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Sonic Frontiers está recheado de bizarrias e anomalias, mas tem os ingredientes certos para ser uma aventura minimamente divertida.

O que é que faz um bom jogo? São os gráficos? É a jogabilidade? São os desafios e a diversão que nos oferece? É a sua história quando esta existe? Para diferentes tipos de jogos, o que faz um bom jogo depende da sua natureza. Sonic Frontiers pede, por exemplo, que a jogabilidade seja divertida; que tenha uma história ou fio condutor cativante para as suas 20 a 30 horas; que seja visualmente apelativo; e que seja, acima de tudo, divertido. Após terminar Sonic Frontiers, sinto que nem em todos estes elementos de exemplo o jogo atingiu um patamar positivo. Ainda assim, entreteu-me o suficiente para explorar as suas cinco ilhas, que abrem Sonic ao formato do mundo aberto.

Demorei até me fazer o clique. Sonic Frontiers está carregado de pequenas bizarrias que deixam uma péssima primeira impressão. A premissa desta aventura é simples. Com os amigos de Sonic a serem novamente raptados, Dr. Eggman está preso num mundo virtual e, basicamente, não tem qualquer importância no jogo, pelo que Sonic é atirado para um mundo dominado por robôs alienígenas. Há um esforço muito grande em criar worldbuild e explicar o estado do mundo através de interações com personagens e através de breves cinemáticas desinspiradas ou flashbacks, espalhadas ao longo da exploração e em momentos chave. Nada por aí além. Contudo, neste departamento, Sonic Frontiers destaca-se por loucas setpieces em combates com bosses, que evocam a energia caótica de um jogo da PlatinumGames, como um Metal Gear Rising, e, apesar de uma enorme falta de polimento, é aqui que o jogo revela a sua identidade mais forte e onde encontramos os momentos mais memoráveis desta nova aposta.

No geral, a apresentação de Sonic Frontiers também não é nada que se gabe. Aposta num look mais “realista”, mas a sua direção de arte e mundo que apresenta em cada uma das suas cinco zonas abertas é altamente desinspirado e desprovido de vida. Aliado a um excesso de problemas de carregamento de elementos, Sonic Frontiers tem mais o aspeto de um jogo de pré-produção do que de um produto finalizado.

Com dois modos de desempenho nas consolas da nova geração, em particular na PlayStation 5 e Xbox Series X, o modo de qualidade, a 30FPS, é praticamente inútil, pois o ganho mínimo na clareza de imagem não vale a pena o sacrifício da taxa de frames, até porque este modo não oferece nenhuma outra vantagem técnica. Já a 60FPS, o jogo corre bastante melhor, mas estamos perante outro desafio não intencional: os movimentos caóticos.

Se há algo que devo gabar em Sonic Frontiers é a quantidade de opções de acessibilidade que o jogo apresenta de forma a colmatar o excesso de velocidade da personagem e da câmara. Por exemplo, pequenos sliders permitem alterar a velocidade e aceleração do movimento da câmara e de Sonic, assim como as suas sensibilidades. Experimentando estes ajustes, diminuindo o que dá por defeito, Sonic Frontiers não se tornou apenas mais jogável – tornou-se divertido o quanto bastou. Ainda a nível de configurações, vi-me também obrigado a remover o motion blur, que é uma característica que até gosto bastante em videojogos, mas que aqui se revelou um pouco em demasia.

Mas estas alterações não foram feitas de forma imediata, porque os menus de Sonic Frontiers também apresentam as suas bizarrias. Entre elas temos o registo de alterações, que não é imediato, e a seleção das diferentes abas, que requerem sempre mais um pressionar de botão desnecessário entre elas. Frequentemente abria o menu, queria navegar e esquecia-me que tinha que carregar no X (do comando da PS5) para continuar a navegar. Simplesmente parvo e inconveniente.

Sonic Frontiers marca uma nova direção na série. Não posso falar pelos fãs mais acérrimos, mas eu, pessoalmente, gosto da ideia de um Sonic a correr por campos, desertos, ruínas e outros ambientes. E Sonic Frontiers faz isso bem. Cada ilha é o seu próprio mundo aberto que nos vai ocupar uma média de cinco horas a explorar todos os cantos e a resolver os seus desafios. É um perfeito substituto das tradicionais “Zones” de jogos anteriores, com a liberdade de escolhermos a ordem com que queremos resolver os puzzles ambientais propostos, que nos recompensam com itens e atributos que vamos somando para desbloquear habilidades, interações e novos desafios. O jogo não nos preocupa em apanhar tudo, ou em fazer tudo, apenas o necessário para avançar. O próprio jogo tem um modo “batota” em que podemos ir pescar com o nosso amigo Big Cat, de forma a somar tokens que podem ser trocados por anéis, itens de interesse, logs, pontos de experiência, entre outros, e que, se quisermos perder algum tempo, rapidamente colocam Sonic com as habilidades no máximo.

Os desafios e puzzles do seu mundo são relativamente variados, mas com a novidade a desaparecer depressa. Desde pequenas áreas interativas com puzzles simplistas onde temos que tirar partido à nova habilidade de Sonic – que prende inimigos e objetos correndo à sua volta; a estruturas surpreendentemente bem desenhadas, com plataformas, molas e rails – que funcionam com pequenos níveis e colocam à prova as nossas habilidades; e ainda pequenos shrines que dão acesso ao melhor de Sonic Frontiers: níveis tradicionais.

Não são muitos, apenas cerca de uma meia dúzia por área, mas são extremamente bem desenhados, ricos, coloridos, desafiantes e contam com uma banda sonora absolutamente incrível. A física do jogo não é a mais polida e, por vezes, parece que estamos a lutar contra o jogo, mas, quebrando essa barreira, há uma estranha vontade de os querer repetir até sacar o tão desejado Rank S. Honestamente, adorava que Sonic Frontiers tivesse mais níveis destes.

Em Sonic Frontiers, Sonic apresenta também novos movimentos, para além de correr, agarrar-se a paredes ou ataques lock-on. Desta vez ele dá murros, pontapés e até tem finishing moves desbloqueáveis através de uma árvore de habilidades. Estas adições são um bom twist à fórmula, especialmente quando encontramos inimigos e mini-bosses nos mapas, que podem ser abordados frontalmente com toda a nossa energia e que requerem alguma estratégia de combate, ou que são até pequenos mini-puzzles. Estes confrontos são, muitas vezes, opcionais, e apresentam uma direção refrescante, que também evoca inspirações de outros jogos de ação nipónicos (mais uma vez da PlatinumGames).

Se parece que quero gabar Sonic Frontiers, têm toda a razão. Há muita coisa boa nesta aposta da SEGA. Pelo menos conceptualmente. As bases para um jogo que poderia ser a tão esperada evolução da SEGA, que tem sido uma enorme montanha russa desde de jogo para jogo, está aqui. Mas, apesar de me divertir e reconhecer as coisas que Sonic Frontiers faz bem, tenho dificuldade em categorizá-lo como um bom jogo. A falta de polimento técnico é gritante, o desequilíbrio de dificuldade dos desafios é enorme, a direção e o tom do jogo é amadora e quer-se levar demasiado a sério. A verdade é que, para o bem ou para o mal, quando Sonic Frontiers clicou, já estava a jogá-lo em piloto automático, a fazer as mesmas coisas vezes sem conta, como se estivesse a fazer objetivos de uma checklist, ou seja, o pior que um jogo de mundo aberto pode oferecer, porque revela que a sua substância é redundante.

Sonic Frontiers pode ser jogado no PC, consolas PlayStation, Xbox e na Nintendo Switch.

Cópia para análise (PlayStation 5) cedida pela Ecoplay.

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