Lançado exclusivamente com um modelo de 46mm, o Samsung Galaxy Watch8 Classic pode não ficar bem em todos os pulsos, dadas as suas dimensões, mas vem carregado de funções inteligentes.
A Samsung continua a apostar muito no segmento da saúde, colocando a linha Galaxy Watch no centro da sua estratégia e numa posição de porta de entrada para o vasto ecossistema de bem-estar que a marca está a construir. Para 2025, a gigante sul-coreana pretende conquistar os entusiastas de wearables com o novo Galaxy Watch8 Classic, um equipamento que utilizei durante algum tempo e que demonstrou, pelo menos a nível de design, estar muito bem conseguido. Os seus fundamentos estão lá, mas a verdadeira questão é outra. Conseguirá este modelo destacar-se numa gama que já parece saturada? E foi isso que procurei responder.
E em primeiro lugar, tenho de ser honesto, o Galaxy Watch8 Classic transmite uma sensação de déjà-vu. A Samsung manteve a famosa moldura giratória, um anel tátil e bastante intuitivo, que facilita a navegação entre menus e listas, e envolveu-o agora numa caixa em aço inoxidável, mais resistente mas também visivelmente mais volumosa, e que não é adaptável a todos os pulsos, sendo de 46mm. O peso subiu para 63,5 gramas, o que pode tornar a utilização prolongada menos confortável para quem tem pulsos mais pequenos. Em compensação, a resistência está garantida, já que conta com a certificação IP68 e proteção de até 5ATM, ou seja, está pronto para praticamente qualquer cenário, incluindo natação ou qualquer outro desporto aquático.
A Samsung tentou alinhar o Galaxy Watch8 Classic com a linguagem de design do Galaxy Watch Ultra, reforçando a consistência da sua gama de smartwatches. Aqui não há coroa rotativa, mas sim um botão de ação dedicado a treinos e mais dois botões físicos, numa disposição muito idêntica à do Ultra. A moldura giratória acaba por ser o detalhe que confere ao Classic uma identidade própria, algo que o distingue tanto do Watch8 “regular” como do Ultra. Ainda assim, não deixa de ser um relógio grande, o que pode afastar utilizadores mais orientados para fitness, que provavelmente olharão com mais interesse para o Ultra. O Galaxy Watch8 Classic aposta, em contrapartida, numa sensação mais premium e numa experiência de navegação diferenciada.
Mas onde o relógio realmente brilha é no ecrã. A Samsung continua a liderar neste aspeto com um painel luminoso, de cores vibrantes, excelente legibilidade mesmo sob sol direto, já que tem um brilho máximo de 3.000 nits. O contraste é profundo, os mostradores são ricos em informação e, com o modo always-on ativo, o Watch8 Classic mantém sempre aquele ar de “relógio vivo” que cativa à primeira vista, mas que naturalmente sacrifica alguma autonomia.
De realçar, que os smartwatches da Samsung continuam a ser pensados, acima de tudo, para quem já está dentro do ecossistema Galaxy. O Galaxy Watch8 Classic pode ser utilizado com qualquer outro smartphone Android, mas perde algumas das funcionalidades mais avançadas. Funções como Pontuação de Energia, Guia do Sono, Treinador de Corrida, Monitorização da Carga Vascular ou o Índice de Antioxidantes estão reservados a equipamentos Samsung com suporte para o Galaxy AI. Já para utilizadores do iPhone, a resposta é simples: esqueçam. Ainda que Samsung Health exista para iOS, o seu suporte e compatibilidade esta relegado a equipamentos mais antigos, que faz com que o Watch8 Classic fique de fora e seja, atualmente, totalmente incompatível com o ecossistema da Apple.
A boa notícia é que este é um smartwatch com o Wear OS 6 completo, ou seja, temos acesso a Google Maps diretamente no pulso, streaming no YouTube Music, suporte para uma boa parte das aplicações Android na versão wearable e até 64GB de armazenamento interno para guardar playlists, podcasts e aplicações. A integração com o Samsung Wallet também é muito competente, com compatibilidade alargada de cartões e bancos e até com a Gamebox do Sporting Clube de Portugal.
A configuração, no entanto, continua um pouco dividida, com o Wear OS que trata das definições gerais, enquanto o Samsung Health concentra tudo o que é fitness e bem-estar. Juntam-se ainda mostradores variados e personalizáveis, painéis rápidos, ferramentas de segurança como a deteção de queda e gestos curiosos (duplo “pinçar” os dedos, apertar o pulso) para atalhos imediatos.
E como seria de esperar, a inteligência artificial também está bem presente, e durante os meus testes houveram duas funcionalidades que acabaram por se destacar. Primeiro, a forma como o relógio sugere mostradores baseados nos nossos hábitos, que após alguns dias de utilização, detetou que andava frequentemente de bicicleta e propôs-me um painel focado no ciclismo, que desde então se tornou no meu favorito. É um exemplo claro de inteligência artificial aplicada de forma útil e não apenas cosmética. Depois temos a integração do Gemini. Pode ser ativo por voz (“Ok Google”, com o ecrã ligado) ou através do botão superior. Ainda não está totalmente fundido com o Samsung Health, mas já é funcional, e podemos pedir direções no Google Maps, alterar definições rápidas como o volume, mostra o calendário ou a meteorologia, tudo sem ter que retirar o telemóvel do bolso.
Claro que há espaço para evoluir, e muito. Seria fantástico, por exemplo, receber um lembrete quando passamos perto de um supermercado que frequentemos com frequência, mas compreendo que algumas questões de privacidade ainda bloqueiam esse tipo de cenários. Mesmo assim, pedir ao Gemini para nos guiar de imediato quando nos perdemos no meio de um passeio de bicicleta já transmite aquela sensação de “relógio do futuro”.
No que toca ao bem-estar, a Samsung tem investido bastante em sensores cada vez melhores. O Galaxy Watch8 Classic fornece dados de saúde com uma fiabilidade surpreendente para um dispositivo de pulso, embora haja sempre algumas limitações óbvias durante o exercício. Para quem não tem uma condição clínica que exija monitorização médica certificada, os sensores da Samsung são mais do que suficientes para acompanhar parâmetros como frequência cardíaca, temperatura corporal ou padrões de sono. O sensor BioActive recorre a LEDs de diferentes cores para medir os batimentos, saturação de oxigénio no sangue e até níveis de hidratação.
O GPS de dupla banda também funciona muito bem, e estabelece ligação de forma muito rápida. Durante os testes demonstrou que se consegue manter-se estável mesmo em percursos mais exigentes, mesmo em passeios de bicicleta com mais de 40 quilómetros com zonas florestais densas. E no inicio do ano a Samsung anunciou algumas funções experimentais que exploram ainda mais estes sensores, como a possibilidade de medir a carga vascular durante o sono e o índice antioxidante. Eles estão incluídos na área “Labs”, ou seja, são ferramentas em fase de testes, pensadas para consciencialização e não para diagnóstico. São interessantes como conceito mas sem qualquer peso clínico.
A carga vascular é monitorizada enquanto dormimos, quando o sistema cardiovascular deveria estar em repouso. Fatores como stress, má qualidade de sono, esforço físico intenso ou consumo de álcool podem perturbar este equilíbrio, aumentando o risco de problemas cardíacos a longo prazo. O relógio estabelece uma linha de base personalizada e destaca desvios, mas, pessoalmente, continuei a achar mais úteis métricas clássicas como a variabilidade da frequência cardíaca, a frequência em repouso ou a respiratória, dados que obtenho em dispositivos de uma marca concorrente. Outra boa noticia é que a monitorização do sono é uma das áreas onde a Samsung mais evoluiu com a sua nova geração de smartwatches. As métricas são consistentes, claras e cada vez mais detalhadas. Para além da análise das fases do sono e da deteção de apneia do sono, o Watch8 Classic sugere agora horários personalizados de deitar e acordar. Em apenas três dias de acompanhamento, o relógio calcula o défice de sono com base nos nossos hábitos e nível de atividade. É uma abordagem simples, mas inteligente e eficaz, para ajustar a rotina e melhorar o nosso descanso. São pequenos extras como este que tornam os smartwatches da Samsung muito completos e competitivos.
O Samsung Galaxy Watch8 Classic conta com uma bateria de 445mAh, que na teoria promete até 40 horas de autonomia sem o ecrã Always-On ativo, ou cerca de 30 horas com essa funcionalidade ligada. Na prática, porém, estes números ficam aquém das expectativas. Em utilização real, o relógio raramente passou de um dia completo antes de precisar de nova carga. Houve mesmo ocasiões em que acabou por desligar-se no pulso, uma experiência frustrante para quem o utiliza de forma intensiva. A causa disso pode ser o facto da Samsung ter optado por utilizar o Exynos W1000, do ano passado, que não ajuda na eficiência energética, e isso nota-se. Para um dispositivo que custa mais de 529€, as expectativas em termos de autonomia deviam ser bastante mais elevadas, sobretudo num produto que a marca quer posicionar como referência em bem-estar.
A boa notícia é que o carregamento rápido consegue mitigar parte dessa limitação. Uma carga completa leva cerca de 80 minutos, mas bastam 15 minutos na base carregar sensivelmente 25%, o suficiente para monitorizar o sono sem comprometer a métrica de Pontuação Energética. Com 30 minutos de carga, a bateria chega os 45%, garantindo um dia de trabalho inteiro sem grandes preocupações, desde que não seja utilizado de forma intensiva.
O Samsung Galaxy Watch8 Classic tenta justificar o seu elevado preço com uma construção premium, a presença da já icónica moldura giratória, uma autonomia ligeiramente superior à do modelo base (mas ainda baixa) e um conjunto de ferramentas de saúde e bem-estar potenciadas por inteligência artificial. No entanto, mesmo com estas virtudes, apesar de ser um excelente smartwatch, e dos melhores do mercado, continua a ser um relógio caro para aquilo que efetivamente oferece. Quero acreditar que daqui a 2 ou 3 meses, talvez perto do Natal, a Samsung desça o seu preço de venda para algo em torno dos 425€, e se isso acontecer, certamente passará a ser uma das opções mais interessantes do mercado… até lá, é um excelente smartwatch, mas muito caro.
Este produto foi cedido para análise pela Samsung.