 30 de agosto próximo -, o espetáculo começa com “Ænema” e “The Pot”.

https://youtu.be/R2F_hGwD26g

E é notório que Maynard James Keenan, esse vocalista relutante mas de figurino vistoso – desta vez conta com uma crista bem espetada – continua com o seu estilo bem característico. A cantar e na interação, resumida a um chamamento à cidade onde se encontra (nada de confusões como a dos Viagra Boys no Primavera Sound), para logo depois voltar ao seu mundo, muitas vezes cá atrás à volta da bateria.

Não há projeção da banda nas telas, apenas da imagética entre o obscuro e o onírico associada aos Tool (corvos, lava, cortes laterais de órgãos vão marcando presença ao longo da noite), muita dela criada pelo guitarrista Adam Jones.

E Adam Jones é um músico incrível, tal como o são Danny Carey na bateria e Justin Chancellor no baixo (que ali pelo meio ainda manda um fixe para a bancada). Mostram-no em momentos instrumentais, como acontece na outra novíssima “Descending”, interpretada num nível de excelência apesar da sua complexidade. Tocam alto também e esperamos que quem tenha ficado mais à frente tenha levado os seus tampões, que importa preservar a saúde auditiva.

Visto de cima, do primeiro balcão, é quase como se fossemos peeping toms que conseguem ter acesso à casa dos Tool, de volta a um tempo em que os telemóveis não tinham que documentar todo e qualquer momento – os avisos espalhados pelo recinto tiveram uma taxa de sucesso elevada, e mesmo num local tão grande é possível fazer a viagem mental para fora dali.

A ausência de focos nos intérpretes ajuda a essa imersividade. Muito respeitinho, para aproveitar como deve ser as delicatessen que vão sendo servidas.

“Jambi” e “Forty Six & 2” são outros momentos altos, antes de uma interrupção súbita para a prolongada pausa. As luzes acendem mas não se grita nem se bate palmas. Os fãs aguardam pacientemente pela recompensa e ela acaba por chegar alguns minutos depois.

De volta ao palco, Maynard volta a descer à terra para agradecer ao público e dizer que é ótimo estar de volta. E que quem quiser que filme os minutos finais. Recompensa para quem soube estar ao longo da noite.

Há que dizer que o método funcionou. Foi uma noite de intensidade invulgar, servida por mestres da sua arte, e uma oportunidade bem aproveitada pelos fãs que esperaram tanto tempo e que logo que souberam da boa nova correram a garantir o seu ingresso. Foi bonito. E bom.

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