Stage35: a gastronomia japonesa ganhou um novo palco em Lisboa

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Inaugurado em junho deste ano, no coração do Chiado, o Stage35 apresenta uma proposta ousada que cruza tradição culinária japonesa com a cultura pop e energia urbana contemporânea.

Há sete anos, no nº7 da Rua Paiva de Andrade, surgia o AFURI, uma marca internacional japonesa que se tornou pioneira na introdução do ramen em Lisboa. A equipa, formada na exigente escola nipónica de AFURI, manteve os métodos, o rigor e a qualidade, mas decidiu seguir o seu próprio caminho. Foi assim que, no passado mês de junho, nasceu o Stage35, uma marca independente pronta para sae adaptar ao mercado português, mas sem comprometer a sua essência.

A marca, que tem em Tiago Pimentel o diretor operacional, está integrada num ecossistema mais amplo de restauração de inspiração japonesa, que inclui os restaurantes Sanjugo (localizados no centro comercial de Oeiras e no Amoreiras) e Izakaya. O plano para o Chiado é revitalizar a zona, recuperando assim o espírito das noites festivas de quinta e sexta, com o Stage35 como ponto de partida ideal para quem sai para a vida noturna.

O nome, Stage35, tem vários significados. “Stage” remete para os videojogos, simbolizando a passagem para um novo nível, ou seja, uma fase mais ousada e inovadora da marca. E também faz referência ao próprio espaço, que, nos tempos da Segunda Guerra Mundial, funcionava como cabaré. Já o seu número, 35, símbolo de sorte e prosperidade na cultura japonesa, liga-se diretamente à outra marca de Tiago Pimentel, o Sanjugo (que significa literalmente “35” em japonês).

A funcionar em regime pop-up, o Stage35 permite testar e aprimorar a carta de forma contínua, ouvindo os clientes e explorando novas receitas. Aliás, e se pensam que o Stage35 oferecem apenas ramen – um prato desafiante, até mesmo pelas altas temperaturas que se fazem sentir -, desenganem-se. A carta é versátil, com propostas como os donburis, mais leves, frescos e ideais para dias quentes, mas sempre reconfortantes e fiéis à tradição. Claro que o ramen mantém a sua autenticidade, com caldos caseiros feitos no local, noodles artesanais e combinações ousadas, como o caldo com pesto.

No entanto, mais do que um restaurante, o Stage35 quer ser um espaço de partilha e convívio, em que os clientes não vêm apenas pelo prato em si, mas pela vontade de estar à mesa, todos juntos a partilhar a comida.

Foi com este espírito de partilha que fomos conhecer o Stage35. Apesar de sabermos que o espaço será remodelado em breve, a verdade é que a primeira impressão foi bastante positiva. Os tetos abobadados em tijolo e a paleta de cores sóbria criam um ambiente equilibrado, onde o minimalismo acaba por funcionar muito bem. Ao fundo da sala destaca-se uma pequena bancada onde é possível ver os chefs em ação, junto a uma vitrine que exibe o peixe fresco do dia. Ligado por um corredor discreto, o bar completa a experiência: aqui preparam-se todas as bebidas, num ambiente marcado por iluminação estratégica e apontamentos de plantas naturais, que ajudam a tornar o espaço ainda mais convidativo. Lá fora, uma esplanada simples, mas acolhedora, convida a desfrutar da refeição com vista para o Teatro São Carlos.

Enquanto nos sentávamos e escolhíamos os pratos, fomos simpaticamente recebidos pela equipa do Stage35, que se destacou pelo atendimento rápido, atencioso e eficiente. Um detalhe curioso que nos chamou a atenção foi o cuidado com o branding: além das caixas de take-away já incorporarem no design o icónico gato da sorte, também a garrafa de água segue essa mesma identidade visual. Um pormenor engraçado que reflete bem o quão pensado ao detalhe todo o conceito está a ficar.

Para além da água, chegou também à mesa o cocktail Lisboa 35, uma combinação de vodka de pepino, limão, elderflower, xarope de açúcar e água tónica. Ideal para os verdadeiros apreciadores de pepino, já que o seu sabor se destaca de forma intensa, mas equilibrada. Nós, que adoramos pepino, ficámos logo rendidos a esta bebida fresca, saborosa e surpreendentemente suave.

Também aproveitámos para provar o Sake Junmai Ginjo, que curiosamente nos fez lembrar aguardente, mas muito mais suave e com menos álcool, o que o torna bem mais fácil e agradável de beber.

Para as entradas, optámos por um dos pratos já mais pedidos do menu: os Crispy Eggs, que são dois ovos de ramen panados. Cada ovo é cozido durante seis minutos, curado durante dois dias… e só depois frito, resultando num contraste perfeito entre um interior macio e saboroso e um exterior crocante, mas na medida certa. Por baixo, acompanhava um molho picante muito bom, feito com ratan tare, chicória e vinagrete de shio, um molho guloso com a textura perfeita para harmonizar com os ovos fritos.

Também quisemos as Karaage, que são coxas de frango fritas marinadas em especiarias e servidas com um molho yuzu kosho. Estas coxas estavam simplesmente divinais, tão boas que poderiam facilmente ser consideradas um prato principal. A carne no interior estava extremamente tenra e suculenta, com o sabor das especiarias bem equilibrado, sem ser demasiado forte, e a textura crocante por fora estava no ponto. Ao dar a primeira dentada, notava-se que se tratava de uma coxa desossada, macia e deliciosa, que quase derretia na boca.

Para experimentar o prato “estrela” da casa, os Donburis, optámos pelo Gyudon, uma bowl de arroz servida com carne de vaca estufada num caldo feito com dashi, molho de soja, alho e gengibre, acompanhada por um ovo escalfado, pickle de gengibre, cebolinho e sementes de sésamo. Apesar de ligeiramente picante, este prato revelou-se muito agradável, com a carne tenra e bem cozinhada, absorvendo na perfeição os sabores do caldo. O ovo escalfado acrescentava cremosidade, enquanto as sementes de sésamo e o cebolinho complementavam o prato com diferentes texturas.

Seguiu-se o ramen Shoyu, uma verdadeira homenagem à alma da cozinha japonesa. O prato chega à mesa com um caldo de galinha rico e reconfortante, reforçado por shoyu tare, frango com pesto e parmesão – twist dado pelo chef -, bambu, alho-francês, cebolete, ovo e alga nori. A combinação de ingredientes pode parecer inusitada (especialmente o pesto e o parmesão), mas resulta surpreendentemente bem, com um caldo que é profundo, aromático, cheio de sabor e encorpado. É, essencialmente, o que chamamos a verdadeira comida de conforto, como aquela que só as nossas avós sabem fazer. Merece ser sorvido como os ramens devem ser sorvidos: com vontade, sem cerimónias, absorvendo o calor e os sabores de cada gole.

Veio também o Pork Bao, um bao recheado com barriga de porco cozinhada a baixa temperatura, acompanhado por molho sweet chilli, cebolete, pepino e pickle de gengibre. No nosso caso, arriscámos na versão sem molho, mas a verdade é que o resultado final superou todas as expectativas: foi, sem dúvida, um dos melhores baos que já provámos. O pão, claramente caseiro, tem um leve travo doce, mas sem ser enjoativo, e destaca-se pela massa extremamente fofa. É daqueles pães que vale a pena pedir, mesmo só para experimentar. Quanto ao recheio, a carne de porco estava absolutamente perfeita, tão tenra que se desfazia com facilidade na primeira dentada. Notava-se o cuidado na cozedura lenta, que lhe conferia sabor delicioso e uma textura extremamente macia. E mais uma vez, o pepino surge em destaque, a trazer frescura ao prato, e equilibrando assim os sabores mais ricos da carne.

Em termos de sushi – claro, não podia faltar… -, pedimos o Chef Special, um roll composto por salmão, robalo, ovas de peixe voador, abacate e batata-doce japonesa. Acompanhou também o Sashimi Moriawase, com vinte peças de sashimi no total – quatro de cada tipo de peixe – numa seleção especial do chef. O sashimi surpreendeu pela excelente espessura dos cortes, permitindo saborear realmente a frescura do peixe. A diferença face a outros sashimis que já provámos foi evidente, pois conseguimos mesmo sentir o sabor a mar entranhado nas peças do peixe, tal era a sua frescura. Já nos sushi roll, destacou-se mais o sabor do salmão do que o do robalo, mas ambos estavam frescos e bem preparados. A batata-doce japonesa não se fez sentir tanto no paladar, mas no conjunto, o resultado foi muito agradável. As peças estavam visualmente apelativas, bem montadas e, acima de tudo, deliciosas.

Para terminar em beleza, chegou à mesa o Janofee, a sobremesa da casa e uma versão original do clássico Banoffee. Esta tartelete surpreende pela criatividade, combinando praliné de amêndoa, caramelo de miso salgado, creme de banana, ganache de baunilha e um toque de kinako (farinha de soja torrada). À primeira colherada, percebe-se que é uma sobremesa pensada ao detalhe, com o doce natural da banana a contrastar na perfeição com o salgado subtil do caramelo de miso, criando um sabor muito viciante. É um bolo intenso, daqueles que não são para tímidos no que toca ao açúcar – impróprio para diabéticos, mas perfeito para verdadeiros amantes de doces como nós. Foi, sem exagero, de comer e chorar por mais.

No final de tudo, fica a certeza de que o Stage35 é muito mais do que uma pop-up japonesa: é um projeto com identidade própria, que respeita as raízes da tradição nipónica enquanto se reinventa com criatividade e atenção ao detalhe.

O Stage35 fechará temporariamente no final do ano e em janeiro de 2026 para obras, reabrindo com um conceito inovador, baseado numa forte vertente tecnológica e interativa. Assim, vai abandonar a estética clássica japonesa para mergulhar no universo pixelado da cultura visual nipónica. As novas embalagens de take-away (cubos com o icónico “maneki-neko” em versão digital) já dão pistas sobre o que aí vem. Até a tipografia foi pensada ao detalhe, com inspiração no mundo digital. Mal podemos esperar para regressar!

O Stage35 encontra-se no nº13 da Rua Paiva de Andrade e as reservas podem ser feitas através do 965 116 974.

Inês Lopes
Inês Lopes
Dentista nas horas vagas e colaboradora do Echo Boomer no tempo que sobra. Fã de gadgets, livros e tâmaras (não necessariamente por esta ordem), adoro explorar o mundo através da comida e das viagens. Se não me encontrarem a escrever ou a trabalhar, é porque estou confortavelmente instalada no sofá, provavelmente a devorar um novo livro.
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