Reportagem – Super Bock Super Rock 2023 (Dia 3)

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Num dia que prometia muita música para dançar, o ritmo demorou a acelerar.

Texto de: Maria João Cavadas

No terceiro e último dia de festival, a chegada ao Meco revelou-se, novamente, uma tarefa pouco fácil. A somar a isso, a passagem pela segurança, com uma revista exaustiva e demorada, atrasou muitos festivaleiros, grupo onde nos incluímos, para aquele que se destacava como um dos concertos da noite. Na descida até ao recinto, era “Kaytranada” o nome que mais se ouvia. De regresso ao festival, o DJ e produtor haitiano-canadiano subiu ao palco principal e deu-nos o alinhamento perfeito à hora perfeita. Foi um espetáculo marcado por uma magnífica simbiose entre o público, que dançava incansavelmente, e a descontração e naturalidade do artista, que não desistiu de nos animar do início ao fim. Não faltaram os seus maiores sucessos: de 99.9%, (2016), “You’re The One” e “Lite Spots”, que nos deixou cantar na nossa língua-materna; de Bubba (2019), “10%”, que conta, na versão de estúdio, com Kali Uchis, e “Vex Oh”, na qual participa GoldLink, artista que atuou na edição de 2022 do Super Bock Super Rock.

Pudemos, também, dançar ao som da sua versão de “Assumptions”, tema do DJ e produtor escocês Sam Gellaitry. Sem críticas a apontar, estávamos mais do que preparados para tudo o que se seguiria. Ou não?

Enquanto terminava Kaytranada, começava, no palco Pull&Bear, a atuação de PinkPantheress. Ainda que a música da artista britânica, cujo sucesso e carreira foram espoletados pela publicação de vídeos no TikTok, se afaste do estilo de música de dança a que estamos habituados nestes festivais, por tocar num drum and bass suave que se mistura com pop, interpretados por uma voz calma e aguda, talvez isso não chegue para se destacar. Num concerto curto, que durou apenas 40 minutos (não surpreendentemente, dada a sua lista reduzida de temas), ouvimos “Break It Off”, o tema viral do TikTok saído de To Hell with It (2021), e “Picture in my mind”, o single de 2022 que gravou com, curiosamente, Sam Gellaitry. Sem grandes surpresas, a artista terminou a sua breve passagem pelo festival com “Boy’s a liar”, do seu EP de 2023, Take Me Home. Na nossa opinião, foi um concerto de pouca relevância, considerando, contudo, o espaço que há para a artista crescer, se conseguir libertar-se da associação pouco benéfica que tem a fazer “música para TikToks”.

Ainda soavam os últimos compassos do último tema do concerto de PinkPantheress, já dezenas de pessoas corriam para o palco principal para não perder um segundo do espetáculo de Steve Lacy, um dos nomes mais aguardados desta edição do festival. Rapidamente perceberíamos que essa correria era desnecessária, dado o atraso do artista. Tudo a postos: no meio do palco, uma estrutura que ia abrindo e fechando, onde eram exibidos vídeos e que servia de separação entre o artista e a sua banda e coro.

No dia do primeiro aniversário do lançamento do seu álbum Gemini Rights, e empunhando a sua guitarra, foi com “Helmet” que Steve, que iniciou a sua carreira com o grupo The Internet, arrancou o seu espetáculo. Aproveitou para partilhar connosco que os seus companheiros lhe deram todo o apoio para iniciar a sua carreira a solo, desvendando, também, que estariam a trabalhar em algo novo. O artista norte-americano viu o seu tema “Bad Habit” (2022) nomeado como um dos melhores temas do ano por várias revistas de música. No entanto, tornou-se também viral no TikTok, numa versão acelerada, e essa pode ser uma sina para qualquer artista. É que “C U Girl” (2015), o seu primeiro lançamento a solo, e “Dark Red” (2017), que tão bem representam a sua essência, ficam escondidos por um tema que encontrou sucesso numa distribuição em massa e que não distingue os verdadeiros fãs daqueles que conhecem apenas o tema. A soul de Steve Lacy é muito mais do que um tema.

Frustrações à parte, nem sempre apenas a qualidade musical do artista o salva. No meio de problemas técnicos, que geraram várias interações com o seu assistente técnicos, alguns momentos desconfortáveis de silêncio e uma qualidade vocal longe de perfeita, Steve Lacy teve sorte com o público caloroso que lhe calhou: é que, apesar do receio de que tivéssemos de chegar ao tema para ouvir os que o viam, o público português provou que tinha tudo bem sabido. Na sua primeira vinda a Portugal, Steve era recebido por verdadeiros fãs. Não vimos um concerto excecional, mas também não ficámos dececionados.

Com alguma pressa, voltávamos ao palco Pull & Bear para ver os franceses L’Impératrice, de quem esperávamos um grande espetáculo depois do que deram noutro festival português em 2022. E não saímos desiludidos: a sua disco music com riffs de guitarra, a voz doce de Flore Benguigui e a energia constante da banda voltaram a levar-nos para o primeiro concerto que tínhamos visto nesse dia e o poder da música de dança voltou a tomar conta de nós. Quem não conhecia ficou maravilhado, e os elogios tecidos ao concerto ouviam-se repetidamente. Do seu último álbum, Tako Tusbo, lançado em 2021, pudemos ouvir “Peur des filles”. Como não podia deixar de ser, ouvimos “Vanille fraise”, single de 2015, e, claro, mexemo-nos com “Agitations tropicales”, do seu EP do mesmo ano, Odyssée. Os L’Impératrice deram um dos melhores concertos desta edição do festival, mas mereciam, definitivamente, estar no palco principal.

A noite ia longa, mas ainda faltava um concerto – e gastar as poucas reservas de energia que nos restavam. Era Marcus Füreder, ou, como é mais conhecido, Parov Stelar, acompanhado dos seus músicos e vocalistas, que tinha a responsabilidade de encerrar o palco principal nesta edição do SBSR. E que papel tão bem entregue. Ainda não sabemos como, mas recuperámos toda a energia já gasta naquela noite e, não só dançamos, como saltámos sem parar. Seria impossível não fazê-lo ao som do electro swing de Parov Stelar. Com temas como “All Night” e “Booty Swing” (The Princess e The Princess, Pt. Two, respetivamente, de 2012), e até uma cover de “Sweet Dreams (Are Made of This)”, a banda fez-nos dançar durante 90 minutos mágicos que ainda não conseguimos descrever bem.

Apesar da alguma antecipação que tínhamos, não estávamos preparados para o que ali se viveu. A interação com o público esteve a cargo dos músicos e, claro, dos vocalistas, mais do que do próprio Parov Stelar. Contudo, de alguma forma, a sua presença nunca passou despercebida nem sentimos que estivesse num lugar com menos destaque. Na verdade, foi o maestro de todos nós e deu-nos mais do que poderíamos pedir.

E dito isto… até 2024!

Foto: Super Bock Super Rock

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