Neste 3º dia de Vodafone Paredes de Coura 2025, destacou-se o regresso de King Krule, que recebeu ovações do público festivaleiro.
Em mais um dia rico em escolhas, os portugueses/lusófonos ficaram, como de costume, para as primeiras horas da tarde, com os bem criticados Memória de Peixe e Dino d’Santiago a trazerem as suas sonoridades. Pelo menos este último magicamente recebido, de acordo com relatos locais de confiança.
Cassandra Jenkins faz lembrar muitas vezes os Low (elogio), sempre a soar bem sem deixar os recados de intervenção da praxe de 2025. Folk etérea com destaque para o mais recente My Light, My Destroyer. Música bonita ainda com o sol alto.
Minutos depois, Geordie Greep chega ao anfiteatro em frente ao rio Coura com um relógio a dar as horas por trás dele. Assim será numa atuação em que o antigo membro dos Black Midi (banda sombra do dia, igualmente com conecções aos Black Country, New Road) levou a sua voz inclassificável a um público algo mortiço. Essa moleza de quem se espraia pela colina não afetou o britânico, que dá concerto esforçado no seu jazz rock matemático. Passagem que não ficará marcada a letras douradas, mas competente e demonstrativa da liberdade criativa que tem sido nota forte desta edição do Vodafone Paredes de Coura.
Após o cancelamento à 23ª hora no ano passado, foi a vez dos bar italia (se é apenas referência a um café, ou também a uma bela faixa dos Pulp, seria engraçado de validar) subirem a palco. Finalmente tivemos direito a “Nurse” e o riff hipnótico de “punkt” na voz polida e tranquilizante de Nina Cristante, numa atuação que foi também ela discreta.
O foco das festas do dias ia ser inevitavelmente os Black Country, New Road (BC, NR para os amigos). Aquele que pode ser o sexteto menos habanero do mundo – Tyler Hyde, Lewis Evans, Georgia Ellery, May Kershaw, Charlie Wayne, e Luke Mark – deu uma aula de música em pleno couraíso.
Com o desafio complicado que foi a saída de Isaac Wood, vocalista/guitarrista que marcou indelevelmente os dois primeiros discos do agrupamento, a solução foi um trio vocal feminino que vai rodando conforme as composições.
Há a certa altura uma festa de pop orquestral (“The Big Spin”), há música de câmara (“Besties”), e um desenrolar de troca de instrumentos muito reminiscente de aulas numa escola superior de música – dá sempre estilo passar um arco numa guitarra elétrica. O pináculo chegou com “Forever Howlong”, lição crescente com flautas a ser até à elevação coletiva. Disto não se vê todos os dias, mundos de distância para aquilo que Andre 3000 apresentou no ano passado.
A certa altura, já a caminho do fim, declara-se que a partir daquele momento teríamos “no more sadness” e chegam “Goodbye (Don’t Tell Me)” e “For the Cold Country” para terminar. O agradecimento plácido de “You guys are awesome, wow”, é um mundo de distância dos discursos de Lola Young na noite anterior, mas parece espelhar o mesmo sentimento.
Lambrini Girls são inaudíveis, não por falta de volume mas por pura gritaria e falta de destreza a manter o compasso, com alguns pedidos de retirada aos que não concordam com as suas opiniões. O punk não é bar aberto para tudo, mas espera-se e confia-se que a galera das primeiras filas tenha tido uma experiência intensa.
King Krule faz um regresso em tamanho maior ao Vodafone Paredes de Coura, e dá mais do que o suficiente para receber ovações do povo. Há um fundo vermelho estático, guitarras em barda e, a certa altura, tentam-se alguns malabarismos, como uma guitarra que não passa assim tão bem pelas costas, mas toda essa meia trapalhice acaba por dar origem a ternura por um talentoso autor, desde o início com “Cellular”, à dedicação a Diogo Jota de “Tortoise of Independency”.
A certa altura emite gritos porque sim, enquanto nas últimas filas estendidas nas toalhas estão famílias tranquilamente a jogar às cartas. Dali a pouco um mano está em palco a dançar de forma aleatória. Tudo convive e está bem a ouvir as guitarradas de “Stoned Again”, numa lógica de quem é da casa. E é bastante.
Por último, outras vozes dizem que Mk.Gee cumpriu, e muito bem, a seguir. Fica a nota, e a curiosidade de seguir.