Texto de: João Ribeira; Fotos de: Carlos Mendes
Foi no último dia do passado mês de maio que os The Ocean voltaram a Portugal, depois de cancelamentos, mazelas e uma pandemia mundial lhes terem trocado os planos durante os últimos anos. O RCA ficou quase cheio para os acolher de volta ao nosso país e uma certa sede pós-pandémica podia sentir-se no público que foi enchendo a sala mal as portas da mesma foram abertas.
A abertura das hostilidades ficou a cargo do power trio belga PSYCHONAUT que, apesar da posição de aquecimento no cartaz, deram um concerto de precisão e intensidade absoluta. Apesar do rótulo “post-metal” ser simétrico a todas as bandas da noite, o som mais aberto e de pura fúria rock dos flamengos funcionou a favor dos mesmos na altura de conquistar o público. Após o concerto, o baixista Thomas Michiels comentava com surpresa que “as pessoas acompanhavam as músicas com palmas! E sabiam as letras também!”. E de facto, a malha “The fall of consciousness” já era pedida pelo público antes de ter vindo a fechar a setlist. Claramente o perfil da banda está em crescendo e o bom concerto aliado a recetividade do público só irá ajudar à ascenção do mesmo.
Já os suecos PG.LOST, apesar de não terem dado má conta de si e de terem obtido uma boa receção por parte do público, limitaram-se a não deixar morrer a chama de animação que percorria a assistência. Na verdade, esticaram muitas vezes a paciência dos mesmos com alguma repetitividade e o uso de alguns efeitos de voz verdadeiramente irritantes pelo baixista Kristian Karlsson. Avant-garde ou guinchos cetáceos, quem ouviu que escolha.
E finalmente, após todos os obstáculos, chegou o momento dos The Ocean voltarem aos palcos lusos. Mesmo com o vocalista Loic Rosetti confinado a um lugar sentado e afastado do centro das atenções devido às sua recentes lesões nas pernas, os germânicos são uma banda que sabe onde é o seu habitat natural. E mesmo tendo em conta que, no papel, as longas e entrelaçadas composições que os identificam podem dar a impressão que esse habitat é o estúdio, o contrário é que é a verdade absoluta.
Os The Ocean comandam o palco e a atenção do público com o género de mestria reservado a poucos. E desde o primeiro acorde logo se notou que o público estava do lado deles, tendo assim continuado durante todo o concerto, com singalongs, crowdsurfing e todas as demonstrações de afeto que o regresso de heróis conquistadores merecem. A interpretação elegante e emocional de “Holocene” logo a abrir o encore foi, provavelmente, o ponto alto da noite. Podem voltar sempre que quiserem rapazes. Mas não demorem tanto para a próxima, OK?