The Hives no Sagres Campo Pequeno – A festa é sempre melhor com amigos

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Pelle Almqvist coroou-se rei no Campo Pequeno, e os The Hives provaram que a festa só faz sentido quando é partilhada.

Foi numa noite de segunda-feira que, de forma clemente, parou a chuva durante umas horas, antes da borrasca da madrugada que fomos brindados com uma alinhamento de quilate raro num concerto dito em nome próprio em Portugal. De facto, chamar ao que aconteceu no Sagres Campo Pequeno de concerto dos The Hives é muito curto, desde logo com a entrada dos americanos Snõõper, uma das coqueluches dos últimos anos de um punk, vá lá, mais soalheiro.

Falhada a ida à ZdB em agosto do ano passado, valeu a pena ter chegado pouco depois das oito para ver Blair Tramel, Connor Cummins e seus muchachos. Perante uma plateia ainda bastante despedida e numa sala que, quando não cheia, apresenta problemas sobejamente conhecidos, não baixaram os braços e fizeram a festa, com o guitarrista a ir para o meio da galera, Blair a trocar entre voz e instrumentos, e os característicos bonecos gigantes que costumam marcar presença entre o público a bailar – em particular o Mosh-quito, inseto verde de ar simpático que faria boa figura num desfile alternativo de cabeçudos de Ponte de Lima.

No fim de 30 minutos de prestação, “Running” é uma grande malha para fechar uma prestação digna de quem deve ficar debaixo de olho para os próximos tempos.

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The Hives no Sagres Campo Pequeno – Foto: Emanuel Canoilas

Passada a primeira, o assunto torna-se mais sério com os Yard Act, banda inglesa que muito depressa bordejou o topo dos topes no país natal. Representantes de fino trato de um pós-punk socialmente atento sem deixar de ser divertido na descrição e com um lado melódico bem presente, são banda que facilmente hoje valeriam um Coliseu dos Recreios, estamos em crer. Aqui, fomos brindados com 11 músicas em que várias se classificariam como as mais bem tocadas da noite – a Fender Telecaster de Sam Shipstone bem cortante e metálica, a dar o tom ao som da banda.

Com uma apresentação divertida de “You paid for it, you’re gonna get it“, o vocalista James Smith dá leveza nos intervalos ao peso de letras como as de “Rich” – a paranóia da perda de um estatuto ganho de forma quase involuntária – e com a nova “New Beginnings” a agitar um grupo já muito apreciável de espectadores presentes. Estes rapazes de Leeds são bons. ”The Overload” tem espaço para o coro dos gaviões da fiel, e “The Trapper’s Pelts” volta a dar brilho à guitarra. Até à próxima, que esta relação vai continuar.

Chegam os cabeças de cartaz – aqui uma realidade efetiva e não uma promoção mediática questionável de promotores de festival, e é facilmente verificável que os The Hives estão numa fase simpática da carreira. O novo The Hives Forever Forever The Hives tem tido receção simpática da crítica e apanhou um momento em que parece existir algum conceção de uma pop mais pastilha elástica e a procura de um som mais musculado. E quem tem Pelle Almqvist como comunicador entra já a ganhar.

Como uma encenação simples mas marcante e cuidada – desta vez os modelitos a preto e branco tinha umas faixas de luzes nas costuras -, os suecos arrancaram para um alinhamento seco mas intenso, meio/meio entre o novo disco e os maiores sucessos, como se viu logo com a abertura com a nova “Enough Is Enough”, seguida com a (talvez) segunda batida de bateria mais conhecida da banda – “Walk Idiot Walk”. Festa ganha houvesse dúvidas, cervejas a voar e pezinho a bater no chão de forma animada num meio reconfortante onde quem estava lá sentia-se em casa, algumas caras (re)conhecidas e a memória de anos mais juvenis quando álbuns como Tyrannosaurus Hives brilhavam no meio da explosão da rock de garagem do início do século.

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The Hives no Sagres Campo Pequeno – Foto: Emanuel Canoilas

“Paint a Picture” é orelhuda e tem pinta de vir a entrar no cânone com o coro ali mesmo a pedi-las. Algum tempo depois, Pelle acena um cartaz A4 a dizer que é o presidente – e virá a tornar-se presidente-rei com uma coroação perto do final alinhada com a foto de capa do último disco. Durante tudo isto, os técnicos vestidos de ninja (abraço, Manuel Almeida) estão sempre hiperativos a garantir que não faltam metros de cabos para quando se vai para o meio da arena.

“Hate to Say I Told You So” é momento alto como se esperava, simplesmente um dos grandes hinos rock das últimas décadas, cantada agora com uma energia mais tranquila, mas presente, e a caminho da reta da meta “Come On” teve direito a chamada ao palco e coro dos integrantes dos Snõõper e dos Yard Act em clima de boa disposição.

A seguir, “Tick Tick Boom” foi a bomba pré-primeiro final, com o encore muito focado no trabalho mais recente – o fim a sério foi com “The Hives Forever Forever The Hives”, faixa-título.

Foi um exagero o Sagres Campo Pequeno para quem, há dois anos, foi ao Capitólio? Foi, mas no fundo ninguém quis saber. Nem eles, nem nós. Os The Hives são do bem e sabem de cor uma das lições essenciais – a de não se levar demasiado a sério.

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The Hives no Sagres Campo Pequeno – Foto: Emanuel Canoilas
Bruno Rocha Ferreira
Bruno Rocha Ferreira
Apaixonado por vinhos e boa música, o Bruno Rocha Ferreira cobre eventos vinícos, concertos e festivais de música. Também gosta de stand up comedy de qualidade.
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