A Aspyr tenta revitalizar mais um jogo da saga Star Wars, mas o esforço em modernizar as experiências continua mínima.
Há jogos que são eternos. Que funcionaram no seu lançamento e que, de alguma forma, hoje em dia continuam sólidos e mecanicamente atuais mesmo mostrando a sua verdadeira idade. E há jogos que, apesar de parecerem mais “modernos”, precisam de um pouco mais do que a vontade de jogar e da nostalgia no peito dos jogadores para merecerem a nossa atenção.
Após o meu tempo com Star Wars: Bounty Hunter, sinto que esta nova aposta da Aspyr se encontra na segunda definição, mostrando que esta missão de preservação e de relançamento de clássicos do universo Star Wars não faz o suficiente para ser uma experiência agradável para o jogador mais contemporâneo. Mas não por falta de tentativas.
Lançado originalmente em 2002, para a PlayStation 2 e Nintendo Game Cube, Star Wars: Bounty Hunter quis aproveitar o potencial nunca explorado nos filmes quer de Boba Fett ou de Jango Fett, ambos com presenças curtas e destinos fatais, tanto na trilogia original como nas prequelas de Star Wars. O pico do “cool factor” inerente à personagem deu, assim, oportunidade à equipa da LucasArts de criar um jogo de aventuras na terceira pessoa, muito antes do advento dos shooters com mecânicas de cover e de perspetiva over-the-sholder, mas mais próximo do tradicional jogo de aventuras e de plataformas 3D da sua geração.
Controlar Jango Fett numa aventura passad obviamente antes dos eventos de Star Wars: Attack of the Clones (ou Episódio II, para os amigos), abria também a oportunidade de implementar mecânicas bem interessantes que refletiam o perfil desta personagem, ora mercenário, ora caçador de prémios, ao introduzir pequenos twists de exploração durante as missões onde os jogadores podiam capturar inimigos procurados, através de um scanner e de um gancho.
Na altura, o jogo foi recebido de forma morna por parte da crítica, que gabava os seus visuais (da época) e as suas mecânicas de jogabilidade, mas que também acentuava os problemas de repetição e o controlo de câmara. Portanto, quando se fala de uma remasterização, há claramente espaço para melhorias. Especialmente quando os jogadores parecem ter guardado o jogo com mais carinho do que os críticos.
A versão de 2024 de Star Wars: Bounty Hunter fica disponível nas plataformas atuais – PC, consolas PlayStation, Xbox e Nintendo Switch -, o que significa que existem algumas expectativas. Não se esperam gráficos modernos, ou não fosse apenas uma remasterização, mas as expectativas existem. O básico está cá. Nas novas plataformas, Star Wars: Bounty Hunter pode ser jogado com resoluções até 4K, com taxas de frame mais elevadas, incluindo o desbloqueio dessas taxas nas versões de consolas. Há texturas em altas resoluções, pequenas afinações de controlos adaptados aos comandos modernos e, até, a inclusão de uma lanterna para ser usada em níveis mais escuros. Também como extra, esta versão permite rejogar o jogo no papel de Boba Fett, o pai do protagonista – algo que não passa apenas de uma skin.
A versão PlayStation 5 conta ainda com algumas funções extra, nomeadamente a nível de feedback háptico com o DualSense, assim como outras gimmick interessantes, como o uso do auscultador e a cor da lightbar que muda consoante a vida do personagem. Nada de verdadeiramente inovador, mas bem-vindo.
Para lá das cortinas do básico para um remaster da Aspyr, como já nos habituou, Star Wars: Bounty Hunter faz questão de nos mostrar que é, de facto, um jogo datado. Daqueles que envelheceu mal e que nos fazem questionar se não seria mais interessante um remake, ou algo próximo disso – ainda que o conceito de preservação seja sempre bem-vindo.
A minha experiência com Star Wars: Bounty Hunter não foi a melhor e pode ser algo derivado do facto de não ter jogado o original quando foi lançado, apesar de ter vivido bastante o lançamento das prequelas e de conhecer O Clone original. Infelizmente, Star Wars: Bounty Hunter não esconde o peso da idade, sendo efetivamente apenas um jogo em alta definição. Apesar de correr extremamente bem na PlayStation 5, e mesmo com as suas vantagens, as suas geometrias arcaicas e definição mais acentuada da imagem revelam um jogo estranhamente vazio, velho e com um level design de difícil leitura, confuso até. Visualmente, mesmo a adição da lanterna pouco ou nada adiciona à experiência e, apesar de o jogo contar até com um novo sistema de sombras, nada disso lhe retira aquele sentimento de jogo da PlayStation 2. Para os jogadores que procuram algo autêntico, tudo isto pode ser fantástico, mas se esperam por alguma modernização, podem ficar desapontados.
O mesmo se aplica à jogabilidade, com uma sensibilidade estranha no movimento dos analógicos, um sistema de acesso às armas e acessórios muito arcaicos e uma extrema e aborrecida repetição de jogo, de momento para momento, enquanto corremos em direção aos inimigos a disparar. O jogo também sofre de algumas chatices mecânicas, nomeadamente com o sistema lock-on, que se devia ativar ao fazermos zoom com as nossas armas, mas que é acionado de forma aparentemente aleatória, dando à jogabilidade uma enorme falta de controlo de ação.
Com uma jogabilidade com base em plataformas, onde até podemos usar o jetpack, os níveis até contam com alguma verticalidade interessante de exploração, mas, infelizmente, os motivos para o fazer são secundários e levam-nos por caminhos e viagens opostas aos objetivos definidos, ao ponto de tornar os níveis bem mais labiríntico do que deveriam.
Star Wars: Bounty Hunter é um jogo com idade. Uma remasterização básica que mais se aproxima de uma conversão direta do jogo original, que se assemelha à experiência de jogos emulados com retrocompatibilidade nas consolas mais recentes. Se, por um lado, é uma forma de preservar o jogo de outra geração, a missão está cumprida, mas por outro gostava que projetos destes fossem um pouco mais além e dignos de recomendar a amigos.
Cópia para análise (versão PC) cedida pela Sandbox Strategies.